Autor: Lusa / AO online
Quando passa um ano desde a intervenção das autoridades no banco criado por João Rendeiro, algumas dezenas de clientes concentraram-se hoje junto à sede do BPP, de onde partem, ao início da tarde, numa marcha em direcção à Comissão de Mercados de Valores Mobiliários (CMVM), Banco de Portugal e Ministério das Finanças para entregarem uma carta de protesto.
Sem especificar o conteúdo da carta, o porta-voz dos clientes, Ricardo Ribeiro, disse aos jornalistas que a missiva pretende chamar a atenção das autoridades para encontrar uma solução que "respeite eticamente todos os clientes em pé de igualdade".
"Nós não podemos ser discriminados em relação a outros credores do banco", adiantou o porta-voz dos mais de dois mil clientes que têm as suas contas congeladas há um ano.
Ricardo Ribeiro afirmou que após a intervenção do Estado no banco, foi "dado um aval de 400 milhões de euros para pagar a credores, nomeadamente a bancos estrangeiros, municípios e caixas de crédito", deixando os restantes clientes "desamparados".
Além de entregarem a carta, os clientes pretendem com a concentração junto à sede do banco e vigília chamar atenção para a situação e exigirem que as autoridades portuguesas encontrem uma solução até 02 de Dezembro.
Nessa data, a "situação vai mudar de figura, porque há muitos clientes que estão absolutamente desesperados e a viver da caridade de amigos e familiares", disse, desconhecendo ainda quais as medidas que vão tomar depois de 02 de Dezembro, caso não haja qualquer resposta por parte do Governo.
"Ainda não sabemos o que vamos fazer em concreto, mas se até lá não for encontrada uma solução, vamos promover uma reunião com os clientes associados das três associações para decidir o que fazer", acrescentou.
Segundo Ricardo Ribeiro, as cartas de protesto vão ser entregues à CMVM, Banco de Portugal e Ministério das Finanças porque são os "representantes do Estado português que não se podem demitir das suas responsabilidades".
Esta é a terceira acção do género promovida pelos clientes do BPP, que inicialmente ocuparam as instalações do banco no Porto e mais tarde manifestaram-se durante vários dias na sede de Lisboa, reclamando contra o congelamento das contas - decidido pelo Banco de Portugal - que impede que recuperem o dinheiro aplicado na instituição.
A Privado Fundos, gestora do BPP, está desde o Verão a montar um fundo especial de investimento que reunirá os activos dos clientes de retorno absoluto, solução que conta com o apoio das autoridades, mas o processo continua ainda numa etapa inicial, à espera que a CMVM - que tem consecutivamente requerido mais informações sobre os activos (e os passivos) relacionados com as carteiras de retorno absoluto - dê luz verde à constituição do "megafundo".
Na sexta-feira, o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, disse que a resolução da situação do BPP está "a demorar mais" do que o desejável, mas salientou que "há trabalho que está a ser feito" e tudo depende dos accionistas.
"O 'timing' [para que seja encontrada uma solução] não é meu, é, acima de tudo, dos accionistas. Esta instituição é privada e a sua viabilização depende dos accionistas, não do Estado", afirmou Teixeira dos Santos, acrescentando: "Não podemos pensar que o Estado é o salvador de todos e de tudo".