Açoriano Oriental
Lisbon Barbers: um corte com sabor a café Sical e Super Bock, no coração de Varsóvia

O jovem açoriano Tiago Meneses é proprietário da Lisbon Barbers, uma barbearia clássica americana numa das principais artérias de Varsóvia. No novo espaço, um corte de cabelo e barba pode situar-se entre os anos 20 e os anos 50 e pode ir do mais formal/ executivo ao "rockabilly". As técnicas tradicionais e os sabores portugueses são as principais atrações da barbearia lisboeta na capital polaca.



Autor: AO

Tiago Meneses nasceu há 28 anos em Angra do Heroísmo. A sua infância foi dividida entre os invernos em Lisboa (Monte Abraão) e os verões na casa da avó Conceição e do avô Salvador, na ilha Terceira.

Em 2014, depois de passar por diversos trabalhos precários em supermercados, fábricas e restaurantes, Tiago decidiu ouvir o pai Agnelo Meneses, que o aconselhava insistentemente sobre a possibilidade de Tiago fazer formação na antiga profissão de barbeiro. Afinal, Tiago já tinha tido uma breve experiência no ramo: "O meu pai lembrou-se que eu lhe tinha falado no passado que gostava de cortar cabelo, porque tinha cortado cabelo a um amigo, o Diogo Sousa, que agora também tem uma barbearia em Angra desde 2011. O Diogo dizia-lhe muitas vezes para eu voltar à Terceira e trabalhar com ele", adiantou o jovem terceirense ao Açoriano Oriental.

Tiago decidiu investir na formação em barbearia quando uma polaca veio baralhar-lhe os planos. Sandra Pszczolkowska passou por Lisboa apenas três dias, mas levou o coração de Tiago com ela, para Varsóvia. E o curso de barbeiro ia ainda no seu quarto mês. Faltavam 8 meses.

O açoriano passou, então, os seis meses seguintes entre a Polónia e Lisboa. Pediu aos professores para duplicar a assiduidade de dois para quatro dias semanais e conseguiu que lhe concedessem o diploma ainda dois meses antes do fim do curso.

De "canudo" na mão Tiago seguiu imediatamente para Varsóvia e trabalhou em três barbearias entre 2015 e 2018.

Este ano decidiu emancipar-se e queria um parceiro português. Entre insistentes anúncios de oferta de emprego, Miguel Bento foi o único que acabou por chegar efetivamente a Varsóvia para a nova aventura: "O Miguel tem 20 anos e quando cá chegou não sabia muito sobre a arte da barbearia clássica. Ele sabia cortar cabelo mas não com as técnicas que eu pretendia. Ajudei-o a crescer ensinei-lhe truques e detalhes sobre o trabalho clássico (como dar formas clássicas num corte etc..). Três meses depois tornou-se um barbeiro clássico exemplar".

Situada numa rua privilegiada da capital polaca a Lisbon Barbers serve café português. "O café adoram. Dizem ser intenso e muito saboroso". Quanto à cerveja Super Bock: "Gostam, acham engraçado estarem a beber cerveja portuguesa mas assumem ter melhores".

"No dia-a-dia da Lisbon Barbers trabalhamos por marcações e "walk ins" momentâneos. Todos os dias temos marcações e pessoas que nos batem à porta a pedir um corte de cabelo ou uma "beard trim" ou um "full shave", estamos numa rua privilegiada do centro da cidade o que nos dá uma grande exposição e nesta época do ano temos muitos turistas e portugueses a entrar e a sair todos os dias da barbearia. A comunidade portuguesa em Varsóvia deve estar a rondar os 200 portugueses", acrescentou o açoriano.

A língua também não é um problema. Os polacos, diz Tiago, "são muito inteligentes. Praticamente todos dominam o inglês. E é assim que comunicamos".

Já a vida na Polónia não é de fácil adaptação: "Sendo um país frio (às vezes vinte graus negativos) é um pouco depressivo durante o inverno. Passámos basicamente quatro meses a chorar por um pouco de sol. Os dias são de duração curta começando a escurecer a partir das 15h30".

Tiago sente que a barbearia aguça a curiosidade sobre Portugal: "Fazem-nos muitas perguntas sobre Portugal e também partilham connosco as suas viagens a Portugal".

Gastronomicamente falando, a maionese é rainha e as sandes ficam-se pela metade: "Eles comem maionese com quase tudo. As sandes são feitas só em metades sem a parte de cima do pão".

Dos Açores sente falta da família, dos amigos e do mar: "Quando o tinha como garantido não sentia falta. Aqui estou a 300 quilómetros do oceano e nunca lá estive ainda. Espero ir em breve".

Sandra e Tiago já têm um filho de dois anos cujo nome português resulta da junção dos seus nomes: Janek Santiago Pszczolkowski. Na Polónia os filhos só herdam um dos sobrenomes. Neste caso Janek ficou com o da mãe por questões legais e culturais.

Foi por amor à família que Tiago Meneses encontrou um rumo profissional.

De jovem precário a jovem empresário, Tiago é um dos muitos exemplos de açorianos bem sucedidos pelo mundo.

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