Açoriano Oriental
Jovens açorianos relatam experiência enriquecedora e intensa na Ucrânia

Dois jovens açorianos, Martim Medeiros e Álvaro Borges, participaram no Enlargement CEmp em Lviv, descrevendo a experiência como “enriquecedora”, “intensa e desafiante”, pelo contacto com a realidade da guerra e pelo debate sobre o futuro da União Europeia

Jovens açorianos relatam experiência enriquecedora e intensa na Ucrânia

Autor: Carlota Pimentel

Os jovens açorianos Martim Medeiros e Álvaro Borges consideram que a participação no Enlargement CEmp, realizado em Lviv, foi uma experiência marcante, quer pelo contacto direto com a realidade da guerra, quer pelo envolvimento no debate sobre o futuro da União Europeia (UE).

Martim Medeiros sublinha que o EnlargementCEmp “foi, de facto, uma experiência muito enriquecedora” e destaca o convívio com os 20 jovens ucranianos, que tal como os portugueses, representavam diferentes regiões do país.

“Isto contribuiu para a compreensão do panorama na sua globalidade, ou seja, para que as diferentes esferas, como por exemplo a intensidade dos ataques ou o nível de proliferação de eletricidade, saneamento e rede, ou mesmo a dicotomia entre as grandes cidades e o campo, fossem esclarecidos”, avançou.

O jovem do Faial acrescenta que a transição digital na Ucrânia surpreendeu pela sua eficiência. “Seguramente, a nível de transição digital, os ucranianos estão muito à frente de muitos países europeus, incluindo, obviamente, Portugal. Todo o sistema deles é menos burocrático. Conseguem resolver muitos problemas com ‘cliques’ no telemóvel, pois existe uma aplicação governamental que o permite e centraliza cartões, licenças, multas, entre outros, sendo-lhes até possível casar e divorciar por lá”, exemplificou. 

Sobre os ucranianos, o estudante afirma que “são um povo acolhedor, simpático e bem-disposto. Para além disso, são inquebrantáveis e mostram, apesar do cansaço, vontade de continuar a lutar pelo que é seu por direito”. O jovem descreve ainda Lviv como uma cidade onde a vida decorre com relativa normalidade, apesar da presença de militares e do recolher obrigatório.

Um dos momentos mais marcantes para Martim Medeiros foi a visita ao cemitério que “antes de 2022, era um parque público, um relvado. Depois do início da guerra, foi convertido em cemitério e as campas decoradas com flores e bandeiras, cobrem toda a área. Ao lado de algumas sepulturas existem bancos, para que familiares e amigos possam prestar homenagem”, conta.

E prossegue: “Uma ucraniana confidenciou-me que quando a guerra é romantizada, é aquilo que acontece, apontando para o terreno. Mas o aperto maior no nó que já se dava na garganta aparecia quando se vislumbravam os familiares e os amigos entre as cores azuis e amarelas das bandeiras ucranianas. Faziam visitas comovedoras, como não podia deixar de ser, pais, mães, irmãos, filhos, amigos e mulheres”.

O faialense realça que aquele é apenas “um no meio de um infeliz mar de muitos outros cemitérios, que se espalham por cidades e regiões daquele país”.

Por sua vez, Álvaro Borges, de São Miguel, afirma que a viagem “foi uma experiência intensa e desafiante, marcada pela incerteza da segurança no terreno”. 

“Era nosso dever olhar cara a cara os nossos colegas ucranianos, escutar as suas histórias e levar a solidariedade portuguesa e açoriana até eles, num momento tão difícil da sua vida e da história do país”, frisa.

O jurista relata que se encontraram “com jovens de todo o país, muitos carregando histórias de dor e resiliência. Alguns tinham perdido familiares no conflito, outros foram forçados a abandonar a sua casa, agora ocupada pelos russos. O peso destas histórias era indescritível, mas revelador”. 

Num encontro com a primeira-ministra ucraniana, disse-lhe que “o povo ucraniano é, sem dúvida, um dos mais corajosos do mundo, resistindo desde 2022 a uma invasão ilegal e bárbara que viola todos os princípios do direito internacional”.

Álvaro Borges sublinha que “a bandeira dos Açores foi erguida em encontros com Vadym Halaichuk, primeiro vice-presidente do comité para a Integração da Ucrânia na UE e com o presidente da Câmara de Lviv”, acrescentando que a embaixadora da Ucrânia em Portugal recebeu das mãos do duo açoriano “ uma carta do presidente do Governo dos Açores, agradeceu ao povo açoriano pelo apoio prestado e manifestou a intenção de visitar os Açores em breve”. 

Álvaro Borges recorda também a visita ao cemitério de Lychakivske, onde repousam cerca de 1200 militares desde fevereiro de 2022, como um dos momentos mais marcantes: “Ver mães, filhos e viúvas a chorar fez-nos sentir, de forma profunda, o horror da guerra”.

O micaelense refere ainda que os jovens não sentiram medo, apesar de dois avisos de ataques aéreos durante os debates. “Reforçou-se a convicção de que os jovens não podem ceder ao medo”, constatou.

Para Álvaro Borges, ir à Ucrânia, em plena guerra, foi “mais do que uma missão, foi um testemunho de coragem. Levámos a alma dos Açores e erguemos a nossa voz em nome de uma juventude que recusa o silêncio”.

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