Autor: Lusa/AO Online
“Se não colocarmos ambição, e em particular Portugal, se não colocar ambição, não teremos a escala necessária, primeiro para produzir efeitos – efeitos práticos, efeitos de mercado, efeitos na economia, - e depois não estamos também a contribuir para o efeito de grupo, que é a construção da resiliência europeia”, disse à Lusa o presidente da Agência Espacial Portuguesa.
Em entrevista à Lusa a propósito dos 50 anos da ESA, que se celebram na sexta-feira, Ricardo Conde defendeu que Portugal deve aumentar a sua participação para um mínimo de 1% do orçamento da agência europeia no próximo conselho ministerial, que decorre em 26 e 27 de novembro em Bremen, na Alemanha.
No último conselho, em 2022, Portugal aumentou a participação de 102 para 114 milhões de euros, mantendo a proporção de 0,7% do financiamento total da agência.
Portugal é o 10.º país, dos 27 países financiam a ESA, que menos financiamento concede à agência.
A Alemanha (20,8%), a França (18,9%), Itália (18,2%) e o Reino Unido (11,2%) são os países que mais contribuem.
A contribuição portuguesa para a Agência Espacial Europeia é feita através do orçamento do Estado.
Questionado sobre o papel do financiamento privado na ESA, o responsável disse que já existe, embora não numa dimensão semelhante à dos Estados Unidos, porque na Europa “há muito medo de falhar”.
Para Ricardo Conde, é necessário que o setor espacial europeu possa ter cada vez mais capital privado, para o que defende a existência dos chamados ‘anchor customers’: “Os Estados que investem 50% numa determinada constelação, que desbloqueia assim a capacidade dos privados”, ao verem que há uma garantia no investimento público.
“Eu gostava que o mercado espacial atingisse (…) a regra dos terços: Um terço investimento público, um terço de fundos estruturais, projetos, e um terço de mercado e capitais privados”, disse.
Esta ambição é ainda mais importante quando o governo de Donald Trump prepara cortes orçamentais de 24% na agência espacial norte-americana (NASA).
“Os programas conjuntos [com a NASA] vão ser afetados [pelos cortes]. A Europa tem uma agenda muito forte no espaço por causa da sustentabilidade. Isso é algo que está perspetivado deitar para o lixo. Então vai ter uma implicação imediata”, alertou.
Mas os cortes orçamentais na NASA podem também ser “uma oportunidade para a Europa se reforçar”.
“A Europa não tem capacidade para colocar astronautas em órbita. Tem de a construir”, disse Ricardo Conde, lembrando que os astronautas europeus viajam “à boleia” dos EUA.
“Se quisermos ter um papel na próxima economia espacial, naquilo que se antevê, ou que já é economia espacial, temos de ter a componente de acesso ao espaço na sua plenitude (…). Temos de fazer uma evolução brutal daquilo que é o nosso sistema de lançamento. Ou seja, copiarmos um bocadinho o que os Estados Unidos estão a fazer”.
Para isso, defendeu, é preciso que haja “um conjunto de boas vontades” no conselho ministerial de novembro, quando se decidirá o orçamento para o próximo triénio.
“Cada um faz a sua parte. Cada uma das agências está a fazer a sua parte. Nós vamos fazer a nossa parte e temos tido muito boa recetividade do Governo”, concluiu.
A Agência Espacial Europeia (ESA na sigla em inglês) foi criada em 30 de maio de 1975, com 10 Estados-membros, e hoje soma 23, incluindo Portugal, que tem cientistas e empresas envolvidos em diversas missões.
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