Açoriano Oriental
Novo filme de Tiago Pereira
Chamarrita dos Açores é rock n'roll no novo filme de Tiago Pereira
A chamarrita, um baile tradicional dos Açores, é a protagonista do documentário "Não me importava morrer se houvesse guitarras no céu", no qual o realizador Tiago Pereira se debruça sobre o "rock n´roll absoluto da música tradicional".
Chamarrita dos Açores é rock n'roll no novo filme de Tiago Pereira

Autor: Lusa/AO online

O filme terá antestestreia na quinta-feira no Musicbox, em Lisboa, seguindo depois para o Porto antes da estreia oficial, no final do mês, no Museu de Etnologia, na capital, disse o realizador à agência Lusa.

"Não me importava morrer se houvesse guitarras no céu" é um retrato sobre um baile tradicional das ilhas Pico e Faial, nos Açores, que o realizador Tiago Pereira documentou durante os meses de fevereiro e março.

"Não se consegue ficar indiferente à chamarrita. Parece simples, mas é complexo, tem um poder descomunal e uma energia que o torna o rock n'roll absoluto da música tradicional", disse Tiago Pereira.

A chamarrita inclui um mandador, bailadores, tocadores e cantadores, explicou, e é vista como um baile acústico e não um rancho folclórico.

"Aquilo mexe com as pessoas, que passam a semana a trabalhar e, no fim-de-semana, canalizam as energias para ali. Faz parte deles e é uma coisa que é praticamente desconhecida no continente", referiu.

Tiago Pereira viu várias chamarritas e percebeu a expontaneidade de quem quer dançar só porque sim, seja novo seja velho, acompanhado por uma viola da terra "a rasgar como se fosse do rock".

"Isso fez-me lembrar obviamente a infância e o meu pai [Júlio Pereira], um músico do rock que tocava cavaquinho também a rasgar", disse.

Estas recolhas visuais de Tiago Pereira ficarão com a Direção Regional de Cultura dos Açores, que apoiou financeiramente a produção do documentário, por ter manifestado um interesse arquivista.

"É bom saber que querem documentar uma coisa que é importante e que está viva! A chamarrita representa a vitória do homem sobre a natureza, sobre a ilha e sobre o mar. É uma celebração do estar vivo", sublinhou o realizador.

O título do filme - "Não me importava morrer se houvesse guitarras no céu" - foi retirado de um livro do etnólogo Ernesto Veiga de Oliveira sobre instrumentos musicais.

Tiago Pereira, 39 anos, é possivelmente um dos mais ativos guardadores de memórias da música tradicional portuguesa, autor do projeto A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria e de filmes como "Sinfonia Imaterial", "Quem canta seus males espanta", "Folk-Lore" e "11 burros caem no estômago vazio".

Tudo isto faz parte de um processo que apelida de "alfabetização da memória" em relação ao que é tradicional.

Quando, em 2009, cumpriu dez anos de trabalho nesta área disse à Lusa: "As pessoas são analfabetas em relação a recolher e a terem memória. É preciso ensinar a fazer recolhas, a criar o bicho de recolher as suas coisas em vez de terem vergonha dos sítios onde nasceram e de onde são".

Feito o documentário sobre as chamarritas - que deverá ter várias exibições no continente e uma estreia nos Açores - Tiago Pereira partirá para a Galiza, em Espanha, para fazer A Música Galaico Portuguesa a Gostar Dela Própria.

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