Autor: Paula Gouveia
É a primeira vez que expõe o seu trabalho numa instituição francesa. Na exposição, Le Moindre Souffle (O mínimo sopro), a fotógrafa açoriana Sandra Rocha, leva os Açores, em grande escala, ao CPIF - Centre Photographique Île-de-France.
“O meu trabalho parte sempre de um princípio muito simples que é o de fotografar algo que é sentido como natural - animais, plantas, microrganismos, fenómenos físicos ou atmosféricos, e os Açores são um território de excelência para dar corpo a esta abordagem”, diz Sandra Rocha.
No CPIF, o 
público francês  pode ver imagens captadas “em muitos lugares 
diferentes, em muitos anos diferentes - há imagens de 2010 e muitas 
outras de 2020 e 2021”, revela  a fotógrafa que passa parte do ano em 
França. “Muitas das imagens são realizadas nos Açores, lugar com o qual 
tenho uma relação uterina e intensa”, confessa. 
“Mesmo passando muito 
tempo na ilha Terceira, sinto sempre que há no meu trabalho uma certa 
nostalgia que se reflete na minha hiper atenção à fragilidade e à beleza
 dos lugares e das pessoas”, explica, acrescentando que “os Açores fazem
 parte da minha vida e nesta exposição pode ver-se, em grande escala: 
cascatas de São Jorge, piscinas naturais de São Miguel, enxofre da 
Terceira. As águas quentes e coloridas pelo enxofre, a lava a contrastar
 as diferentes espécies de plantas verdes são um verdadeiro jardim de 
Éden -cenários perfeitos”, realça. 
Há depois “outras imagens que foram realizadas em aquários, jardins botânicos, jardins zoológicos”, explica a fotógrafa, natural da Ilha Terceira.
A exposição Le Moindre
 Souffle surge de um convite de Nathalie Giraudeau, a diretora do CPIF -
 Centre photographique Île-de-France. “Entre 2018 e 2019, procurámos a 
melhor forma de concretizar a exposição, e quando abriram os apoios da 
Fundação Calouste Gulbenkian, dirigidos a mostras de artistas 
portugueses em instituições francesas, decidimos avançar de forma mais 
ambiciosa”, conta. “E o que era suposto ser uma mostra de trabalhos já 
produzidos, passou a ser uma mostra de trabalhos inéditos e de outros 
nunca antes produzidos”, conta. 
“É a minha primeira exposição numa 
instituição francesa. Para além das três monografias publicadas nas 
Edições Loco, o público francês ainda não tinha tido a oportunidade de 
descobrir o meu trabalho noutro suporte”, repara Sandra Rocha que 
confessa estar “extremamente satisfeita com esta possibilidade, e também
 com o facto de estar a dar a descobrir o exotismo e a beleza das nossas
 ilhas”. 
“O público, geralmente, pergunta onde fica os Açores, e 
mostra-se completamente fascinado”, diz por isso que “é um excelente 
cartão de visita do arquipélago”. 
Sobre o conceito da exposição, 
Sandra Rocha explica que  “o projeto parte de questões em torno do 
Antropoceno”, “questões que ganharam contornos muito precisos durante o 
primeiro confinamento: como pode a nossa civilização regenerar-se, 
permitindo que cada uma das suas espécies existam em harmonia umas com 
as outras? Todos nós pertencemos à Terra, mas o que fizemos com ela? Com
 o domínio dos humanos sobre a natureza, pode a nossa civilização 
garantir harmonia entre as espécies? Fazer coabitar humanos e animais, 
minerais e plantas sem distinção ou hierarquia e estabelecer um diálogo 
(uma reconciliação?) entre os mundos, assim como desafiar o nosso status
 como ser vivo”. 
“De março a setembro de 2020, vivemos uma incerteza
 coletiva, uma angústia enorme perante as nossas fragilidades mas, ao 
mesmo tempo, também acreditei que haveria inevitavelmente uma 
regeneração, uma mudança a chegar. E é por isso que a beleza das minhas 
imagens denunciam um mundo de aparente tranquilidade, aberto a toda e 
qualquer transformação”, revela. 
O que a interessa na fotografia “é a
 possibilidade que ela me oferece para questionar o mundo e refletir 
sobre questões ancestrais: como conviver com a nossa identidade, 
sexualidade, feminilidade? Como reagir àqueles que se parecem connosco 
mas que também nos são estranhos?”, explica. 
Entre mãos tem agora um
 novo projeto, em conjunto com  o compositor e músico francês, François 
Joncour, a desenvolver no âmbito da Temporada cruzada entre Portugal e 
França 2022. “O François esteve comigo nos Açores em julho e agosto, e 
agora em janeiro vou ter com ele à Bretanha. Nos nossos encontros de 
trabalho na ilha Terceira e na ilha de Ouessant, estamos a desenvolver 
uma ideia em torno da figura da Sereia, que será apresentada em quatro 
instalações de vídeo, onde as criações sonoras do François e as minhas 
imagens se fundem”. O projeto é apresentado na primavera de 2022 em 
Brest, e em finais de setembro de 2022 em São Miguel, na Galeria Fonseca
 Macedo, que acompanha a fotógrafa há mais de uma década. 
Sandra Rocha também está a trabalhar pela primeira vez com arquitetos: o atelier parisiense Martel convidou-a a a intervir no hall de entrada de um prédio em construção em Boulogne Billancourt.
 
                     
                                             
                                             
                                             
                                             
                                             
             
                                                 
                                                 
                                                