Açoriano Oriental
Escavações em igreja de Vila Franca do Campo revelam “remeximento muito grande” em sepulturas

Escavações arqueológicas no interior da igreja do antigo convento de Santo André, em Vila Franca do Campo, Açores, revelaram um “remeximento muito grande” de duas sepulturas, ossadas de nove pessoas e espólio “muito reduzido”, segundo fonte da autarquia

Escavações em igreja de Vila Franca do Campo revelam “remeximento muito grande” em sepulturas

Autor: Lusa/AO Online

O coordenador do projeto, o arqueólogo municipal Diogo Teixeira Dias, disse à agência Lusa que nas prospeções arqueológicas, realizadas na capela-mor da igreja, numa área com cerca de cinco metros quadrados, foram identificadas ossadas em duas sepulturas de “nove pessoas diferentes”, entre adultos e crianças, que terão sido sepultadas entre os séculos XVI-XVIII.

Os trabalhos decorreram entre 14 e 30 de julho e envolveram cerca de doze elementos, incluindo três arqueólogos, uma conservadora-restauradora e voluntários.

Em termos de espólio, o arqueólogo adiantou que os investigadores encontraram alguns vestígios de vestuário (uma fivela e tecidos), metais “não muito representativos” e “alguma cerâmica”, seguindo-se a sua análise laboratorial.

“Não encontrámos grande espólio associado porquê? Porque, ao que tudo indica, estas sepulturas terão sido remexidas. Ou seja, alguém entrou, escavou. Nós temos indícios disso. […] Só uma parte do conjunto de ossadas é que estava ‘in situ’, ou seja, no seu sítio original. O restante, e como são nove pessoas, duas sepulturas […], independentemente de serem ossários conjuntos ou não, acaba por ser um conjunto considerável, para o tipo de espólio que nós encontrámos”, relatou.

Diogo Teixeira Dias destacou que os investigadores encontraram “um remeximento muito grande” e “um número muito reduzido e pouco valioso de espólio”, admitindo que, no passado, aquele espaço foi remexido e possivelmente saqueado, para “retirar o que as sepulturas tinham de melhor”.

“Não temos 100% de certeza disto, mas tudo indica que sim, até pelo nível de remeximento que as sepulturas têm e, sobretudo, pela total ausência de espólio. O que era valioso em termos materiais, já terá desaparecido, já terá sido retirado do local”, declarou, admitindo que perdeu-se informação “para sempre”.

As escavações foram realizadas na parte pública da igreja, onde estariam sepultados os fiéis leigos, uma situação comum até à lei dos cemitérios, no século XIX, quando as pessoas deixaram de ser sepultadas nas igrejas e nos adros.

Como as escavações tiveram lugar na capela-mor da igreja, as ossadas encontradas pertencerão às pessoas de de Vila Franca do Campo “mais importantes à época”.

“A partir de agora, com um conjunto de análises de carbono 14, de ADN, entre outras, conseguiremos chegar a certas conclusões, nomeadamente que idade é que a pessoa tinha quando morreu, que doenças é que tinha e, sobretudo, fazer, eventualmente, uma conexão genética e perceber se há relações de parentesco” entre as ossadas.

Segundo o coordenador do projeto, os estudos irão “dar uma informação valiosíssima para o conhecimento de como viviam os vilanfranquenses na época, porque trata-se, certamente, do primeiro estudo antropológico sobre Vila Franca do Campo nestas dimensões”.

Os trabalhos do gabinete de arqueologia da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo continuarão no próximo ano.

A igreja de Santo André está a ser alvo de uma intervenção científica e multidisciplinar desde março deste ano e o projeto é promovido pelo município, na ilha de São Miguel, e pela Diocese de Angra, proprietária do imóvel.

O projeto conta com o apoio de diversas entidades científicas e culturais, públicas e privadas, como a Academia das Artes da Universidade dos Açores, o CHAM - Centro de Humanidades e a Fundação Sousa d’Oliveira.

O monumento, que se encontra fechado ao público, está classificado como Imóvel de Interesse Público desde 2008.

A igreja de Santo André integra o convento com o mesmo nome e a sua origem remonta à reconstrução da vila após o terramoto de 1522.

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