Açoriano Oriental
Fenprof aponta paradoxo no estudo que coloca docentes com salário acima da média

A Fenprof considera falacioso o estudo da OCDE que indica que os professores portugueses ganham mais do que a média dos trabalhadores com formação superior, porque se assim fosse as escolas não teriam falta de docentes


Fenprof aponta paradoxo no estudo que coloca docentes com salário acima da média

Autor: Lusa/AO Online

“Em Portugal, os salários dos professores do ensino primário (equivalente aos 1.º e 2.º ciclos) são 28% superiores aos dos trabalhadores com formação superior”, refere o relatório “Education at a Glance 2025”, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), colocando Portugal como um dos poucos países analisados em que os professores ganham, em média, mais do que outros diplomados do ensino superior.

“Evidentemente que há aqui um paradoxo. Se os professores ganham acima da média do que ganham noutras profissões, então deveríamos acreditar que vem tudo a correr para aqui, mas a realidade é outra”, lembrou José Feliciano Costa, um dos secretários-gerais da Federação Nacional dos Professores.

O professor lembrou que os professores que hoje estão nas escolas são “um corpo docente envelhecido” que viu o salário aumentar com a recente recuperação do tempo de serviço.

O estudo da OCDE reconhece esta realidade, sublinhando que a maioria dos professores (56%) tinha mais de 50 anos em 2023 e, por isso, uma grande parte “pode estar mais próxima do topo da carreira”.

De acordo com os dados da OCDE, em 2024, um professor ganhava cerca de 50.083 euros anuais, num cenário em que o salário no topo da carreira rondava os 74.378 euros e cerca de 35.178 euros no início da carreira.

Feliciano Costa lembra que a estes salários é preciso subtrair o dinheiro gasto em deslocações diárias ou em rendas de casa. Aos custos de ficar colocado longe de casa somam-se outros problemas, como “a sobrecarga horária e tudo isso deveria ser analisado no bolo”, disse, lembrando que as carreiras de professores “continuam a não ser atraentes, senão as pessoas viriam”.

A análise feita pela OCDE mostra que os professores perderam poder de compra na última década e a carreira tornou-se, em particular, menos atrativa para os que estão a começar.

No ano passado, o salário real de um professor com 15 anos de experiência tinha caído 4% em relação a 2015, mas a diferença é maior entre os docentes no início da carreira, cujo poder de compra diminuiu 10% em nove anos.

Por outro lado, num contexto em que o salário médio de um professor aumentou 14,6% no mesmo período na média dos países da OCDE, em Portugal diminuiu 1,8%.

No relatório hoje divulgado, a OCDE volta a chamar à atenção para a crescente falta de professores, um problema comum na maioria dos estados-membros e ao qual Portugal não é exceção.

“Foi o próprio ministro que lembrou que nos últimos 15 a 20 anos cerca de 20 mil professores abandonaram a profissão. Há uma falta de professores que se vai agravando de ano para ano e o recurso passa por pessoas não qualificadas que aparecem na contratação de escola”, lamentou o responsável da Fenprof.

Em oito anos, quadruplicou a contratação de professores com habilitação própria, ou seja, docentes que têm formação na área científica das disciplinas mas não têm habilitação profissional, conferida por mestrados em ensino.

Entre 2014/2015 e 2022/2023, a percentagem de docentes sem habilitação profissional passou de 1,6% para 6,5%, segundo dados da OCDE, que recomendam a valorização da carreira e dos salários dos professores para fazer face à falta de profissionais. Volta agora a insistir: “Salários competitivos podem tornar a profissão docente mais atrativa”.


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