Diogo Rola passou a sua infância no Porto Martins e estudou em Angra do Heroísmo, ilha Terceira. Um infância boa, disse, refletindo: “É engraçado, porque quando ficamos adultos pensamos um bocadinho mais nessas coisas e começamos a perceber que nem toda a gente tem uma infância igual”. Quando foi estudar para Lisboa tinha 20 anos e “percebi que realmente existiam pessoas que tinham crescido no meio de prédios e asfalto, e eu cresci à beira-mar, a andar de bicicleta, a saltar muros, a jogar à bola com o meu irmão. Portanto, foi uma infância boa”.
É realizador e fotógrafo, um gosto que surgiu um “bocadinho por exclusão de partes”. Fez um curso de Audiovisual e Multimédia. Quando terminou queria ir para a universidade mas não sabia para quê e “acabei por ir para Audiovisual Multimédia novamente, para a Escola Superior de Comunicação Social”, conta. Logo no primeiro semestre do primeiro ano entrou para a Associação dos Estudantes, “comecei a tirar fotos e a fazer vídeos de tudo o que era evento. No segundo ano já sabia que o meu interesse era a área do Audiovisual”. Depois disso “fiz um curso de realização na World Academy e também estudei marketing digital na pós-graduação. Mas foi assim que tudo começou”.
Recorda que quase no final do curso na World Academy fez um estágio “numa empresa de cinema, mas era mais conteúdos digitais e passei lá poucos meses”. Passou também por outra empresa, mas as “condições não eram boas e por esse motivo, por ter compreendido a exploração e também a concorrência, acabei por começar a trabalhar como freelancer”. Adianta que foi “assim a maior parte do tempo, mas há exceções”, porque em 2019 gravou a primeira temporada dos ‘Mal-Amanhados’, série da RTP Açores. “Foi o primeiro projeto que fiz com uma dimensão grande, e no final desse projeto fui para a Dinamarca com o objetivo de lá ficar três meses”, mas acabou por ficar 10 meses porque surgiu a Covid-19, estive “numa quinta a trabalhar com cavalos, nada a ver com a minha área”.
Regressa à Terceira e decide dar uma oportunidade a si próprio de viver nos Açores. “Sair para o que fosse preciso, mas viver nos Açores e trabalhar nesta área”. Não está arrependido da decisão que tomou porque “não sei que vida teria tido se tivesse ido para o outro local. Não gosto de pensar muito nos ‘ses’. Agora, tive de fazer as pazes comigo mesmo, ou seja, não estou à espera de estar na ilha Terceira e de ir fazer um filme para a Netflix”, afirma, explicando que “tenho os pés assentes na terra, sei onde é que estou, sei que voltei para os Açores, e que, se calhar, em Portugal Continental poderia estar só a fazer séries ou documentários, projetos maiores. Aqui não. Aqui faço um bocadinho de tudo”.
Quando falámos com Diogo Rola, ele estava a cobrir o Festival Rua Direita, na ilha Terceira. E no fim de semana anterior “estive a filmar um casamento, ou seja, aqui faço um bocadinho de tudo”. Admite que “um dos problemas desta área é gerir. Gerir não só o tempo, como por exemplo, se não tenho projetos maiores faz muita diferença, quer a nível de trabalho, quer a nível financeiro. Os projetos maiores dão muito trabalho, são muitos meses a trabalhar no mesmo projeto, e essa irregularidade, às vezes, é difícil de lutar com ela psicologicamente...”. Afirma que “às vezes, na brincadeira, dependendo das alturas, digo que apetece virar a mesa e desistir. Mas nem sempre é assim”, refere bem disposto, até porque no “verão, por exemplo, há mais trabalho e tenho que aproveitar, porque sei que no inverno vou ter menos trabalho, provavelmente vou estar a editar. É uma vida que não é para qualquer pessoa”.
Por forma a ter um ‘plano b’, Diogo Rola começou a experimentar outra área. Explica que “já há algum tempo que queria experimentar outra coisa, mas não sabia bem o quê. Como o meu pai é engenheiro, ligado à engenharia civil, estava a ver se conseguia fazer algo nesta área, mas percebi que convinha fazer um curso, então acabei por experimentar a área imobiliária. Estou a fazê-lo, não porque neste momento as coisas estão a correr mal, mas a pensar no sentido de quando correrem mal quero ter outra coisa que me acuda. Ou seja, há sempre esse medo, o medo das coisas correrem mal. Há sempre um risco”.
Ficção sempre foi “aquilo que quis fazer” e explorar as histórias dos Açores também. O seu primeiro projeto, a curta-metragem ‘Santa Rita Dream’, reflete este seu gosto. Com argumento de Alexandre Borges, a curta demorou alguns anos a realizar porque Diogo Rola, não só queria fazer uma coisa “com qualidade para não ter vergonha em mostrá-la, mas também porque são os projetos mais difíceis de conseguir e receber alguma coisa por eles. Esse é um projeto para o qual não fui pago. O meu pagamento foi em realização, no sentido de ter conseguido fazer o projeto”.
Amigo de longa data de Luís Filipe Borges, Diogo Rola conta-nos que era um desejo dele em realizar “um filme ou uma curta. Um dia disse-lhe que o ajudava. E assim foi e nasceu o ‘First Date’”, no qual Diogo é diretor de fotografia e de montagem, um trabalho que “está a ter um resultado muito bom. Portanto, com o ‘First Date’ veio a evolução e isso é fantástico”. É com Luís Filipe Borges que Diogo Rola tem feito alguns projetos, nomeadamente o ‘Work in Progress’, o ‘Caixa Negra’. Fez também os ‘Lugares da Escrita’, “uma série com escritores, um em cada ilha dos Açores, com a Marta Silva, da RTP Açores. Foi um projeto também super-interessante (...)”, disse para acrescentar que a nível nacional, já fiz duas temporadas do ‘Quanto Mais Me Bates’, com o António Raminhos, e estamos a gravar a segunda temporada da série ‘Mal Amanhados’”.
Para além disto, Diogo Rola realizou o documentário ‘Cordas’ da ilha do Pico que foi exibido em mais de 270 festivais e em 66 países, e tem feito trabalhos a nível turístico, com destaque para o projeto da Associação de Turismo Sustentável do Faial, “em que fiz um vídeo por cada estação do ano. Aliás, o primeiro vídeo deu-me um prémio no Montanha do Pico Festival. Fiz também, com oito municípios, um vídeo dos Açores para a candidatura à Cidade Europeia do Vinho 2026. Foi um projeto também muito interessante”.
Tem o desejo de realizar “uma série nos Açores, em várias ilhas ou só na ilha Terceira... mas gostava de encontrar um bom conceito para fazer uma série que fosse atual. Aqui nos Açores, com pessoas de cá... é um desejo que de vez em quando falo com eles, com o Luís, com o Alexandre e eles incentivam”. Mas “tinha que ser o projeto certo para em termos económicos conseguir fazê-lo e ao mesmo tempo não deixar de ser interessante, precisamente pelas barreiras económicas”.
A finalizar, Diogo Rola não quis deixar de agradecer “a todas as pessoas que me ajudaram até agora e que me ajudam sempre, porque é impossível realizar projetos audiovisuais nos Açores sem a ajuda das pessoas”.
