Autor: Lusa/AO Online
Em seu entender, as residências universitárias “devem ser olhadas como espaços de integração dos estudantes do ensino superior”.
“E, aliás, se nós fizermos isso, nós daremos um passo muito grande, até, do ponto de vista da mobilidade social” e, por isso, “o contexto socioeconómico dos estudantes que vêm não é uma marca. Isto tem que se perder”, considerou.
Em Portugal, segundo o ministro da Educação, “continua a existir, infelizmente, essa ideia e não podemos olhar para as residências como os espaços onde os estudantes pobres, se quiserem, são acolhidos”.
“Isso é uma visão quase do século XIX, que infelizmente ainda subsiste em Portugal. Estes espaços têm que ser espaços de integração e também de sucesso, de contribuição para o sucesso escolar”, defendeu.
A nova residência estudantil da Federação Académica do Porto (FAP), inserida num andar do Instituto Profissional do Terço, Instituição Particular de Solidariedade Social, custou 150 mil euros que foram pagos com receitas da Queima das Fitas e vai abrir portas na quinta-feira, na Praça do Marquês, a 24 estudantes bolseiros.
A nova residência vai ter os quartos divididos em duas alas - uma para raparigas e outra para rapazes - e visa colmatar aquele que é considerado o maior problema que os estudantes do ensino universitário enfrentam: a crise no alojamento estudantil.
Esta é a segunda residência estudantil da FAP, a primeira foi inaugurada em 2023 junto da Estação de São Bento, na Baixa do Porto.
Na cerimónia de inauguração, que não contou com a presença do reitor da Universidade do Porto, o ministro da Educação disse esperar que a FAP e as IPSS continuem a ter iniciativas deste tipo, “não para substituir o papel central do Estado na resposta a estes problemas, mas para o complementar, até porque muitas vezes estas experiências são inovadoras”.
“Eu fui sempre um defensor em todas as áreas do ensino público do setor social e solidário, precisamente quando temos essa diversidade nós temos mais inovação”, disse.
Defendeu que “todas as instituições portuguesas têm que olhar para este tipo de iniciativas e replicá-las, porque só assim é que se consegue que o acesso ao ensino superior seja feito em igualdade de oportunidades, e só quando isso acontecer é que teremos uma verdadeira democracia”.
Fernando Alexandre sublinhou que “não se trata apenas de um esforço financeiro, é um esforço também do ponto de vista da integração e do desenvolvimento, que depois, obviamente, reunindo-se as condições para que seja bem-sucedido, nos vai beneficiar. É que é muito diferente, e nós sabemos isso pelos indicadores de sucesso escolar, estudar próximo ou estudar longe da residência”.
“Alguém que se desloca tem logo um conjunto de desafios, para além dos económicos, e também gostava de enfatizar essa dimensão, para ter sucesso na frequência do ensino superior. Alguém que deixa a sua família com 18 anos, 19 anos, obviamente vai ter um conjunto de desafios maiores, e a obrigação das instituições é terem estruturas de acolhimento e de integração”, frisou.
Segundo o ministro da Educação, “ainda há pouca sensibilidade para a integração dos estudantes deslocados”.
“Há sensibilidade para os estudantes deslocados com dificuldades financeiras, mas aquilo de que eu estou a falar é um problema mais amplo e essencial que é a integração de alguém que se desloca, que sai do seu núcleo familiar, onde viveu toda a vida para ir para uma cidade completamente diferente estudar”, vincou.
Numa altura em que “ainda temos uma resposta muito insuficiente para as necessidades do ponto de vista da capacidade de alojamento, obviamente, temos que dar prioridade aos alunos que têm mais dificuldades financeiras, mas este tipo de infraestruturas são essenciais para a integração dos alunos do primeiro ano, independentemente da sua situação económica”, acrescentou.
A média do custo dos quartos no Porto, segundo o Observatório de Alojamento Estudantil, é de 400 euros.
As novas 24 camas desta segunda residência são dirigidas para estudantes reencaminhados pelos Serviços de Ação Social. Os estudantes recebem o complemento de alojamento e fica gratuito estudar no ensino superior se ficarem alojados na Academia 24 do Marquês.
O Plano Nacional de Alojamento para o Ensino Superior tem incluído a recuperação de algumas residências e algumas delas estão encerradas.
Ou seja, segundo dados oficiais, a oferta prática é menor do que em 2018 e a execução do plano está a 13%, a pouco mais de um ano do termo dos prazos do Plano de Recuperação e Resiliência.