Autor: Lusa/AO Online
Tânia Abreu, 44 anos, é professora do primeiro ciclo. Já é o oitavo ano que está a lecionar na ilha Terceira, nos Açores.
Veio do continente com o filho para o arquipélago açoriano e viu-se este ano "obrigada" a procurar casa após ser informada, com os três meses de antecedência legais, de que teria de mudar de habitação, enfrentando “uma situação complicada” para alojamento.
“Este ano deparei-me com a situação de mudança de casa. O senhorio avisou-me com três meses de antecedência, estabelecido legalmente. Comecei a procurar outras casas e deparei-me com preços exorbitantes. Não conseguia fazer face à despesa, porque ao contrário do que as pessoas pensam, não ganhamos milhões”, explica à Lusa.
Tânia Abreu vive sozinha com o filho na Terceira e afirma que só conseguiu resolver a situação graças a um colega de arbitragem de natação, que se vai embora da ilha e lhe alugou a casa por um valor "acessível".
“Deparei-me com pessoas a pedirem 900 euros por um T2 e até 1.000 euros ou ainda 1.300 euros. O valor mais baixo era um T0 por 550 euros, mas sem despesas incluídas. São preços exorbitantes. No meu caso não pago casa no continente, senão nem conseguia vir. Mas, há situações de colegas que pagam a sua habitação no continente e outra casa cá [nos Açores]”, lamenta.
A professora recorda que quando se instalou nos Açores as rendas variavam entre “os 400 e 500 euros”, por um T2, “nunca mais do que isso”.
“A minha vida já teve muitas voltas. Não estava a contar com esta situação ocorrida este ano. Deparei-me com muitas dificuldades. E só encontrei uma solução porque apareceu uma luz ao fundo do túnel, fruto do apoio e ajuda do meu colega, porque muito dificilmente iria conseguir arranjar um T2 a um valor que conseguisse pagar”, conta a docente.
Tânia Abreu refere que esta questão é transversal ao continente, onde “a situação é igual ou pior”.
A crise habitacional entre professores deslocados não é exclusiva dos docentes que vêm do continente, sustenta Ricardo Rodrigues, professor de Educação Física, 39 anos.
Ricardo Rodrigues é natural da ilha de São Miguel. Lecionou durante três anos na ilha das Flores e desde há três anos que está na ilha Terceira.
“É um problema arranjar casa a um preço compatível com o meu vencimento de professor”, adianta à Lusa.
A solução passou por partilhar, com três pessoas, casa nas Flores, onde pagava “230 euros por um quarto”.
“Continuo com dificuldades e tenho de aceitar uma casa com condições que não são as ideias, porque ainda estou a pagar o crédito da casa em São Miguel. Estou a adiar projetos pessoais e familiares”, desabafa.
Ricardo Rodrigues afirma que o aumento dos preços do mercado de arrendamento nas ilhas, impulsionado pelo crescimento do turismo, a escassez de oferta e o custo de vida está a tornar insustentável a vida de muitos docentes deslocados.
“É pagar para trabalhar. É mais ou menos isto. O Governo sabe deste problema. Porque não se criam residências para professores?”, questiona.
Carla Vieira, 51 anos, é docente do grupo Português/Inglês, mas este ano vai lecionar na Educação Especial.
É natural de São Miguel, onde lecionou durante 21 anos, no entanto, viu-se “obrigada” a ir para a ilha Terceira, porque “não teve colocação” na sua ilha de residência.
Em São Miguel deixou marido e casa para pagar ao banco.
"Este ano só partilhando casa. Foi o único sítio que consegui arranjar e que conseguia pagar, pois pago casa em São Miguel. A situação é muito grave. E depois queixam-se das baixas fraudulentas. As baixas não são fraudulentas. São o desespero dos professores", aponta.
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