Açoriano Oriental
Arqueologia
Descobertos destroços da fragata "L'astrée"
Uma equipa de investigadores da Direcção Regional da Cultura (DRCAç) dos Açores localizou, pela primeira vez, os destroços da fragata francesa “L'ástrée” que afundou junto de Santo Amaro do Pico, a 29 de Janeiro 1796.
Descobertos destroços da fragata "L'astrée"

Autor: João Aranda e Silva, Lusa/AO online
    Catarina Garcia, arqueóloga da DRCAç, disse à Agência Lusa que “a fragata encontra-se a oito metros de profundidade numa zona de orografia difícil com rochedos e abismos próximos que vão a mais de cinquenta metros de profundidade”.

    “É um sítio difícil e até mesmo assustador o que leva agora a compreender porque foi difícil encontrar os vestígios do naufrágio”, explicou a arqueóloga.

    No acervo da Biblioteca Publica de Angra do Heroísmo, encontra-se uma carta do Juiz de Fora da Ilha do Pico que dá conta da ocorrência sublinhando que “naufragou na Costa do Norte desta Ilha, junto a hum lugar chamado de Santo Amaro, do termo desta Villa, huma Fragata Franceza denominada Astrea”.

    “Vinha da Ilha Guadelupe, para França, carregada de asucar, e café da Convençaõ, trazendo 18 peças d’ artilharia de guarniçaõ, e 180 pessoas”, específica a correspondência.

    O Juiz, Luiz Correia Teixeira Bragança, faz o balanço do desastre, especificando que “de toda aquella gente somente se salvaraõ 57 pessoas; a saber 7 Inglezes (de 12 que vinhaõ na Fragata como prizioneiros de guerra), e 50 Francezes, tudo Marinheiros, e alguns officiais de manobra, morrendo 123”.

    O magistrado explica mesmo as providências que tomou sublinhando que foi logo ordenar "enterrar os mortos, por evitar algum contagio e depois de dár as providencias, que me pareseraõ necessarias, para se pôr a salvo tudo aquillo, que pudese sahir; recolhime para esta Villa”.

    A situação na ilha do Pico, naquela altura, não era a melhor uma vez que “por espaço de des dias, que aqui se demoraraõ, trateios com homanidade, sem os meter em prizaõ e ainda que o quisesse fazer naõ há nesta Villa cadeas, porque se demoliraõ, (palavra ilegível) inteiramente”.

    Além disso, a ilha tinha falta de alimentos dizendo o juiz de fora que “contribuilhe o seu necessario sustento, quazi tudo á minha custa, athe emfim vendo que elles naõ podiaõ subsestir nesta Ilha, pela falta que há nella dos generos da primeira necessidade estive para os remeter para essa Capital”.

    É ainda o relato do juiz, acompanhado do seu escrivão, Joaquim José da Rosa, que constataram que “a Fragata se tinha feito em pedaços e que o mar (por ser neste Sitio o tempo muito tromentoso) logo levou consigo a mayor parte da dita Fragata deixando unicamente hum grande monte de Cabos e algumas vellas envoltas com huns bocados de mastros”.

    São estes vestígios que agora foram localizados e vão ser inventariados pelos investigadores da Direcção Regional da Cultura.

    As acções dos investigadores têm por objectivo a continuada elaboração da Carta Arqueológica Subaquática dos Açores (CASA).

    Os trabalhos, coordenados cientificamente pela DRCAç, têm o apoio técnico, desde 2006, da fundação Rebikoff-Niggeler, com quem foi estabelecido um protocolo para pesquisas na costa sul da Ilha Terceira e que este ano se estendeu às ilhas do Pico e Faial.

    No âmbito das pesquisas a equipa de investigação esteve igualmente junto do local (costa da Madalena-Pico) onde se afundou o navio “Caroline” (1901) que controlava o mercado europeu de adubos.

    Catarina Garcia revelou que “este local tem potencialidades de vir a ser um parque arqueológico” uma vez que possui “uma enorme diversidade de vestígios em ferros numa área de cerca de 50 metros, em águas cristalinas”.

    “Vai ser efectuado um levantamento mais profundo e elaborado um mapa que sirva para o turismo arqueológico subaquático”, disse a investigadora.

    Também entre os locais de Porto Pim e Praia do Almoxarife, na ilha do Faial, foram localizadas, a 40 e 50 metros de profundidade, diversas âncoras e locais de naufrágio, que vão agora ser estudados para a sua identificação.
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