Açoriano Oriental
Livro de Luís Filipe Borges e Luís Godinho é “Uma declaração de amor à nossa cidade”

“Angra da Humanidade” é o nome do livro escrito por Luís Filipe Borges com base nos registos fotográficos de Luís Godinho e que assinala os 40 anos de elevação de Angra a Património pela UNESCO. Um escreveu à distância, ao sabor da saudade. O outro fotografou pelas entranhas da cidade. Os dois amigos apresentaram o livro, que foi um desafio da autarquia angrense, a 16 de dezembro.


Autor: Tatiana Ourique

O primeiro passo foi dado pelos amigos “Luíses”, mas a primeira proposta não estava relacionada com a efeméride: “tínhamos apresentado uma ideia diferente à Câmara Municipal de Angra do Heroísmo que acolheu positivamente, mas decidiu propor-nos antes este projeto, no âmbito das celebrações dos 40 anos da elevação de Angra a Património Mundial. E em boa hora o fez”, disse Luís Filipe Borges em entrevista ao Açoriano Oriental.

O escritor, guionista e apresentador açoriano assume que esta é uma obra de cariz mais intimista e confessional. “Existem diversos trabalhos de excelente qualidade, e temo-los visto recentemente (como por exemplo a magnífica minissérie documental que a RTP Açores acaba de exibir, "Cidade de Heróis"), sobre este assunto - num foro mais institucional, académico, de investigação. Pensamos que fica bem juntar a essa galeria um projeto mais intimista, confessional, que é a abordagem de dois amigos, dois filhos da terra, dois indivíduos que são - de certa forma - filhos do Património Mundial (o Luís, aliás, tem exatamente 40 anos). Procurámos uma dança suave entre intérpretes de dois ofícios, o da fotografia e o da crónica. E é no fundo uma declaração de amor à nossa cidade”.

Habituado ao trabalho com as palavras, Luís Borges explica o título “Angra da Humanidade” garantindo que o sentido é mais abrangente do que a classificação como património: “De facto, como primeira cidade europeia do Atlântico; como urbe que nasceu em tempo recorde (para os padrões da época, e não só); como ponto geoestratégico de relevância internacional há séculos; mesmo como cidade que foi duas vezes capital do reino; a História de Angra - essa mesma que lhe valeu o acrescentar do epíteto "do Heroísmo" - justificava desde muito antes uma classificação como a que a UNESCO merecidamente lhe atribuiu há 4 décadas. A ideia da Humanidade neste título é precisamente essa, bem como um símbolo da Angra presente, onde o contacto com o mundo - por via sobretudo do turismo - continua parte indefetível das suas características”.

Um trabalho de orgulho, de amor e de honra, garante o escritor: “O privilégio de vê-lo solicitado desde logo pelo nosso Município, e também uma forma de retribuir aquilo que Angra me dá todos os dias, através da saudade, da memória e do sonho sempre presente de regressar”.

Este livro conta com o olhar do premiado fotojornalista angrense Luís Godinho que, antes de mais, é amigo próximo de Luís Filipe Borges. Por esse motivo o trabalho foi “muito fácil e muito feliz, somos grandes amigos, divertimo-nos a trabalhar e só queria que todos os projetos pudessem ter esta harmonia e propósito comuns. Procurámos convidar o leitor a passear connosco por Angra durante 24 horas, enquanto empreendemos também jornadas solitárias: o Luís fotografou primeiro e eu escrevi depois, com a enorme vantagem de ter à minha disposição 2000 fotografias para escolher e nas quais me inspirar. Além de textos inéditos, naturalmente, encontramos alguns antigos - que fui publicando ao longo de muitos anos de colaboração com a imprensa nacional. Deu-me um prazer enorme vasculhar os arquivos e encontrar aquilo que já desconfiava. Angra é sempre um tópico regular das minhas crónicas. Aos 40, aos 30, aos 20. Aliás, a última crónica do livro (acrescentada de uma espécie de epílogo) é o texto mais antigo que encontrei com a cidade natal como tema. Escrito há um quarto de século, aos 21. E só de responder isto já me sinto com vontade de marcar um check-up urgente”, diz o autor entre risos.

Luís Filipe Borges assume a sua visão “enviesada” de quem vive longe da cidade natal e admite que olha para ela “como um verdadeiro 'estrangeirado', ou seja, com um olhar certamente mais doce do que quem nela reside. Angra do Heroísmo, para quem está a 1500 Quilómetros de distância, guarda apenas o muitíssimo que tem de bom, de ótimo, de ideal”, assume o guionista que elogia os registos fotográficos do amigo Luís Godinho ao longo dos 6 quilómetros quadrados do centro histórico de Angra, objeto da classificação da UNESCO como Património Mundial da Humanidade: “É um trabalho extraordinário, aliás outra coisa não seria de esperar de um dos fotógrafos mais premiados da sua geração (mesmo a nível mundial). Também é importante notar que este é sobretudo um livro em que o texto tenta servir a imagem, mas é esta quem lidera a dança”.

O livro “Angra da Humanidade” pode ser adquirido na loja da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e na mítica papelaria Adriano, mesmo junto à Praça Velha, em Angra. “Mas penso que, até por ser uma edição da Nova Gráfica, poderá ser em breve encontrado online”, acrescenta.

Há, ainda, a probabilidade do trabalho agora editado em livro ter uma versão expositiva de fotografia em 2024.

“Luíses” juntos em mais um projeto: “Caixa Negra – Arca de Memórias Açorianas”

“Há uma nova aventura com o Luís Godinho a caminho, e para estrear muito em breve. “Caixa Negra – Arca de Memórias Açorianas”, uma série documental dedicada à nossa 3ª idade, em que passamos tempo com um cidadão sénior de cada ilha (o Luís fotografa e eu converso), numa tentativa de preservação da memória e homenagem aos nossos idosos. A realização é do Diogo Rola e trata-se de uma empreitada que muito nos orgulha ter o apoio da RTP-Açores, da Sociedade Portuguesa de Autores, da EDA e da Caixa Geral de Depósitos (porque o projeto foi um dos vencedores nacionais do concurso CAIXA CULTURA)”, adianta Luís Filipe Borges levantando o véu dos novos projetos para 2024.

“É possível que 2024 seja também o ano em que me estrearei como realizador, pois tenho uma curta-metragem nas 3 finalistas da 1ª edição do Prémio CURTA PICO, cujo resultado será anunciado em janeiro, e que me tem deixado expectante e esperançado. E estou ainda a trabalhar na 2ª temporada da série “WORK in PROGRESS”, um projeto em que revelamos um novo artista ilhéu em cada episódio, acompanhamos o seu processo criativo e, no fim de cada capítulo, uma obra de arte inédita surge. Uma canção, um poema, um quadro, uma escultura, uma performance, uma coreografia, etc. Este projeto foi um dos 12 selecionados em cerca de 170 candidatos à plataforma europeia IN SITU, o que naturalmente muito me honra. Preocupa-me bastante é que nenhum deles tenha qualquer garantia de qualquer tipo de apoio por parte da Direção Regional dos Assuntos Culturais, após aquele que só pode ser catalogado como um ano absolutamente miserável na relação desta com os agentes culturais da Região. Mas enfim, a esperança é a última a morrer”, desabafa.

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