Açoriano Oriental
“O Fado é uma linguagem que me apaixona”

O Teatro Micaelense acolhe, amanhã, sábado, pelas 21h30, o concerto de Carminho. A fadista vai apresentar a “Portuguesa”, sexto disco da sua carreira que conta com 14 composições, algumas das quais com letra e música sua

“O Fado é uma linguagem que me apaixona”

Autor: Susete Rodrigues

No próximo sábado regressa aos Açores, nomeadamente ao palco do Teatro Micaelense. O que é que nos vem apresentar desta vez?

Vou apresentar o disco ‘Portuguesa’. Talvez seja a última apresentação do disco destes anos todos de tournée que fizemos. É um disco que, de facto, ao vivo, transformou-se de alguma maneira, mas não deixa de ser sempre a base que reflete a prática do fado como género musical, na procura dos poemas, na procura destas possibilidades múltiplas que acho que o fado tem, nesta procura de novos discursos (...). 

Interessa-me trabalhar essas temáticas, mesmo do ponto de vista de como compor novos fados tradicionais, como escrever novas letras e conjugá-las com os clássicos, e às vezes ir pegar num poema do Pedro Homem de Mello ou do David Mourão Ferreira, e tentar musicar com a linguagem fadista. Tudo isso são práticas naturais dos fadistas (...). De alguma maneira, foi esse exercício que transportei para a ‘Portuguesa’ e vai ter uma sonografia própria. É um disco que me fez muito feliz e tenho sempre muito prazer em apresentá-lo.

Também assumiu a produção deste disco. Como é que foi essa experiência?

Acho que torna-se algo inevitável fazê-lo. O disco ‘Maria’ já vinha com estas ideias de estúdio, aquilo que estou a trabalhar no fado também passa por um cruzamento, não só da parte lírica, da questão dos poemas e do reportório, mas também do formalismo no estúdio. Como é que a música vai apresentar-se em estúdio, como é que vou gravar e como é que cada fado se traduz musicalmente.

Estou sempre à procura da emoção do fado. Onde é que está o fado? Essa é a minha busca. Fazendo experiências de lugares que sinto que podem continuar a manter essa energia, mas com novas texturas, novos sons. Essas experiências não têm a pretensão de mudar o fado, mas gosto de me desafiar (...).

A ‘Portuguesa’ é o seu sexto disco, lançado em 2023. Entre o primeiro álbum -’Fado’ 2009 - e este último, consegue-se perceber uma evolução no seu trabalho, mas nunca perdendo a identidade do Fado?

Tenho sempre em vista esse fito. Acho que quando estabelecemos critérios, de alguma maneira persistentes, eles depois ficam sempre presentes. Estou sempre a trabalhar o Fado, o que gosto mesmo é de cantar Fado e é uma linguagem que me apaixona, que me motiva, que continua sempre a desafiar-me, nunca se esgota. Todas as experiências que faço, só as permito quando elas não atravessam aquilo que são os limites que estabeleci sobre o que penso que é a minha tradução do Fado.

Já pisou vários palco por este mundo fora e também já partilhou os palcos com vários artistas. Como é que é partilhar o palco com artistas como de Caetano Veloso, Barbara Bandeira, por exemplo?

É a criação de um novo mundo. Acho que quando dois artistas se juntam há um terceiro mundo que nasce, porque são duas identidades que ao se juntarem, criam algo que não existia antes. Ao mesmo tempo, também posso dizer que tenho aprendido muito sobre a música, sobre mim mesma como artista, como pessoa, por partilhar estas experiências com artistas tão diversos como o Chico Buarque e a Bárbara Bandeira. São gerações tão distintas (...).

O trabalho da Carminho tem sido reconhecido, tanto a nível nacional como internacional, inclusive o disco ‘Portuguesa’ foi nomeado para um Grammy Latino . O que é que significa para si as nomeações, o reconhecimento?

A questão da visibilidade faz com que mais pessoas vejam e procurem o meu trabalho ou o Fado, em geral, e outros artistas que estão do meu lado. E isso é bom. Em particular, é um momento de reconhecimento, é um momento de motivação, são marcos num tempo. Não definem muito o que é que vai ser no futuro, porque o que te levou ali foi o teu trabalho e o que te faz continuar dali para a frente continua a ser o teu trabalho.

Já atuou várias vezes nos Açores e em diferentes salas. Que opinião é que tem do público açoriano?

É um público muito interessado, maravilhoso e ávido. Na minha opinião, como não têm acesso imediato a toda a programação como no Continente, isso faz com que as pessoas se dediquem ainda mais aos artistas, procurem mais as salas e sejam fiéis. Por outro lado, quero dizer que tenho um amor profundo pelos Açores, porque a primeira viagem de avião da minha vida, com os meus pais, foi a São Miguel. Fiz os meus 18 anos ai, então é um lugar que já visitei muitas mais vezes e gosto muito de regressar aos Açores.







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