Autor: Maria Andrade
Açoriano de coração, nascido em Lisboa, o chef Carlos Nuno encontrou nas ilhas não só as raízes da sua família materna, mas também a base de um projeto que vai muito além da restauração. O Sintonia Experience, sediado na freguesia de São Mateus, na Ilha Terceira, é um laboratório gastronómico vivo, onde tradição e modernidade se cruzam, com a ambição clara de elevar a identidade culinária da região a um novo patamar.
“Os Açores sempre foram, para mim, uma segunda casa. Sinto até um certo dever, quase um compromisso pessoal, com o desenvolvimento da região, em homenagem à minha família”, disse em entrevista ao Açoriano Oriental.
Nos pratos que coloca na mesa dos seus clientes, o objetivo é claro: servir “cozinha moderna portuguesa com alma açoriana”, “feita com tempo, carinho e respeito pelo ingrediente com técnicas contemporâneas e novas formas de apresentar esses mesmos sabores. Gosto de pensar que a minha cozinha é uma ponte entre o passado e o presente, entre a tradição e a inovação”, explica o chef.
O conceito traduz-se em menus curtos, sazonais e baseado quase exclusivamente no produto local. O peixe é de pesca artesanal, as carnes vêm de criadores selecionados, e apenas três ingredientes chegam de fora do arquipélago: arroz, azeite e camarão. Tudo o resto é colhido, pescado ou criado nas ilhas, em colaboração direta com produtores locais.
“Os Açores têm uma riqueza única de produto, desde o peixe fresco aos lacticínios, às frutas e legumes cultivados em ambiente vulcânico. O meu ponto de partida é sempre o produto local. Em cada prato, é o elemento central”, afirmou o chef.
Para Carlos Nuno, de apenas 23 anos, a insularidade não é um obstáculo, mas sim um motor criativo. “É essa necessidade de adaptação constante que nos obriga a estar sempre a criar. A insularidade desafia-nos diariamente, mas também nos conecta de forma muito direta com a natureza e com os ciclos reais da produção local. E isso dá autenticidade e identidade ao nosso trabalho”, disse.
Ao chegar à região, Carlos Nuno diz ter-se deparado com um público ainda conservador em relação à gastronomia, habituado a pratos generosos e pouco recetivo à inovação. O desafio passou por introduzir uma linguagem de fine dining sem impor um conceito fechado. A solução foi encontrar um equilíbrio: respeitar os sabores e a identidade local, mas elevar a técnica, o empratamento e a experiência à mesa. Com uma carta curta e direta, o chef conseguiu conquistar gradualmente a confiança dos clientes, conduzindo-os subtilmente por experiências mais elaboradas, sem elitismo, mas com intenção e cuidado.
Além de um restaurante, o Sintonia assume-se como um projeto com o propósito de criar oportunidades na região, atraindo e fixando talento nas ilhas, enquanto mostra ser possível fazer gastronomia de autor com identidade regional. A organização de eventos com chefs convidados e aposta na formação de equipas locais fazem parte desse visão de futuro, confessa Carlos Nuno ao AO.
“O Sintonia é mais do que um restaurante é um projeto vivo e em constante evolução, que procura contribuir ativamente para o desenvolvimento da gastronomia regional nos Açores”, afirma o chef.
O chef Carlos Nuno, com experiência em casas de renome como o restaurante Alma, do chef Henrique Sá Pessoa, e o El Celler de Can Roca, em Girona, abriu ao público a 18 de julho o Sintonia Experience. Situado em São Mateus, no Lawn Tennis Club da Ilha Terceira, o restaurante reflete a sua visão de uma cozinha contemporânea com alma açoriana.