Açoriano Oriental
“Tenho a idealização de um dia ficar mais próxima daquilo que é o meu sonho num concerto”

Maria Carolina. Psicóloga Clínica e cantautora, consegue conciliar as suas duas paixões, desenvolvendo o projeto ‘Ser e Criar’, que ainda está a dar pequenos passos, mas importantes. Diz que foi o amor que a transformou,  o que está refletido no seu álbum ‘metAMORfose - conheceu o amor através da luz colorida’


“Tenho a idealização de um dia ficar mais próxima daquilo que é o meu sonho num concerto”

Autor: Susete Rodrigues

A música sempre esteve presente na vida de Maria Carolina. Em criança, quando saía de carro com os pais, ia cantando, algo que “a minha filha também faz”, diz com um brilho nos olhos. O gosto pela música e o gosto em ajudar o outro são características que ainda “hoje fazem parte da minha vida e cada vez mais sinto que estão interligadas”. Por conseguinte, a escolha pela psicologia não surpreende. Licenciada em Psicologia Clínica, Maria Carolina afirma que “às vezes sentia que podia ser uma coisa ou outra. Ou ser artista ou ser psicóloga. Mas, cada vez mais, vejo que as coisas se podem interligar e fazem muito mais sentido juntas”, acrescentando que “a música foi terapêutica para mim. Acompanhou-me nos momentos melhores e mais difíceis. Ajudou-me”. Desta forma, “acho que ajudar os outros através da música é fantástico e está provado que tem efeitos positivos e que são duradouros ao longo do tempo”. Nesse sentido, desenvolve o projeto “Ser e Criar” que já falaremos mais à frente.

Da sua infância tem muitas boas memórias: “brincar muito em casa com o meu irmão, com os meus primos. Por exemplo, no verão, gostava muito de ir passar as férias com os meus avós nas Capelas. Tinham uma casa de férias com quinta, com frutos e apanhava os frutos das árvores”. Por outro lado, “tenho uma família que realmente cita o amor desde pequena”. Recorda que o “meu pai arranjava sempre uns microfones pequenos que ligava à aparelhagem e cantava. Ao sábado era dia limpar os discos de vinil e depois cada um ouvia o seu disco preferido”.

A adolescência já foi diferente, também feliz mas “um pouco mais fechada, aquela fase mais de introspeção, de perceber o que é que se passa no mundo. E escrevia muito - já na infância também - na adolescência um pouco mais, filosofar sobre a vida”, conta-nos. Um dos seus hábitos era “colar-me à aparelhagem a ouvir música e a tentar decifrar as letras, passar muitas vezes para trás e para a frente as músicas, para absorver um pouco mais o significado das letras”.

Terminou a licenciatura, começou a trabalhar e a parte da criatividade ficou adormecida. Não se lembra quantos anos é que ficou sem escrever. Fez o mestrado, uma pós-graduação, “já tinha trabalhado em várias áreas e estava bastante satisfeita nesta parte”. Aos 35 anos, surge “uma crise emocional que me obrigou a estar comigo novamente. Estava naquela fase de ficar completamente sozinha, de perceber que a minha vida não tinha ido no sentido que tinha sonhado”. Numa noite, “olhando para a lua, veio aquela melodia que costumava sentir. Disse para mim: ‘tenho ali o teclado porque é que não vou lá experimentar?’ - o meu antigo teclado que a minha mãe encontrou numas limpezas lá em casa - e fiz aquela música, “Room in my heart”, que nunca a editei. Mas aquela música não me saía da cabeça (…) toquei muitas vezes, mas a minha questão era se aquilo era mesmo uma música e tinha a necessidade de perguntar às pessoas”, relata.

Tomou a decisão de comprar um piano. “Não disse nada a ninguém e todos os dias ficava lá sentada, saía do meu trabalho e ia para o piano. Ia escrevendo, ia ouvindo o som e foi tranquilizante. Por isso, o álbum  ‘metAMORfose - conheceu o amor através da luz colorida’, é sobre isto. Foram capítulos... O amor, porque realmente foi o amor que me transformou, foi voltar a conectar-me com o amor”. Foi nessa altura que “conheci o Paulo, que é o amor da minha vida, um amor muito sincero e engravidei da Viviane. Dizia na altura: ‘Um agradecimento especial à vida’. Daí o nome dela ser Viviane, que significa vida e ela já aparece no álbum”, refere com os olhos a brilhar.

A primeira vez que subiu ao palco foi em 2020 no Tremor. Nesse concerto, Maria Carolina levou o primeiro CD - ‘Momento’ - e foi um desafio, como nos conta: “Estava muito calma, mas chego ao palco e o pedal do piano deixou de funcionar. Este primeiro CD são acordes e preciso de um certo prolongamento nas notas para dar aquele preenchimento. Tentamos corrigir o problema, mas nunca conseguimos. Portanto, fiz o concerto todo a tentar superar aquelas dificuldades e correu bem”.  

Os concertos seguintes já foram melhores, ainda assim teve sempre algumas peripécias. “Já toquei em pianos em que as teclas não funcionavam, o meu segundo concerto - que foi gravado para a RTP - tinha acabado de ser mãe e estava doente há já dois meses, mas subi ao palco, com febre, a antibiótico”. No Azores Fringe Festival deste ano, “acordei afónica no dia da viagem, mas fui e as pessoas adoraram, compreenderam a mensagem toda, o que é incrível. Mas já percebi que faz tudo parte”. O que tira dessas experiências é que “por mais difícil que seja acaba sempre por valer a pena (...)”.

Questionada sobre como concilia a sua vida profissional com a música, Maria Carolina explica que as duas estão lado a lado e neste momento tem o projeto, “Ser e Criar” de Psicologia Clínica e da Saúde Neuromodulação Não Invasiva e Artes/ Música Terapêutica, “onde consegui integrar as artes e a música terapêutica”. Um projeto em que “trabalho com sessões em grupo mas também quero integrar os concertos no próximo ano. Já fiz uma pequena experiência no Fringe. Faço o concerto e depois um pequeno momento de interação com o público, para sentirem um bocadinho o que é que é esta música terapêutica. As pessoas subiram ao palco. Viram-me a tocar e a cantar de uma forma mais próxima”. Tem também um projeto com “o ‘Mantra Nostrum’, com o Paulo Bettencourt. Estamos em gravação para um CD. Mas há muita dedicação. Tanto na área da psicologia, como na música (...)”. 

Sublinha que não consegue fazer tudo como queria, “ainda tenho a idealização de um dia ficar mais próxima daquilo que é o meu sonho num concerto”. Este sonho - que já teve uma primeira experiência no Fringe como nos disse - “seria um concerto onde se privilegia muito a palavra, algo que conseguisse estimular mais as pessoas a este nível. Tudo o que seja para melhorar a experiência da música com a relação com as pessoas, este é o meu grande propósito. Não se sabe se um dia será possível ou não”.

Em forma de desabafo, Maria Carolina salienta que “às vezes questiono porque é que é preciso morrer para se ter alguma notoriedade? Claro que faz todo o sentido relembrarmos a nossa história, mas também acho que faz muito sentido começarmos a descobrir quem é que fará a história amanhã. Não estou a falar de mim, estou a falar de artistas, compositores e cantautores que estão cá e que também vão contando a história do nosso arquipélago, das nossas gentes, das nossas vivências, da nossa insularidade, mas de uma forma mais moderna. Acho que isto não é valorizado”. 

Por isso “tenho que agradecer, por exemplo, à Antena 1, à Rádio Comercial dos Açores, porque algumas rádios ajudam muito os artistas para que os seus temas sejam conhecidos. Se não passarem na rádio ninguém os vai conhecer e isso cria um bocado de ansiedade, e em alguns casos, acredito que muita desmotivação”.

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