Autor: Lusa
Em novembro de 2024, a Diocese de Angra revelou que concluiu a fase diocesana do seu primeiro processo com vista à beatificação de uma açoriana, Maria Vieira da Silva, uma jovem terceirense.
Maria Vieira da Silva, natural da freguesia de São Sebastião, na ilha Terceira, morreu em 05 de junho de 1940 “ao resistir a uma tentativa de violação. O gesto de perdão ao agressor, proferido antes da morte, marcou profundamente a comunidade local e gerou uma devoção espontânea que perdura há mais de oito décadas”, segundo informação disponibilizada no sítio na Internet Igreja Açores, da Diocese de Angra.
Um ano após a conclusão da fase diocesana, realizada na Diocese de Angra, a causa de beatificação da jovem entra oficialmente na fase romana”.
“O processo já se encontra em Roma, entregue ao Dicastério para as Causas dos Santos. Aguarda-se agora apenas a confirmação formal da nomeação de monsenhor António Manuel Saldanha como postulador da causa na sua fase romana”, revela a Diocese de Angra, numa nota publicada no sítio na Internet Igreja Açores.
Citado na mesma nota, o sacerdote, natural dos Açores, explicou que o processo foi “devidamente entregue” e falta apenas a ratificação da nomeação feita pelo bispo, autor da causa, para que possa ser oficialmente reconhecido como postulador.
“Vou esta semana a Roma apresentar a documentação da nomeação e aguardaremos a confirmação, que já está dada informalmente por parte do Dicastério”, adiantou monsenhor António Manuel Saldanha, sublinhando tratar-se de uma missão que o enche de “orgulho e responsabilidade”.
“Sinto-me um privilegiado e serenamente feliz. Era um sonho antigo, mas que nunca manifestei. Por uma série de felizes coincidências, foi-me possível regressar à diocese e assumir esta causa, que tanto significa para todos os açorianos”, afirmou.
Com o processo já nas mãos do Dicastério, segue-se o pedido do voto de validade jurídica, uma etapa que confirmará a regularidade e consistência dos trabalhos realizados na diocese de Angra.
“Se o voto for positivo — e acredito que será —, será nomeado um relator, que orientará a redação da Positio, um documento-síntese que reúne todos os testemunhos e textos sobre Maria Vieira”, referiu.
Posteriormente, o processo será analisado por teólogos, historiadores, bispos e cardeais antes da decisão final do Papa. Como se trata de um caso de martírio, o milagre é dispensado para a beatificação, o que poderá acelerar o processo, explicou.
Segundo o postulador, o processo poderá estar concluído em três ou quatro anos, realçando que a documentação "é concisa e clara", salientando que o elemento mais marcante na vida de Maria Vieira “é a capacidade de perdoar”.
Destacou que “a história de Maria Vieira é também um apelo à dignificação da mulher e à superação da violência”, mostrando “que é possível responder ao ódio com amor e ao mal com perdão”.
A clausura da fase diocesana, celebrada há um ano na Igreja de São Sebastião, constituiu um marco histórico para a Diocese de Angra, por ser a primeira causa de beatificação instruída integralmente nos Açores.
Na ocasião, o bispo de Angra, Armando Esteves Domingues, destacou que “a relevância desta causa está na oferta de uma lógica evangélica: onde deveria haver ódio há amor; onde deveria haver vingança há misericórdia”.
O processo percorreu três episcopados, mas só em fevereiro de 2018, D. João Lavrador deu indicações para avançar com a nomeação das Comissões Histórica e Teológica, o que permitiu chegar agora a esta fase.
"Com o processo entregue em Roma, a diocese e os fiéis açorianos vivem agora um tempo de expectativa e oração", lê-se na nota.