Autor: Ana Matos Neves/Lusa/AO Online
“Subserviência é uma palavra difícil porque tem diferentes conotações em diferentes línguas. […] O que eu desejo é que a maioria pró-europeia desta casa [Parlamento Europeu] continue a poder trabalhar sem que sejam lançadas acusações a torto e a direito sobre quem está a aliar-se à extrema-direita, é esse o meu desejo”, afirmou a líder da assembleia europeia.
Em entrevista à Lusa e outras agências europeias no âmbito do projeto Redação Europeia (European Newsroom, na sigla inglesa), à margem da sessão plenária na cidade francesa de Estrasburgo, Roberta Metsola admitiu que “haverá, no entanto, situações em que isso não será possível”.
“Mas temos de avançar [porque] eu não posso encarar os meus eleitores em 2029 e dizer-lhes que não avançámos com isto ou aquilo porque não tivemos vontade de encontrar maiorias ou pior ainda, passámos anos a atribuir as culpas uns aos outros”, referiu.
Roberta Metsola exemplificou que, na anterior legislatura, foram necessários os votos dos Conservadores e Reformistas Europeus para dar ‘luz verde’ a algumas partes do Pacto em matéria de Asilo e Migração.
“Isso foi subserviência à extrema-direita? Precisávamos de um pacto de asilo e migração para avançar”, indicou.
Apesar de salientar o “entusiasmo e vontade de trabalhar” dos eurodeputados, a presidente do Parlamento Europeu admitiu que “nunca se conseguirá ter toda a gente a bordo e haverá sempre também grandes questões nacionais, que são transversais e específicas”.
“Sim, as dinâmicas mudaram e sim, existem várias maiorias viáveis, mas eu continuo a ter esperança de que a maioria pró-europeia no centro possa continuar a encontrar uma forma de trabalhar em conjunto”, adiantou Roberta Metsola.
Ainda assim, admitiu ser “uma preocupação constante” alcançar maiorias para passar os dossiês.
Após as eleições europeias de 2024, e segundo a configuração atual, o Parlamento Europeu tem 720 eurodeputados, a maioria dos quais (188) do Partido Popular Europeu, o partido mais votado, seguindo-se os Socialistas e Democratas (136) e a extrema-direita dos Patriotas (84).
Seguem-se os Conservadores e Reformistas Europeus (78 lugares) e o grupo liberal Renovar a Europa (77).
Os Verdes/Aliança Livre Europeia têm 53 assentos, a Esquerda Europeia tem 46 e a extrema-direita da Europa das Nações Soberanas tem 25, sendo os restantes (32) deputados não inscritos (independentes ou sem grupo).
A entrevista ocorreu na véspera de a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, proferir o seu discurso anual sobre o Estado da União, na sessão plenária em Estrasburgo.
Ursula von der Leyen (de centro-direita) iniciou, em dezembro passado, o seu segundo mandato na liderança do executivo comunitário e vai, na quarta-feira, proferir o seu primeiro discurso sobre o Estado da União da nova legislatura e o quinto, ao todo, do seu percurso europeu.