Autor: Lusa/AO Online
A exposição participativa “A Arte Secular do Trabalho da Lã nos Açores: Da Tosquia ao Lar”, que vai estar patente ao público no edifício multiúsos da mais pequena ilha açoriana, “combina objetos de elevado valor etnográfico com testemunhos vivos e peças do quotidiano”, segundo a diretora do Ecomuseu do Corvo, Deolinda Estêvão.
Pela primeira vez, oito museus públicos de outras ilhas dos Açores reúnem-se numa exposição conjunta numa colaboração com o Ecomuseu do Corvo e com a comunidade corvina, para construção de um “retrato insular do ciclo tradicional da lã - da tosquia ao lar”.
“É uma mostra participativa que combina objetos de elevado valor etnográfico com testemunhos vivos e peças do quotidiano, que não são mais do que uma celebração da memória, da identidade e da entreajuda que moldaram a vida nas ilhas”, disse Deolinda Estêvão à agência Lusa.
O ciclo da lã “foi um pilar muito importante da economia doméstica e também da coesão social açoriana”, recordou, referindo que a mostra traça um ciclo “desde a tosquia ao tingimento, passando pela lavagem, a cardação, a fiação e a tecelagem, que era um ciclo transversal a todas as ilhas do arquipélago e que, no Corvo, até se celebrava num dia muito especial”.
Nesse “dia da lã”, era feita a tosquia e celebrava-se a partilha e o comunitarismo.
“Com o passar do tempo, este trabalho foi caindo no esquecimento. Hoje em dia, a tecelagem escasseia por todo o país e aqui também na região. Os teares silenciaram-se, a criação das ovelhas findou e resta a memória, que também corre algum risco de se perder”, disse.
Assim, na opinião de Deolinda Estêvão, a exposição é, sobretudo, uma “celebração a este trabalho”, e pretende contribuir para que a memória e a tradição “não caiam no esquecimento”.
“É, sobretudo, um gesto de resistência ao esquecimento e um tributo a todas as pessoas que fiaram, teceram e tingiram ao longo da história”, sublinhou.
A exposição é constituída por 35 objetos cedidos pelos museus regionais e por residentes do Corvo.
Os museus das ilhas das Flores e de Santa Maria, por exemplo, contribuíram cada um com uma colcha tecida em lã e o museu de Angra do Heroísmo participa com uma balança de lã e uma roda de fiar em miniatura.
Os museus da Horta (Faial) e da Graciosa estão representados com “peças lindíssimas em miniatura”, incluindo “uma roda de fiar que tem uma pequena peça em osso de baleia”.
Já o museu do Pico cedeu uma camisola de lã do típico baleeiro e o Museu Carlos Machado (São Miguel) um barrete tricotado, “que é o reflexo do labor quotidiano dos homens micaelenses”.
A comunidade do Corvo está representada por colchas, camisolas, cobertores, barretas, cardas, rolos de tecido, entre “outros fragmentos do mundo autossuficiente, onde a lã era mais que um material, era uma linguagem de sobrevivência e de comunhão”, segundo a diretora do Ecomuseu.
A mostra é um elogio ao “trabalho invisível” e à “herança partilhada”, para que os objetos e o saber associado ao ciclo da se mantenham vivos nas futuras gerações.
As peças “estão dispostas num circuito organizado, em que as pessoas podem percorrer todo o espaço”, e também existem conteúdos multimédia.
O percurso alia a tradição e a inovação, com informações em formato bilingue (português e inglês) e através de QR Code.