Autor: Lusa/AO Online
Sem nunca mencionar diretamente o nome do líder do partido Chega, Paulo Rangel fez esta crítica na Universidade de Verão do PSD, uma iniciativa de formação de jovens quadros, num painel intitulado “Um Mundo com mais radicalismos?”.
“Quando nós vemos alguns vídeos que são verdadeiramente quase caricaturas do que é estar ao lado dos bombeiros, dos incêndios, isto é um ultraje aos bombeiros e às pessoas que viveram os incêndios, não é nenhum heroísmo”, acusou.
O antigo eurodeputado considerou que, se tal fosse feito “por um político do PSD ou do PS, seria altamente criticado pelos media”.
“Mas, na panóplia de comentadores, pouca gente critica isto, se fosse um político tradicional estaria absolutamente cilindrado. Temos de ter coragem de levantar a voz e denunciar isto, não se pode ter medo dos radicais, se tivermos medo estamos a fazer aquele jogo que querem que nós façamos”, criticou.
Num painel em que também interveio o antigo ministro socialista Nuno Severiano Teixeira, atual presidente da direção do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), Rangel defendeu – tal como tinha feito na segunda-feira o autarca e dirigente do PSD Carlos Moedas – uma equivalência entre os radicalismos de esquerda e de direita ao longo da história.
“Não há, de facto, uma diferença de qualidade entre um radicalismo de esquerda e um radicalismo de direita”, disse, admitindo que, atualmente, “se agita muito o radicalismo de direita” quer no plano nacional como internacional.
Questionado por vários alunos da Universidade de Verão do PSD, que decorre em Castelo de Vide (Portalegre), como devem reagir os partidos moderados a este crescimento dos partidos de extrema-direita, Rangel admitiu que têm de ser combatidos “com as armas que eles próprios usam”, nomeadamente nas redes sociais.
“Se há inimigos da liberdade, da democracia, da moderação, dos direitos humanos e da separação de poderes, eles só podem ser combatidos com as armas que eles próprios usam. Não podem ser combatidos com alfaias agrícolas ou com uma espada, como o Dom Afonso Henriques, nas redes sociais”, ironizou.
Por outro lado, defendeu a importância de os partidos de centro-direita e de centro-esquerda “moderados e vivos” serem capazes de manter pontes de diálogo.
“A grande tentação que têm o centro-direita e o centro-esquerda é radicalizar o discurso para rivalizarem com os seus concorrentes ou competidores que são radicais. Isto, do meu ponto de vista, é um erro”, defendeu.
Para Rangel, se um partido “está disposto a jogar as regras do jogo, ele é um adversário, não é um inimigo”.
“E é como um adversário que tem de ser tratado. E com o adversário é como no futebol. Umas vezes ganha-se, outras vezes perde-se (…) Nós temos que ser respeitadores daqueles que, tendo ideias muito diferentes das nossas, respeitam as regras do jogo”, afirmou.
O número dois do Governo deixou conselhos aos jovens alunos da Universidade de Verão do PSD, para que tenham espírito crítico e não queiram apenas ter ou ser seguidores nas redes sociais, mas também à comunicação social, que considerou não ser “isenta de responsabilidade no crescimento da demagogia e do populismo”.
“O jornalismo e os media, em muitos casos, deixaram de ser mediadores e passaram a ser imediadores”, disse, lamentando que não haja mais “meditação e ponderação” no acompanhamento mediático dos temas.
Nuno Severiano Teixeira alertou para os desafios que a mudança na ordem internacional – com menos regras e maior peso da “diplomacia coerciva” dos negócios - colocará a Portugal, um país “simultaneamente atlântico e europeu”.
“O que para nós será pior é sermos obrigados a escolher entre um dos lados do Atlântico, vai colocar enormes desafios à política externa”, anteviu.