Açoriano Oriental
Filhos são os principais agressores de idosos nos Açores

Entre janeiro e agosto deste ano, a APAV identificou 49 casos de violência contra idosos nos Açores, representando 3,1% do total nacional. Há muitos casos de violência financeira

Filhos são os principais agressores de idosos nos Açores

Autor: Filipe Torres

Entre janeiro e agosto deste ano foram identificados 49 casos de violência contra idosos nos Açores, de acordo com dados da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).

A maioria das situações envolve filhos e filhas como principais agressores, sendo a violência financeira a forma mais comum, muitas vezes acompanhada de violência psicológica e, em alguns casos, também de violência física. 

Em declarações ao Açoriano Oriental, a gestora do gabinete da APAV nos Açores, Silvia Branco, explica que este fenómeno tem vindo a ganhar maior expressão nos últimos anos e tornou-se particularmente evidente após a pandemia. Ainda assim, a responsável ressalta que não dispõe de dados concretos sobre os perfis das vítimas, podendo apenas reportar-se às situações que chegam ao conhecimento da delegação regional da associação.

Segundo refere, foi a partir da pandemia que muitos idosos acolheram os filhos em casa, devido a dificuldades financeiras. Essa coabitação, que à partida surgiu como uma solução de apoio familiar, acabou em várias situações por transformar-se em cenário de violência.

De início, o problema manifesta-se de “forma subtil”, através da falta de colaboração dos filhos no pagamento das despesas do agregado. Muitos idosos não reconhecem este comportamento como violência financeira, encarando-o antes como uma dificuldade temporária. Só mais tarde, com o apoio da APAV, percebem que estão perante um padrão de abuso. 

Quando o agressor apresenta consumos de droga, os pedidos de dinheiro tornam-se mais frequentes e diretos e, perante uma recusa, surgem episódios de coação, ameaça e agressões. A violência física não é a mais representativa neste grupo de vítimas, mas a psicológica e a financeira têm peso marcante.

Apesar de existirem casos em que o contacto com a APAV é feito diretamente pelo idoso, muitas vezes são vizinhos, familiares ou conhecidos que pedem ajuda em nome da vítima. Quando isso acontece, Silvia Branco afirma que a situação já escalou em frequência e intensidade. Os sinais de alerta passam por mudanças de comportamento, como o recurso inesperado a pedidos de dinheiro.

Os números revelam ainda que os Açores apresentam um registo superior ao da Madeira no que toca a casos de violência contra idosos - apresentam sete casos. Silvia Branco justifica esta diferença, em parte, pela ausência de serviços de proximidade na Madeira, que poderá levar a uma subnotificação de situações de abuso. 

Nos Açores, a gestora afirma que a presença direta da APAV facilita a denúncia e o acompanhamento das vítimas. Ainda assim, a violência conjugal continua a existir, embora hoje se destaque menos do que no passado. 

Segundo a responsável, muitas vítimas não querem que os filhos sejam julgados ou condenados, mas sim que recebam tratamento para problemas de dependência. A APAV sensibiliza os idosos para os riscos de manterem silêncio e para as vantagens de formalizar uma denúncia. 

Silvia Branco sublinha ainda a importância de combater o isolamento em que muitas vítimas idosas vivem. Destaca a necessidade de uma comunidade mais atenta e solidária, capaz de identificar sinais de abuso e de não ignorar comportamentos que indicam que um idoso pode estar em risco. 

Por fim, considera urgente cultivar uma cultura de atenção e responsabilidade coletiva.

Retrato nacional

O relatório da APAV evidencia que, entre janeiro e agosto de 2025, 1.557 pessoas idosas foram apoiadas na sequência de situações de crime e violência, sendo que cada uma sofreu, em média, dois crimes em simultâneo, num total de 2.861 ocorrências. 

A maioria das vítimas é do sexo feminino (75%), enquanto os homens representam cerca de 25% dos casos. A violência doméstica é a forma mais prevalente, representando 81% das situações reportadas, seguida de ofensas à integridade física e outros crimes como burla, difamação e maus-tratos em contexto institucional.

Em termos de perfil etário, as vítimas concentram-se sobretudo entre os 65 e os 79 anos, refletindo um grupo etário particularmente vulnerável ao impacto da violência. 

Geograficamente, Lisboa (20,9%), Braga (16,1%), Porto (12%) e Faro (13,6%) aparecem como os distritos com maior número de ocorrências.

O perfil das pessoas agressoras mostra uma predominância masculina (57,8%), ainda que cerca de um quarto sejam mulheres. A relação entre vítima e agressor revela padrões preocupantes: em 33,5% dos casos, os agressores são filhos/as, seguidos de cônjuges (22,8%) e netos/as (4,2%).

Por fim, os dados indicam que a maioria das situações ocorre em residências comuns (53,9%) ou no lar da própria vítima (28,1%), mas também em via pública, instituições de acolhimento e até através da internet ou telefone.


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