Autor: Lusa/AO Online
“Aqui não há nada que possa ou deva gerar tensão nas relações entre Moscovo e Washington”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, durante a conferência de imprensa telefónica diária, citado pela agência de notícias espanhola EFE.
“Garantir a segurança da Rússia é uma questão de importância vital, especialmente no contexto do ânimo militarista que agora ouvimos principalmente dos europeus”, afirmou.
O Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou no domingo a realização do teste final de um míssil Burevestnik, num vídeo divulgado pelo Kremlin.
“Os testes decisivos estão agora concluídos”, disse Putin durante uma reunião com chefes militares, a quem ordenou que começassem a “preparar as infraestruturas para colocar” o míssil ao serviço das forças armadas russas.
Putin afirmou que o Burevestnik tem um “alcance ilimitado” e é “uma criação única que mais ninguém no mundo possui”.
O teste realizou-se em 21 de outubro e o míssil percorreu 14.000 quilómetros durante quase 15 horas de voo, segundo o Estado-Maior do Exército russo.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, considerou hoje que o ensaio não foi apropriado, e pediu a Putin que se concentrasse em pôr fim à guerra na Ucrânia.
“Não creio que seja apropriado. Uma guerra que deveria ter durado uma semana já está quase a fazer quatro anos. É isto que [Putin] deveria fazer, em vez de testar mísseis”, disse Trump.
O porta-voz do Kremlin insistiu que o teste efetuado pela Rússia responde aos países europeus, que acusou novamente de prosseguirem um caminho de agressividade em relação a Moscovo.
“Os europeus efetivamente encontram-se num estado de histeria, russofobia, agressividade e belicosidade. É claro que, nestas condições, a Rússia deve fazer tudo o que for possível para ser capaz de garantir a própria segurança”, afirmou.
Peskov disse que Moscovo se dedica “de forma consequente” a garantir a segurança da Rússia.
“É no âmbito dessa missão que se desenvolvem novos equipamentos de armamento, tal como o sistema anunciado”, argumentou.
O porta-voz considerou que o ensaio com o Burevestnik não pode provocar uma deterioração em relações com os Estados Unidos, que apenas agora começam a restabelecer-se.
“Este processo complica-se pelas medidas tomadas contra nós (...) Mas, de qualquer forma, partindo dos nossos próprios interesses, continuamos abertos ao diálogo”, disse, numa alusão às primeiras sanções aprovadas por Trump contra a Rússia.
Na sequência do anúncio do ensaio russo, Trump foi questionado hoje sobre se pensa impor novas sanções, após as adotadas na semana passada contra as duas maiores petrolíferas russas, Lukoil e Rosneft.
“Já o descobrirão”, limitou-se a responder.
Em relação ao anúncio dos militares russos de que o míssil testado percorreu 14.000 quilómetros, Trump comentou que a Rússia sabe que os Estados Unidos têm “um submarino nuclear, o melhor do mundo, mesmo em frente à sua costa”.
“Portanto, bem, não tem de percorrer 8.000 milhas [cerca de 12.800 quilómetros]”, insistiu o chefe da Casa Branca.
A Rússia decidiu proceder ao desenvolvimento do Burevestnik quando os Estados Unidos abandonaram em 2001 o tratado antimísseis, subscrito por Moscovo e Washington em plena Guerra Fria (1972), para criar o seu próprio escudo antimísseis.
Putin dirigiu esta semana manobras das forças nucleares russas por terra, mar e ar, logo após o cancelamento da cimeira de Budapeste com Trump devido à recusa de Moscovo em cessar as hostilidades na Ucrânia.