Autor: Nuno Martins Neves
O consórcio Newtour/MSAviation apenas apresentará uma proposta ao júri do concurso de privatização da Azores Airlines se chegar a acordo com os trabalhadores, se o passivo da empresa não for incluído no negócio, e se houver mudança do modelo de negócio. Estas foram as condições referidas por Carlos Tavares, antigo líder da Stellantis e parte integrante do consórcio, em entrevista ao jornal online Observador.
O antigo responsável pelo sexto maior produtor automóvel do mundo considera que a Azores Airlines tem condições para ser rentável, mas alerta que as condições existentes em 2022, quando o processo de privatização se iniciou, e as atuais, são bastante distintas, apontado para uma degradação acentuada da empresa a partir de 2024.
“É importante é explicar as diferenças entre 2022 e 2024. O princípio do processo foi em 2022 e desde 2024, aquilo tem estado a afundar fortemente. O período do Luís Rodrigues foi um período positivo, em que aquilo começou a andar na boa direção. Depois ele foi para a TAP. O que está à vista hoje é que os resultados de 2024 são bem piores que 2022. E estamos perante esta situação a que os ingleses chamam de falling knife, apanhar uma faca que está a cair. Pode cortar a mão. Estamos a tentar, a todo o custo, compreender a que velocidade aquilo está a cair, para poder apanhar a faca. E depois temos de decidir se fazemos proposta ou não”, afirmou ao Observador.
Carlos Tavares diz que a apresentação de uma proposta terá de ser sempre com os trabalhadores e não contra eles, pelo que define como linha vermelha chegar a acordo com os sindicatos.
“Neste momento, o ponto mais delicado é termos um acordo com os sindicatos, nomeadamente o sindicato dos pilotos. (...) Não queremos um negócio da SATA que não se faça com os empregados. (...) Não se pode mudar o modelo de negócio de uma empresa em dificuldade se os empregados não tiverem de acordo. O que quer dizer que se os empregados não quiserem salvar a sua própria empresa, também têm a capacidade, a autoridade, para destruir a sua própria empresa. Têm esse poder”.
Na entrevista ao jornal online, Carlos Tavares estabelece três vertentes que são precisas para “reconstruir”a Azores Airlines: a financeira e a do modelo de negócio.
“Ninguém está interessado na transação da SATA se não houver uma mudança de modelo de negócio que torne a transação credível. E para que essa mudança possa acontecer temos que ter uma mochila que não está carregada de passivo e fazer isso com os empregados”.
Sobre se o passivo será assumido pelo Governo Regional, Tavares remete para o executivo açoriano; sobre o modelo de negócio, entende que a SATA pode ser rentável, apresentando a fórmula. Além do óbvio - operar apenas rotas rentáveis -, o elemento do consórcio aponta custos competitivos, “que não tem hoje”, escolha de rotas de maneira inteligente e “se tiver uma gestão operacional protegida da interferência política”.
Carlos Tavares, que não se vê como CEO da companhia, “mas ser acionista ou presidente do conselho de administração, é possível”, explica ainda o interesse que a Azores Airlines tem.
“É pequena, 400 milhões de receita, 10 aviões, 1,5 milhões de passageiros, um hub em Ponta Delgada. É uma empresa que se pode endireitar, porque tem uma dimensão humana. Os Açores são uma plataforma no meio do oceano Atlântico. Tem uma capacidade estratégica em voar para as Américas e voar para a Europa com aviões single-ailed (modelos com apenas um corredor). É uma plataforma, um porta-aviões no meio do Atlântico. E, portanto, isso tem interesse”.
De recordar que o
júri do concurso, a administração da SATA e a o consórcio
Newtour/MSAviation reúnem-se dia 13 de outubro, segunda-feira, no dia D
da privatização da Azores Airlines.