Açoriano Oriental
Maré de Agosto: o festival dos encontros, das despedidas e dos sons diferentes

A 41.ª edição do mais antigo festival de música dos Açores e de Portugal, em continuidade, acontece na ilha de Santa Maria entre os dias 20 e 23 de agosto, trazendo os sons do mundo que se tornaram a sua imagem de marca


Autor: Rui Jorge Cabral

O Festival Maré de Agosto, na ilha de Santa Maria, que este ano acontece entre 20 a 23 de agosto, vai para a sua 41.ª edição. E não é por acaso que este festival se tornou ao longo dos anos o mais antigo dos Açores e de Portugal, em continuidade. 

Porque o que se passa em Santa Maria, na Maré de Agosto, é algo de especial e irrepetível. Em declarações ao Açoriano Oriental, o presidente da Associação Cultural Maré de Agosto,  Rui Parece Baptista, afirma que a ‘Maré’, como é conhecido o festival, “sempre foi um ponto de encontro regional dos amigos. É aqui que a gente encontra os amigos da Terceira, do Faial, de São Jorge, das ilhas todas, que vêm à Maré de Agosto. É aqui o reencontro”.

Mas o festival Maré de Agosto é também um festival de despedida das ilhas para muitos jovens que, aos 18 anos, se preparam para prosseguir estudos noutras paragens e que vivem a Maré de Agosto como “um ponto de despedida para a vida, para a sua futura vida profissional. E este sentimento “nota-se perfeitamente na nossa juventude mariense”, afirma Rui Parece Baptista. 

O Festival Maré de Agosto ganhou também a sua imagem de marca pelos sons do mundo que todos os anos traz a Santa Maria, a chamada ‘World Music’.

Uma opção que começa nos primórdios do festival, recorda Rui Parece Baptista, que “foi criado com este conceito de trazer bandas diferentes e sons diferentes que não eram ouvidos nos Açores”,  como o jazz, o blues, o folk, que se misturavam com o rock,  a música tradicional portuguesa ou o fado.

Com o tempo, começam também a aparecer outros festivais nos Açores, com um cartaz mais comercial e “nós passámos aqui uma pequena travessia no deserto”, lembra o presidente da Associação Cultural Maré de Agosto, “porque os nossos festivaleiros também tinham essa necessidade de ir a festivais comerciais”.

Uma travessia no deserto “assumida” pela Maré de Agosto. “Mantivemos a nossa linha e nunca nos desviámos disso”, garante o presidente da Associação Cultural Maré de Agosto, o que fez com que “retomássemos lentamente nos últimos anos o nosso público, que vem à Maré de Agosto precisamente por ser um festival alternativo ao que existe nos Açores, onde se pode encontrar outras sonoridades”. 

Rui Parece Baptista salienta ainda que os nossos cartazes “são sempre, ou quase sempre, com bandas que normalmente não são vistas nos Açores e nem são vistas em Portugal, e isso também marca muito aqui o festival”.

Isto porque, o festival Maré de Agosto, ao longo de 41 anos, habituou os festivaleiros a irem a Santa Maria sem se preocuparem sequer com os nomes em cartaz, “porque é garantido que vai haver bom som e que vai haver bandas de quem nós vamos gostar, apesar de não as conhecermos”, garante Rui Parece Baptista. 

O cartaz do festival

Este ano e conforme refere a Associação Cultural Maré de Agosto em nota de imprensa, a estreia do ‘Palco Terra’ na Almagreira marca “uma nova era do festival”, sendo este “um espaço ecológico e inovador”, um novo palco que “nasce como um tributo à terra e à comunidade local, reforçando o compromisso da organização com a sustentabilidade ambiental e a descentralização cultural”.

A estreia do ‘Palco Terra’ está marcada para o dia 20 de agosto, com um concerto intimista por Cristóvam, um cantor e compositor açoriano com projeção nacional e internacional.
Relativamente aos tradicionais concertos da Praia Formosa, no segundo dia da Maré, 21 de agosto, atuarão os brasileiros Bloco do Caos, que propõem uma explosão de reggae, afrobeat e samba, transformando clássicos em energia pura. Seguem-se os portugueses Bateu Matou, um ‘supergrupo’ de percussão e eletrónica, terminando o dia DJ Souza,  “o mais internacional dos DJs açorianos”, refere a organização do festival Maré de Agosto em nota de imprensa. 

No terceiro dia do festival, 22 de agosto, atuam os portugueses Macacos do Chinês, que regressam a Santa Maria após 15 anos, com a sua fusão criativa de estilos. Segue-se o alemão Patrice, um dos nomes maiores do reggae europeu contemporâneo, terminando o dia com a DJ Mari Ferrari, que já atuou em mais de 70 países.

No quarto e último dia do festival, a 23 de agosto, atua a portuguesa Bia Caboz, cuja sonoridade funde o fado com a pop e a eletrónica. Segue-se a banda alemã Lychee Lassi, uma banda icónica de Berlim com fusão de hip hop, jazz e funk e os britânicos Ibibio Sound Machine, um dos grupos afro-eletrónicos mais relevantes da atualidade.
E caberá ao português DJ Tecnick encerrar a Maré de Agosto de 2025 com um set eletrónico “explosivo”.

Ainda conforme refere a Associação Cultural Maré de Agosto em nota de imprensa,  a sustentabilidade, a inclusão e a comunidade são três conceitos que marcarão igualmente o festival deste ano, “enquanto espaço de encontro geracional apostando na inclusão social”, com a participação de utentes do CACI da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Porto,  mas também através do desenvolvimento de campanhas contra as dependências do Município de Vila do Porto e da Casa do Povo de Santa Bárbara da Ilha Terceira, reafirmando ainda o festival o seu compromisso “com a ecologia e responsabilidade social através da criação do Palco Terra”.

Em nota de imprensa, é também referido que o festival  Maré de Agosto tem sido possível de realizar graças ao apoio da Câmara Municipal de Vila do Porto, do Governo Regional dos Açores e de vários parceiros privados, a que se junta a colaboração voluntária de mais de 130 pessoas.

“O público gosta deste tipo de música”

Como já foi referido, o festival Maré de Agosto, na ilha de Santa Maria, tem como imagem de marca a World Music - Música do Mundo. Rui Parece Baptista é o atual presidente da Associação Cultural Maré de Agosto, mas já fez parte no passado da direção do festival, da qual saiu há 10 anos, para regressar agora como presidente. 

Questionado sobre se os festivaleiros gostam deste tipo de música, Rui Parece Baptista recua aos primeiros tempos do festival. “O público da Maré gosta particularmente deste tipo de música”, começa por afirmar, uma vez que “este estilo de música que o festival adotou vem das suas raízes”. 

Quando o Festival Maré de Agosto teve a sua primeira edição, em 1984, “este festival começa com artistas açorianos, de Santa Maria e de São Miguel, até porque, dos sócios fundadores, grande parte deles também eram de São Miguel”, recorda Rui Parece Baptista. 

Rapidamente, o festival Maré de Agosto começou a trazer os sons do jazz, em famosas ‘jam sessions’ com vários músicos à mistura e “foi seguindo com essa música que não era habitual ou que não se ouvia nos Açores, juntamente com música tradicional e regional, isto foi desde os primórdios que foi criado este conceito”, recorda o presidente da Associação Cultural Maré de Agosto. 

Ao longo dos anos a organização foi crescendo, o festival foi se consolidando e cada vez mais foi ganhando uma dimensão que ultrapassa as fronteiras dos Açores, com bastantes artistas nacionais, mas sempre intercalados com artistas internacionais.

E uma das questões que muito se colocou nos últimos cinco anos foi a do efeito que o fim do transporte marítimo de passageiros e viaturas entre São Miguel e Santa Maria teve no número de festivaleiros na ‘Maré’, apesar de entretanto ter sido criada a Tarifa Açores no transporte aéreo a 60 euros para os residentes dos Açores.

Para Rui Parece Baptista, “efetivamente, Santa Maria enchia-se de pessoas com o transporte marítimo, sem dúvida alguma. Era bom para a ilha, economicamente e turisticamente”. Contudo, acrescenta o presidente da Associação Cultural Maré de Agosto, “a verdade é que, por vezes, o barco trazia milhares de pessoas, milhares de jovens, que é o nosso público-alvo mas, efetivamente, o número de entradas no festival, após acabar o barco, é de facto menor, mas a redução não foi muito significativa”.

Além disso, acrescenta Rui Parece Baptista, “o nosso público amadureceu”, sendo a Maré de Agosto “um festival de família”. E conforme conclui o presidente da Associação Cultural Maré de Agosto, “para quem já veio ao festival, sabe o espaço que temos, que não é muito grande, mas é um espaço extremamente agradável, em anfiteatro natural e relvado onde, na Maré de Agosto, podemos ver fotografias de há 30 anos, ou de há 40 anos, onde a parte superior do recinto está toda forrada com mantas com famílias cujos membros vão de meses de idade, de bebés de colo a pessoas com 70 ou 80 anos e isso ainda existe”.

PUB
Regional Ver Mais
Cultura & Social Ver Mais
Açormédia, S.A. | Todos os direitos reservados

Este site utiliza cookies: ao navegar no site está a consentir a sua utilização.
Consulte os termos e condições de utilização e a política de privacidade do site do Açoriano Oriental.