Autor: Lusa
De acordo com o diretor regional de Políticas Marítimas, Rui Martins, a inclusão da ave marinha como bioindicador é um “motivo de orgulho”, já que reconhece o trabalho realizado pela campanha SOS Cagarro, que em 2024 salvou 6.388 animais e recolheu 230 aves mortas.
“Acabámos por recolher cerca de 230 aves que estavam mortas ou vieram a morrer. A essas aves, fazemos [posteriormente] necropsias e uma avaliação do conteúdo gástrico. Esse conteúdo gástrico e o facto de fazermos essa análise há vários anos, permitiu que o cagarro fosse designado como bioindicador para os microplásticos no oceano pela OSPAR [convenção para proteger o ambiente marinho do Atlântico Nordeste]”, realçou hoje Rui Martins à agência Lusa.
Formada em 1972, a Convenção OSPAR tem como objetivo a proteção do meio marinho no atlântico nordeste e junta países como Portugal, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Islândia, Irlanda, Holanda, Noruega, Espanha, Suécia, Reino Unido, Luxemburgo, Suíça, além da União Europeia.
Segundo o diretor regional, o cagarro passa a ser a segunda ave reconhecida como bioindicador no atlântico, juntando-se à espécie fulmar (que permite recolher dados das zonas próximas da Inglaterra à Noruega).
Rui Martins lembra que a campanha de salvamento de cagarros nos Açores acontece quando os animais saem pela primeira vez do ninho, altura em que se alimentam de uma “espécie de papa” feita pelos progenitores.
“Nessa papa encontram-se microplásticos. Se nós, ao longo dos anos, formos fazendo essa avaliação, vai-nos permitir dizer que o oceano tem mais ou menos microplásticos conforme o conteúdo gástrico”, reforçou.
O diretor regional considera que o reconhecimento revela o “sucesso da ciência regional” e o “esforço dos cidadãos” que se envolvem na campanha SOS Cagarro.
A SOS Cagarro nasceu em 1995 a partir de uma iniciativa do cientista Luís Monteiro (1962-1999) com o intuito de preservar aquela ave marinha, dado que 75% da população mundial nidifica nos Açores.
Estima-se que a campanha, que envolve Governo Regional, associações e cidadãos, já tenha salvo mais de 100 mil cagarros nos últimos 30 anos.
A edição deste ano da iniciativa anual começa quarta-feira e decorre até 15 de novembro.
Em julho de 2023, um estudo científico que juntou investigadores de todo o mundo, incluindo da Universidade dos Açores, identificou três aves que nidificam nos Açores, os cagarros, o painho-de-monteiro e o painho-da-madeira, como estando expostas aos riscos do plástico marinho.
Na página do Governo Regional dos Açores na Internet, é referido que o cagarro "pertence a um grupo formado por diversas espécies de aves marinhas (Procellariiformes) que inclui os albatrozes, as pardelas [...] e os painhos”.
“O cagarro é a ave marinha mais característica dos Açores e uma das mais antigas que existem no planeta. Os cagarros passam grande parte da sua vida no mar (aves pelágicas), vindo a terra apenas quando chega a altura de reprodução, para fazerem os seus ninhos, acasalarem, incubarem o seu ovo e cuidarem da sua cria", lê-se.