Autor: Maria Andrade
A escalada dos preços da habitação em Angra do Heroísmo está a colocar em causa a permanência de profissionais deslocados na cidade. O alerta é deixado por Tânia Abreu, professora de 44 anos, natural de Valença do Minho, que há sete anos se fixou na Ilha Terceira à procura de estabilidade, em contexto de família monoparental.
“Um T2 sem qualquer despesa incluída e muitas vezes sem contrato de arrendamento pedem entre os 900 e 1300 euros, algo completamente insuportável a nível financeiro para famílias de classe média e monoparentais”, desabafou em entrevista ao Açoriano Oriental.
A docente explica que os valores praticados no mercado local são insuportáveis para quem vive apenas de um salário médio. “A valorização imobiliária, em parte associada ao aumento do turismo e à procura externa, tem gerado um efeito especulativo que se reflete diretamente nos contratos de arrendamento. O resultado é uma discrepância evidente entre o rendimento disponível das famílias terceirenses e os encargos que estas são obrigadas a suportar para garantir uma habitação condigna”, acrescenta.
De acordo com a professora deslocada, o desfasamento entre rendimentos locais e encargos com a habitação está a afetar não só trabalhadores deslocados, mas também jovens em início de carreira, casais que desejam constituir família e idosos com reformas modestas.
“Em muitos casos, a solução passa por deslocar-se para freguesias periféricas, onde os preços ainda se mantêm menos inflacionados, embora à custa de maiores deslocações e perda de proximidade aos serviços centrais”, disse.
A docente considera urgente uma intervenção das entidades públicas para reequilibrar o mercado. Defende medidas como incentivos à construção e reabilitação de habitação a custos controlados e a criação de mecanismos de regulação que travem práticas abusivas.
“É imperativo assegurar que viver em Angra do Heroísmo não se torne um luxo inacessível para os próprios angrenses e outros que optem por fazer de Angra a sua casa”, afirmou.
Perante este cenário, Tânia Abreu sublinha que a habitação deve ser entendida como um direito fundamental e não como um bem de luxo, apelando a uma resposta célere e eficaz que permita devolver dignidade e estabilidade às famílias que vivem e trabalham em Angra do Heroísmo, sob pena de a cidade perder a sua vitalidade social e económica.