Autor: Lusa/AO Online
“As Brigadas al-Qassam vão entregar o corpo de um dos prisioneiros que foi encontrado recentemente num dos túneis da Faixa de Gaza”, indicou a milícia do Hamas num comunicado.
A entrega à Cruz Vermelha está prevista para as 20:00 locais (17:00 em Ponta Delgada).
Este anúncio ocorre depois de as autoridades israelitas terem alegado que o suposto corpo de um dos 13 reféns que ainda estão na Faixa de Gaza e que foi entregue na segunda-feira correspondia a restos mortais de uma pessoa já recuperada e sepultada.
De acordo com a análise forense, os restos mortais devolvidos na segunda-feira à noite pelo Hamas pertencem ao antigo refém Ofir Tzarfati, que foi levado nos ataques liderados pelo Hamas no sul de Israel em 07 de outubro de 2023 e que morreu pouco tempo depois na Faixa de Gaza.
O seu corpo foi recuperado pelas Forças de Defesa de Israel no final de novembro de 2023, segundo as autoridades israelitas, que indicaram que os restos mortais entregues na segunda-feira não correspondem ao ADN de nenhum dos 13 reféns que permanecem na Faixa de Gaza.
Israel condenou este incidente como “uma clara violação do acordo” do cessar-fogo com o Hamas, em vigor desde 10 de outubro, segundo um comunicado divulgado pelo gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que anunciou uma reunião de urgência com responsáveis do setor de segurança.
A porta-voz do Governo israelita, Shosh Bedrosian, informou que a reunião vai discutir “as graves repercussões que o grupo terrorista vai agora enfrentar”, sem mais detalhes.
Em declarações aos jornalistas, a porta-voz afirmou apenas que nenhuma ação “está descartada”, insistindo que o Hamas tem informação suficiente para localizar e recuperar os restos mortais dos 13 reféns.
Imagens gravadas por um drone israelita, segundo Bedrosian, mostram militantes do Hamas a depositar os restos mortais de um refém numa vala antes de alertar a Cruz Vermelha para a descoberta do corpo.
Estes restos mortais, prosseguiu, pertenciam a Ofir Tzarfati.
“O Hamas cavou um buraco no solo segunda-feira, colocou os restos mortais parciais de Ofir no seu interior, cobriu-o com terra e entregou-o à Cruz Vermelha. As Forças de Defesa de Israel captaram toda a sequência de acontecimentos com um drone militar, um ato deliberado e uma fraude vergonhosa", condenou.
Logo após estas declarações, o Exército israelita divulgou um vídeo aéreo de 14 minutos de um local não identificado na Faixa de Gaza, mostrando um saco branco para cadáveres atirado para uma vala e enterrado no fundo por três homens com o rosto coberto.
Depois disso, uma escavadora retirou o saco e colocou-o na parte lateral da vala, onde se encontravam várias pessoas com casacos da Cruz Vermelha.
Por sua vez, o Governo da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas, acusou Israel de cometeu mais de 125 violações desde que a trégua entrou em vigor, incluindo bombardeamentos, tiroteios e detenções.
No total, Israel matou 94 habitantes e feriu mais de 300 desde 10 de outubro, de acordo com o Ministério da Saúde do território.
No âmbito do entendimento, o Hamas devolveu os últimos 20 reféns vivos que mantinha no enclave palestiniano, mas apenas 15 dos 28 que estavam mortos, alegando dificuldades em encontrar os corpos entre os escombros do território devastado por mais de dois anos de conflito.
Em troca dos reféns, Israel libertou quase dois mil presos palestinianos e entregou 195 corpos.
A primeira fase do acordo prevê a retirada parcial das forças israelitas do enclave e o acesso de ajuda humanitária ao território.
A etapa seguinte, ainda por acordar, prevê a continuação da retirada israelita, o desarmamento do Hamas, bem como a reconstrução e a futura governação do enclave.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e 251 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou mais de 68 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.