Açoriano Oriental
Arqueólogo propõe criação do Parque Arqueológico do Ilhéu

Arqueólogo Diogo Teixeira Dias propõe a criação do Parque Arqueológico do Ilhéu de Vila Franca do Campo. A recomendação integra o relatório de uma prospeção arqueológica realizada em 2024, aprovado no início de setembro pela DRAC

Arqueólogo propõe criação do Parque Arqueológico do Ilhéu

Autor: Carlota Pimentel

O arqueólogo Diogo Teixeira Dias recomenda a criação do Parque Arqueológico do Ilhéu de Vila Franca do Campo. A proposta integra o relatório de uma prospeção arqueológica realizada em 2024, apresentado e aprovado este ano pela Direção Regional da Cultura (DRAC).

De acordo com o documento consultado pelo Açoriano Oriental, o objetivo é “proteger, conservar e divulgar o património imóvel e móvel”, desenvolver “ações de salvaguarda dos valores culturais e naturais existentes”, promover o estudo científico e garantir uma “fruição pública regulada”, com zonas visitáveis e “planos de salvaguarda específicos”.

Além disso, o finalista de doutoramento em Património Cultural e Museologia na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra defende que o ilhéu deve dispor de uma solução interpretativa que integre “conteúdos históricos, arqueológicos, biológicos e geológicos, passíveis de fruição tanto presencial como digital”.  

Segundo o investigador, esta solução deverá ser articulada com “as estruturas locais, garantindo a acessibilidade a diferentes públicos e promovendo a compreensão integrada do património”.

Outra recomendação diz respeito à sinalização dos “elementos patrimoniais relevantes e em elevado risco de degradação, através de sinalética específica, de baixo impacto visual e não dissonante na paisagem”, mas “eficaz para orientar a visita e prevenir perdas irreversíveis”, que deverá ser acompanhada por sistemas de monitorização periódica. 

O relatório refere também a necessidade de novas prospeções arqueológicas subaquáticas, abrangendo a área dos Canhões, o Cemitério das Âncoras, a Caldeira do Ilhéu e o Boqueirão. Estas prospeções, sublinha Diogo Teixeira Dias,  devem ser acompanhadas por biólogos marinhos para avaliar o impacte ambiental das intervenções. 

O arqueólogo recomenda ainda a publicação dos resultados do relatório em formato de monografia, a disponibilizar a instituições científicas, museológicas, escolares e turísticas, de modo a reforçar “a visibilidade do património identificado e garantindo a sua divulgação qualificada”. 

Entre as medidas propostas consta também a realização de uma ação de formação dirigida ao Clube Naval de Vila Franca do Campo e aos operadores marítimo-turísticos,  “focada na importância do património arqueológico do ilhéu, nas boas práticas de visitação e nos conteúdos interpretativos, capacitando estes agentes para serem multiplicadores desta informação junto dos visitantes”. 

Diogo Teixeira Dias realça que “os resultados da prospeção arqueológica no Ilhéu de Vila Franca do Campo demonstram, de forma inequívoca, a relevância científica, cultural e patrimonial deste território insular, bem como a sua vulnerabilidade a fatores naturais e antrópicos”. 

Conforme explica, a diversidade de elementos registados, desde estruturas portuárias e produtivas a contextos lúdicos, defensivos e ambientais, “confirma a necessidade de uma abordagem integrada, que conjugue investigação, conservação e fruição pública, garantindo a salvaguarda a longo prazo”.

Com base nos dados recolhidos, foram identificados cerca de 70 pontos com interesse ou relevância histórica e arqueológica no ilhéu. Entre os vestígios identificados no terreno, é assinalada a presença de cabeços de amarração talhados diretamente na rocha, cuja forma e localização indicam diferentes períodos e usos para fixação de embarcações. Para o arqueólogo, isto evidencia “uma continuidade de uso e adaptação às necessidades balneares e de transporte” ao longo dos séculos.

No que toca às atividades económicas históricas, Diogo Teixeira Dias destaca a existência de um conjunto vitivinícola no chamado ilhéu grande. Trata-se de uma “área considerável de socalcos vitícolas” e de um compartimento de planta simples, em blocos de betão, que o relatório interpreta como podendo ter servido de apoio à produção e processamento de uva.

O documento regista cientificamente um tabuleiro de jogo gravado na rocha, do tipo mancala ou ouri, localizado na zona do istmo. A peça é associada a práticas lúdicas de origem asiática ou afro-atlântica, acrescentando uma dimensão cultural ao espaço. 

A prospeção registou também os já conhecidos canhões submersos nas proximidades da boca do ilhéu e o chamado “Cemitério das Âncoras”. 

No entender de Diogo Teixeira Dias, este conjunto de Património Arqueológico, em meio terrestre e subaquático, justifica desde já uma classificação conjunta, podendo os dados atualmente disponíveis serem “transformados em matéria-prima para uma fruição cultural do ilhéu, complementar ou alternativa ao uso balnear”. 


CNVFC promove visitas guiadas ao Ilhéu de Vila Franca do Campo

O Clube Naval de Vila Franca do Campo (CNFVC) associa-se às Jornadas Europeias do Património 2025, subordinadas ao tema “Património Arquitetónico – Janelas para o Passado. Portas para o Futuro”, com a realização de visitas guiadas ao Ilhéu de Vila Franca do Campo, a 13 e 14 de setembro, às 10h00. 

As visitas estarão a cargo do arqueólogo Diogo Teixeira Dias, que orientará um percurso interpretativo denominado ‘Ilhéu de Vila Franca do Campo - Arquitetura e Arqueologia de uma Paisagem Cultural’.

Segundo nota de imprensa, o objetivo é dar a conhecer ao público a singularidade patrimonial e histórica do ilhéu, promovendo o contacto direto com este espaço de referência para os visitantes e a comunidade local. A participação nas visitas é gratuita, mas está condicionada à aquisição do bilhete de transporte do Cruzeiro do Ilhéu e à lotação da embarcação.

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