Autor: Maria Andrade
Pescadores e proprietários de embarcações de recreio da Praia da Vitória manifestam crescente insatisfação com o funcionamento deficiente das gruas instaladas nos portos das freguesias do município. Estas estruturas, fundamentais para a colocação e retirada das embarcações da água, têm registado falhas recorrentes e períodos de inatividade, afetando gravemente a atividade marítima local.
De acordo com as queixas relatadas ao Açoriano Oriental, os equipamentos encontram-se frequentemente inoperacionais ou apresentam anomalias técnicas que inviabilizam a sua utilização em segurança. As situações relatadas referem-se principalmente às gruas dos portos do Cabo da Praia e Porto Martins onde as avarias são descritas como “repetidas” e a assistência técnica “lenta e ineficaz”.
No caso da grua dos Biscoitos, a mesma encontra-se inoperacional devido a uma avaria técnica relatada à empresa há já algum tempo.
“Esta situação é de transtorno ainda maior quando o equipamento está inoperativo para sair da água, uma vez que o contacto de apoio técnico presente na grua grande parte das vezes não atende as chamadas e quando atende não se mostra disponível para resolver a situação no próprio dia e a única solução passa por procurar o porto mais perto e rezar para que a grua esteja operacional”, relatam os pescadores da zona da Praia da Vitória.
Para além dos problemas técnicos, existem também críticas à falta de controlo na utilização das gruas, que são acessíveis a qualquer pessoa, independentemente de possuir ou não uma embarcação ou formação técnica adequada.
Os pescadores defendem que esta ausência de fiscalização contribui para danos nos equipamentos, agravando ainda mais o seu estado de conservação. Para os mesmo a solução passa por “restringir o uso destes equipamentos a quem tiver formação técnica, através de acesso controlado por chave. E criar uma linha de apoio que fosse realmente uma linha de apoio e não um contacto que não se mostra disponível para resolver o assunto”.
O jornal deslocou-se à zona da grua do Cabo da Praia para testemunhar a situação. Quando chegou ao local, a equipa técnica já se encontrava a realizar a manutenção desta grua.
Contactada pelo Açoriano Oriental, a Lotaçor confirmou que as gruas em questão são da jurisdição da empresa desde janeiro de 2024. Reinaldo Arruda, vogal executivo da Lotaçor, admite que as anomalias técnicas do Cabo da Praia e Porto Martins foram reportadas ontem de manhã (terça-feira). “Nós estamos em cima do acontecimento e estamos já a resolver”, afirmou.
Quanto à situação da grua dos Biscoitos responde que a Lotaçor já teve a oportunidade de falar pessoalmente com todos os utilizadores dessa grua. “A Lotaçor existe para servir, em primeiro lugar, a pesca. Temos zero pescadores nos Biscoitos, não há pescadores lá, e, portanto não é uma prioridade para a Lotaçor, mas, no entanto, estamos a resolver. A previsão é de que nos próximos dias vamos reinstalar a grua que teve uma avaria técnica”, disse.
Em termos de manutenção, Reinaldo Arruda admitiu que o último
ano se revelou particularmente exigente para a Lotaçor, que enfrentou
custos elevados com a conservação dos seus equipamentos. Só com a
manutenção das gruas, que transitaram recentemente para a sua
responsabilidade, a empresa registou um encargo de cerca de 840 mil
euros.
Apesar dos constrangimentos financeiros e técnicos, afirma que
a gestão tem procurado responder da melhor forma possível aos desafios,
numa realidade que se tem revelado complexa para todos os envolvidos.
Para evitar os problemas associados à falta de controlo na utilização das gruas, a Lotaçor afirma já ter desenvolvido um sistema de controlo. “Esse sistema consiste numa caixa eletrónica que funciona com um sistema de chamada. Depois de devidamente registado, o pescador liga para a Lotaçor através da caixa e, se estiver devidamente registado, desbloqueia a grua. Numa segunda fase estará um pagamento associado a isso”, explicou ao AO.
O sistema já se encontra em testes no porto de
Rabo de Peixe e, de acordo com Reinaldo Arruda, o objetivo é que, nos
próximos dois ou três meses o equipamento já esteja em todos os portos
da região.