Autor: Lusa/AO Online
No julgamento, em Lisboa, a ex-diretora do Departamento Financeiro, de Mercados e de Estudos (DFME) do Banco Espírito Santo (BES), Isabel Almeida sublinhou que as questões da Eurofin eram tratadas por outros elementos do DFME, diretamente com o então administrador financeiro Amílcar Morais Pires, também arguidos, sem que a dirigente interviesse nos processos.
"Os temas relacionados com a Eurofin eram temas tratados diretamente pelo doutor Morais Pires com os responsáveis das áreas. No meu tempo, foram o doutor Pedro Costa e o doutor António Soares", afirmou a ex-diretora financeira.
Confrontada pelo Ministério Público com 'e-mails' a si dirigidos por estes subordinados, de 2005 a 2012, com questões da esfera daquela sociedade suíça, Isabel Almeida assegurou não conseguir "decifrar, explicar, enquadrar" o conteúdo das mensagens trocadas.
"Tenho razoável memória sobre diversos assuntos, diversos temas, sobretudo aqueles em que eu estava envolvida à data. Agora, muito pouco daquilo faz sentido", insistiu, sustentando que "não era pontualmente chamada, era pontualmente referenciada".
Perante a perplexidade expressa pela presidente do coletivo de juízes, Helena Susano, por a arguida não saber o que cada pessoa fazia "dentro do seu departamento", a antiga diretora do DFME do BES reiterou que "a Eurofin não era o tema principal da atividade" dos seus subordinados e "estava devidamente enquadrada com o doutor Morais Pires".
Isabel Almeida admitiu, ainda assim, que sabia que a Eurofin se financiava "com uma linha de crédito que tinha junto" do Grupo Espírito Santo (GES), apelidada 'our friends' ('nossos amigos', em inglês), e que o assunto passava por si quando a sociedade comunicava algum desequilíbrio.
O processo principal da falência do BES/GES, ocorrida em 2014, conta atualmente com 18 arguidos, incluindo o ex-presidente do banco, Ricardo Salgado, de 81 anos e doente de Alzheimer.
O Ministério Público estima que os atos alegadamente praticados entre 2009 e 2014 pelos ex-quadros do BES e de outras entidades do GES tenham causado prejuízos de 11,8 mil milhões de euros ao banco e ao grupo.
Em causa estão crimes de associação criminosa, corrupção no setor privada e burla qualificada, entre outros.
O julgamento decorre desde 15 de outubro de 2024 no Tribunal Central Criminal de Lisboa.