Autor: Daniela Arruda/Ana Carvalho Melo
A possibilidade de o serviço de hemodiálise do Hospital Divino Espírito Santo (HDES) passar a ser realizado por clínicas privadas foi anunciada, após a audiência entre a Associação Portuguesa de Insuficientes Renais (APIR) e a secretária regional da Saúde. Até lá, as instalações do HDES serão ampliadas para responder ao aumento do número de doentes com insuficiência renal: “Está já concluída a instalação de mais dois postos na estação de águas, o que permite aumentar a capacidade para mais 12 utentes, até que esta situação fique definida”, afirma Mónica Seidi, secretária regional da Saúde.
Osório Silva, presidente da APIR, explica que as obras feitas nos serviços de hemodiálise “são soluções de remendo, numa infraestrutura que está a esgotar a sua capacidade de resposta”. O número de doentes com insuficiência renal nos Açores, especialmente na ilha de São Miguel, tem vindo a crescer e prevê-se um aumento anual de 10%.
Além disso, os recursos humanos não são os adequados para responder às necessidades dos doentes, existindo falta de médicos nefrologistas e enfermeiros: “Sabemos que há um esforço em recrutar mais médicos, mas os resultados não têm sido os esperados” acrescenta, sublinhando que “os serviços e a infraestrutura estão desajustados às necessidades atuais”, afirma o presidente.
Quanto à possível externalização do serviço, Osório Silva lamenta, “não por uma questão ideológica, mas clínica”. Um doente que faça tratamento numa clínica fora do hospital, em caso de intercorrência, terá de ser transportado de urgência para o hospital: “É, portanto, completamente diferente em termos de qualidade e cuidados de saúde”.
Ainda assim, a APIR está disponível e pretende fazer parte do processo de transição: “Face aos nossos 47 anos de experiência a nível nacional, disponibilizamo-nos para acompanhar o processo, de modo a salvaguardar os interesses dos doentes quando forem discutidos os protocolos entre o Governo Regional e a empresa responsável pelo serviço”, refere.
O presidente reconhece que esta é uma solução que não será implementada de imediato e que, infelizmente, é um processo que vai demorar: “Para nós, deveria ser já amanhã, porque é uma necessidade”, sublinha.
Prevê-se que, quando o serviço for realizado por clínicas privadas, a capacidade de resposta aumente, pois para a clínica será uma fonte de rendimento: “A hemodiálise existe em todo o mundo, até em cruzeiros, é um negócio na área da saúde”, explica Osório Silva. Por isso, acredita que será possível responder às necessidades dos emigrantes que regressam à ilha, bem como de pessoas do continente e estrangeiros em épocas de maior afluência, como o verão.
Outra preocupação da APIR prende-se com a demora na inscrição dos utentes nas listas de espera para transplante: “É uma grande preocupação o facto de os doentes em hemodiálise demorarem demasiado tempo a ser inscritos na lista ativa para transplante”, afirma o presidente da APIR.
Atualmente, há doentes à espera há mais de dois anos, quando, na prática, o ideal seria cerca de seis meses.
Sobre as preocupações da APIR, Mónica Seidi garante que tanto a Secretaria Regional da Saúde como o HDES procurarão formas de facilitar o acesso e assegurar que os doentes continuem a ter acesso ao serviço regional de saúde. Quanto à falta de recursos humanos, a governante referiu que o procedimento concursal para contratar 30 enfermeiros no HDES já está concluído.
Relativamente aos atrasos na transferência dos doentes para a lista ativa de transplantes, Mónica Seidi admitiu não estar informada, mas acredita que se trata de questões de organização interna do HDES.
Osório
Silva sublinha que “o doente com insuficiência renal, será sempre um
doente crónico, mesmo após transplante. O doente renal está dependente
do Serviço Regional de Saúde até ao fim da vida, não há outra hipótese. A
nossa reivindicação é que haja cuidados de saúde eficientes e eficazes
independentemente de quem governa”, acrescentando: “estamos aqui para
denunciar quando os cuidados de saúde falham, mas também para fazer
parte da solução”.