Autor: Ana Carvalho Melo
“Nós trabalhamos como um lóbi a favor da geologia, no sentido de dar ferramentas para que haja mudanças positivas no usufruto dos geossítios do Geoparque Açores”, revelou o coordenador científico do Geoparque Açores, João Carlos Nunes.
Os Açores foram o primeiro Geoparque arquipelágico do Mundo, possuindo 121 locais de interesse geológico dos quais seis estão classificados como sendo geossítios de interesse internacional.
Uma das suas missões está relacionada com a preservação dos geossítios dos Açores em relação à pressão do turismo, um trabalho que João Carlos Nunes diz implicar um constante acompanhamento e monitorização destes espaços.
“A nossa equipa tem alguma responsabilidade no acompanhamento e monitorização dos geossítios, mas trata-se de um trabalho que deve ser de todos”, defendeu, explicando que por essa razão são realizadas ações de divulgação e valorização de geossítios.
E nas situações em que a avaliação não é a melhor, o Geoparque Açores procura apresentar novas soluções que permitam o usufruto do nosso rico património geológico.
“Há sítios onde existe uma pressão muito grande, nos quais a nossa preocupação tem sido criar alternativas, como condições de visitação em locais menos conhecidos e ajudar a divulgá-los”, explicou, lembrando que na página Geodiversidade publicada no Açoriano Oriental apresentam sempre Geocuriosidades, que indicam “outros locais onde se podem observar características do nosso património geológico relevantes, interessantes e até esteticamente bonitas”.
“A nossa preocupação é dispersar os nossos turistas por vários pontos, evitando que se concentrem todos nos mesmos sítios e nos mesmos dias, tornando a carga excessiva para os locais”, disse, defendendo que melhores infraestruturas e informação de apoio beneficia a visitação e a preservação dos locais.
João Carlos Nunes recordou também que, desde 2015, o Geoparque é um programa da Unesco, dentro do qual se defende um turismo responsável e sustentável, razão pela qual a associação tem realizado atividades destinadas a quem trabalha nas diferentes áreas do turismo, de modo que reconheçam as mais-valias deste património geológico e desta forma possam beneficiar.
E dado a rede de Geoparques pertencer à Unesco, é também sujeita a uma avaliação que se repete a cada quatro anos.
“Esta avaliação permanente, que não acontece noutros programas da Unesco, obriga-nos a estarmos constantemente a trabalhar”, realçou.
Uma dessas atividades foi a realização da segunda edição do workshop “Geoturismo no Espaço Atlântico”, que decorreu nos dias 17, 18 e 19 de janeiro, nas ilhas do Faial e Pico, no âmbito do projeto Interreg Geoparques Atlânticos, de que o Geoparque Açores constitui entidade beneficiária.
Esta atividade informativa e formativa juntou empresas de animação turística, profissionais do setor e todos aqueles que interagem e têm interesse nas temáticas da geodiversidade, geoconservação e geoturismo.
Região com seis geossítios de interesse internacional
A Dorsal Atlântica e os campos hidrotermais, a caldeira do vulcão das Furnas, a montanha do Pico, a caldeira da Furna do Enxofre na Graciosa, o Algar do Carvão na Terceira e o vulcão dos Capelinhos no Faial são os seis geossítios de interesse internacional do Geoparque Açores.
Estes seis locais são especiais pelas suas características geológicas juntamente com a forma como são usufruídos pela população residente e os turistas que os visitam. Ou seja, os geossítios identificados nos Açores representam elementos da sua geodiversidade com excecional valor e com potencial para diversos tipos de uso.
No entanto, e dada a sua rica e vasta geodiversidade e um importante património geológico, o arquipélago possui um total de 121 locais de interesse científico, pedagógico e turístico.
Vulcões, caldeiras, lagoas, campos lávicos, fumarolas, águas termais, grutas e algares vulcânicos, fajãs, escarpas de falha e depósitos fossilíferos marinhos, entre tantos outros, são elementos caracterizadores do património geológico da Região.
A par deste património, existem no arquipélago outros valores patrimoniais de referência, como é o caso de uma rica biodiversidade e património arquitetónico, cultural, etnográfico e imaterial de inegável valor.
A Associação Geoparque Açores foi criada em 2010, tendo como associados fundadores as associações de promoção regionais - ARDE (Associação Regional de Desenvolvimento), GRATER (Associação de Desenvolvimento Regional), ASDEPR (Associação para o desenvolvimento e promoção rural) e ADELIAÇOR (Associação para o desenvolvimento de ilhas dos Açores) - e o Governo Regional dos Açores através da Direção Regional do Ambiente.
Possui ainda diversos parceiros, entre entidades públicas e privadas.