Açoriano Oriental
Comunidade portuguesa de Edmonton preserva a identidade através da cultura no oeste canadiano

A comunidade portuguesa de Edmonton, capital da província canadiana de Alberta, é pequena em número, mas tem uma aposta forte na cultura como forma de manter a ligação a Portugal

Comunidade portuguesa de Edmonton preserva a identidade através da cultura no oeste canadiano

Autor: Lusa/AO Online

Formada sobretudo por emigrantes vindos do Minho, Beiras e Açores nas décadas de 1940 e 1950, continua a afirmar a sua presença através do Centro Cultural Português de Edmonton, fundado oficialmente em 1997, criado no princípio da década de 1990, uma casa construída “com o esforço e o suor dos portugueses” que se tornaram parte do mosaico multicultural do Canadá.

“A cultura é o motor desta casa. É o folclore, a música, a língua e as tradições que mantêm viva a nossa comunidade”, afirma à Lusa Nuno Gamito, presidente do Centro desde 2024, natural de Grândola (Alentejo), no Canadá desde 2012.

O edifício da associação foi adquirido em 1996 e transformado em sede própria através do trabalho voluntário de dezenas de imigrantes portugueses.

Hoje, continua a ser o ponto de encontro das famílias portuguesas e luso-canadianas.

“Esta casa foi feita por pessoas humildes, mas com um enorme coração português”, lembrou Gamito.

“Foi o sonho de uma geração que queria deixar uma marca e garantir que os filhos e netos não perdiam as raízes”, acrescentou.

Durante os anos de maior atividade, o centro chegou a ter 500 membros pagantes, organizando bailes, festas populares, torneios e jantares comunitários. Mas, nos últimos anos, enfrentou desafios de sustentabilidade.

“A pandemia foi um golpe duro. Tivemos de vender comida para fora para pagar as contas. Perdemos a licença dos casinos, que eram uma das principais fontes de receita, mas conseguimos recuperar o direito a operá-los a partir do próximo ano”, explica o presidente, que reconhece o “papel essencial” do apoio do Consulado de Portugal em Vancouver, responsável por um subsídio de 15 mil dólares canadianos (10050 euros) em 2024.

No salão principal, decorado com bandeiras, azulejos e fotografias antigas, o som das concertinas voltou a ecoar.

O Rancho Folclórico do Centro Cultural Português de Edmonton, que esteve inativo durante a pandemia, renasceu com força: o grupo infantil reúne cerca de 50 crianças entre os 3 e os 14 anos, e há poucas semanas foi relançado também um rancho de adultos.

“O rancho é o coração desta casa. Foi assim que tudo começou e é o que continua a unir as pessoas”, diz Elizabeth Gameiro, professora e diretora da cozinha do Centro, nascida já em Canadá, filha de emigrantes de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez.

“Começámos num pequeno café, com meia dúzia de amigos, uma concertina e muita vontade de dançar. Dali nasceu o rancho e, depois, o sonho de criar esta casa. É um orgulho enorme representar Portugal aqui em Edmonton.”

Entre os rostos da nova geração destaca-se Catarina Portela, educadora de infância, filha de emigrantes de Arcos de Valdevez e coordenadora do rancho infantil.

“Eu sinto-me 50% portuguesa e 50% canadiana, mas o meu coração é português”, diz, com um sorriso.

“Passei todos os verões em Portugal e cresci a vir aqui ao Centro. Ensinei catequese na igreja de Nossa Senhora de Fátima e hoje continuo ligada à comunidade”, acrescentou.

Catarina acredita que há um regresso do interesse dos jovens pela cultura de origem.

“Os jovens estão a voltar. Estão mais curiosos pela música, pela gastronomia, pelas danças. Quando eu era adolescente, havia algum afastamento, mas agora há um renascimento. Este rancho infantil está a criar amizades e orgulho em ser português”.

A direção do Centro quer agora reforçar as atividades culturais, modernizar o edifício e envolver mais voluntários.

O objetivo, disse Nuno Gamito, é garantir que o legado deixado pelos fundadores continue.

“As novas gerações já nasceram aqui e têm ritmos diferentes. Mas é através da cultura que conseguimos passar o testemunho. Queremos que os jovens sintam que esta casa é deles e que vale a pena continuar este trabalho”, disse.

Mesmo em Alberta, onde os invernos longos cobrem tudo de branco, o Centro Cultural Português de Edmonton continua a ser um refúgio de calor humano, sotaques misturados e recordações de Portugal.

“Somos poucos, mas com o coração muito grande. E enquanto houver uma concertina a tocar e alguém a dançar o vira, Portugal continuará vivo aqui em Edmonton”, concluiu Gamito.

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