Autor: Lusa/AO Online
"A Terra já não pode sustentar o modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis que prevaleceu nos últimos 200 anos", afirmou Luiz Inácio Lula da Silva numa sessão sobre transição energética no segundo e último dia da cimeira de líderes em Belém, um prelúdio para a 30.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP30) que começa na segunda-feira.
Dois anos depois da adoção na COP28, no Dubai, pela primeira vez de um compromisso geral para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, o tema não está explicitamente na agenda da COP30 mas foi trazido hoje pelo Presidente do Brasil, país que está entre os 10 maiores produtores de petróleo do mundo e que autorizou recentemente a prospeção de petróleo perto da foz do Amazonas.
Numa entrevista na terça-feira, questionado pela Lusa, Lula da Silva disse que o mundo ainda não está capaz de abandonar os combustíveis fósseis.
Hoje, o Presidente brasileiro afirmou que "uma eliminação gradual justa, ordenada e equitativa dos combustíveis fósseis exige o acesso à tecnologia e ao financiamento para os países do Sul Global".
Lula da Silva disse que o Brasil iria criar um fundo para financiar a transição energética e promover a “justiça climática”, que será financiado com “parte dos lucros da exploração petrolífera”.
“O mundo precisa de um roteiro claro para acabar com esta dependência dos combustíveis fósseis”, disse na sessão em que participaram vários líderes mundiais, entre eles o secretário-geral da ONU, António Guterres. Lula da Silva não deu mais detalhes sobre o calendário de implementação do fundo nem se os fundos virão da empresa estatal Petrobras ou de todo o setor.
Segundo o chefe de Estado, “direcionar uma parte dos lucros da produção de petróleo para a transição energética continua a ser um caminho viável para os países em desenvolvimento”.
É este o argumento que Lula da Silva utiliza quando os seus críticos, sobretudo ambientalistas e organizações indígenas, o acusam de apoiar o projeto de exploração de petróleo recentemente lançado na costa da Amazónia.
Na entrevista, questionado pela Lusa, já tinha recusado assumir o papel da liderança ambiental e disse que seria incoerente da sua da parte impedir a prospeção de petróleo perto da Foz do Amazonas.
“Seria incoerente se eu, num ato de irresponsabilidade dissesse: Bom, nós não vamos utilizar mais petróleo”, frisou, referindo-se à autorização dada à Petrobras para prospeção de petróleo ao largo da Amazónia.
Ainda em resposta à Lusa, Lula da Silva reforçou que o mundo ainda não está capaz de abandonar os combustíveis fósseis e que poucos países estão mais próximos de conseguir isso do que o Brasil.
A Petrobras anunciou na quinta-feira que registou um lucro líquido de 32,705 mil milhões de reais no terceiro trimestre (5,3 mil milhões de euros), um aumento de 22,7% face ao segundo trimestre.
Desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2023, Lula da Silva designou a Petrobras como "motor" do crescimento do país.