Açoriano Oriental
“A minha inspiração é o que está à minha volta, é o mar dos Açores, são estas ilhas”

Bruno Rosa. O gosto pela música surge quando ainda era criança por influência de familiares que tocavam na filarmónica. Deixa o Pico para ir estudar no continente. Ficou em Aveiro oito anos, onde aprofundou o seu conhecimento e gosto pela música. As saudades da família, dos amigos e da ilha ditaram o regresso


“A minha inspiração é o que está à minha volta, é o mar dos Açores, são estas ilhas”

Autor: Susete Rodrigues

Foi nas Lajes do Pico que Bruno Rosa nasceu e passou toda a sua infância e adolescência. Desta altura, o geógrafo e cantautor, tem as melhores recordações, como as de “andar na rocha no verão, correr de um lado para o outro, dar mergulhos, aproveitar o sol, roubar melancias em casa dos avós dos amigos”, conta-nos com boa disposição, acrescentando que foi “uma infância um pouco rebelde em alguns aspetos, porque era mais livre, não havia internet, não havia grandes canais de televisão - muito tempo passado na rua a saltar muros, a construir cabanas”. 

O gosto pela música surge também nesta altura e vem de família. “Desde o meu avô, os meus tios e os meus primos tocavam na filarmónica, o meu pai também foi músico de filarmónica. Como no Pico não havia conservatório e queria aprender música, então fui para o folclore e para a filarmónica para aprender música”, afirma, sublinhando que “começou por aí este bichinho pela música, ainda não a cantar, mas a aprender as bases”. 

Tal como tantos outros jovens açorianos, Bruno Rosa deixou a sua ilha para ingressar na universidade - neste caso foi para Aveiro. Conta que para, além de estudar, ainda viveu lá oito anos. Foi uma separação prolongada da ilha, das minhas raízes, mas que começou a doer um pouco”, confessa. Contundo, foi também em Aveiro que “comecei a aprofundar mais esta minha ligação com a música porque comecei a ver outros mundos, a ouvir outras coisas, entrei numa tuna e comecei a compor, principalmente, instrumentalmente, o chamado post-rock”. 

Influenciado por alguns amigos, “comecei a escrever algumas letras, coisas muito rudimentares em inglês, mas que depois foram evoluindo e fui trabalhando essa parte. Junto com amigos, comecei a tocar em algumas bandas e foi então que se desenvolveu um pouco mais essa parte criativa associada à música, não só a interpretar a música dos outros, mas a criar”.

Ao fim de oito anos decide regressar aos Açores, “como disse, já estava a doer um pouco esta ausência da ilha, já estava numa fase, ali entre os 20 e os 30 anos, que estava com dúvidas se queria continuar ou não a viver longe da família e dos amigos”. Assim, de um dia para o outro, “decidi que ia voltar para a ilha e que ia voltar a conectar-me com a minha família, com os meus amigos, com as minhas raízes. Voltei para o Pico num verão e foi uma ocasião muito boa para me ambientar novamente à ilha, porque os invernos são mais difíceis”.

No que diz respeito a projetos musicais, Bruno Rosa explica que o seu  primeiro álbum, foi “totalmente instrumental, caseiro, na altura usava um pseudónimo ‘Prozac Camel’. 

Nesta altura comecei a explorar, a entrar na música exploratória”. Mais tarde, fruto desse projeto “comecei a escrever letras e adotei, então, o meu nome, como o meu projeto a solo. Desde então, Bruno Rosa lançou um álbum em 2019, ‘No Mar’”, em 2020 lançou alguns singles - foi “durante a Covid porque tinha mais tempo para pensar e para refletir sobre as coisas”. Atualmente está a preparar um novo álbum, que “tencionamos gravar e lançar ainda este ano, vai chamar-se ‘Novo Porto’”. Alguns temas deste projeto já foram apresentados na abertura do Festival Música no Forte, na ilha do Pico. 

Para além de cantar a solo, Bruno Rosa faz parte do Ronda das Nove, um “grupo que divulga a música tradicional açoriana. Já tem quase 30 anos e faço parte desta atual composição. Tem sido uma experiência fantástica, porque é sempre bom partilhar um palco com outros músicos, trabalhar na nossa música açoriana, na nossa música portuguesa”. Também faz parte, como vocalista, da Orquestra de Música Ligeira da Câmara Municipal da Horta, na ilha do Faial, local onde reside. Afirma que “tem sido outra experiência fantástica. Fui parar lá por acaso porque fui convidado, há um par de anos, para fazer um projeto muito interessante, que foi o musical Capelinhos, através da Sara Miguel, com convite do Filipe Fonseca, foi este projeto que me pôs em contacto com a Orquestra”.

O mar e a natureza são a sua fonte de inspiração, “posso dizer que no primeiro álbum, a minha inspiração foi mesmo o meu regresso à ilha, foi o Pico, foi o mar, foi as dores de crescimento”, confessou. O novo trabalho “teve a ver com a minha mudança de vida, a minha mudança para outros ambientes. Portanto, a minha inspiração é o que está à minha volta, é o mar dos Açores, são estas ilhas”.

Bruno Rosa já pisou diversos palcos, todos diferentes e todos com a sua história. Conta que “é sempre bom pisar um novo palco e ter outras experiências. Um dos mais engraçados e que me recordo, foi fazer um concerto na Gruta das Torres (Madalena), no interior da terra. Foi uma das experiências mais incríveis que já tive num concerto. O silêncio dentro de uma gruta é total, a escuridão é total. Nós é que fazemos o ambiente e tocar no interior do basalto, sentir a energia da terra e sentir cada respirar do público, foi incrível”.

Por outro lado, confessa que é sempre bom quando se toca na “nossa própria terra e o Música no Forte foi incrível porque é um local incrível - Forte de Santa Catarina - é na chamada ‘hora mágica’, ou seja, no pôr do sol, com um público muito agradável, pois estamos no pico do verão e o turismo anda cá em força”. Portanto, “tive um público muito diverso e foi bom perceber que a música ultrapassa a barreira linguística, muita gente estava lá e não percebia o que estava a cantar, mas sentia aquilo que estava a cantar e aquilo que estávamos a tocar. Isso é muito importante, fazer com que as pessoas sintam algo com a minha música”. 

Bruno Rosa é geógrafo: “trabalho como técnico superior na Universidade dos Açores, em projetos sobre alterações climáticas e vulnerabilidade costeira. A bem dizer, é o que me possibilita fazer esta minha paixão, a música. Não é que a minha profissão não seja uma paixão, também é. Dá para conjugar as duas e até alimentar uma na outra, porque o que faço também é um pouco criativo. Na investigação também é preciso ser criativo”. 

Sobre a música açoriana, Bruno Rosa frisa que “está com muito boa saúde, com muitos artistas novos a surgir, muitos músicos a dar cartas também fora dos Açores, a transcender este espaço insular, como por exemplo, o Cristóvão, o Romeu Bairros, a Sara Cruz, a Isabel Mesquita em Santa Maria, os Mar&Ilhas no Pico. Portanto, coisas incríveis estão a acontecer e a música açoriana está com um folgo renovador”. Ressalva que “as pessoas é que, às vezes, podem andar desatentas, mas sempre se fez muito boa música nos Açores. Sempre tivemos muito boa cultura nos Açores”. 

Gostava de gravar nos estúdios de Albert Road. Será um sonho impossível? Responde-nos que “não sei, não sei... Tem muitas variáveis...”. Até que chegue a este dia, Bruno Rosa vai trabalhando nos seus projetos e na sua agenda, nomeadamente nos “clássicos da Disney com a Orquestra de Música Ligeira da Câmara Municipal da Horta que será apresentado a 18 de outubro, no Teatro Faialense. 

A finalizar, o cantautor lembra que a “cultura açoriana é tão rica, tão diversa, e deixa-me feliz que vários músicos estejam a sair por esse mundo fora e a expandir os horizontes das pessoas. Porque nós, açorianos, sempre fomos um povo muito culto, apesar do nosso isolamento e acho que as pessoas só ganham em ouvir e ver o que fazemos”.

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