Açoriano Oriental
França lança ofensiva contra Irão em tom marcial
A França lançou uma ofensiva diplomática para fazer o Irão ceder quanto ao seu programa nuclear, suscitando hoje uma viva reacção de Teerão, mas também críticas de alguns dos seus parceiros e da AIEA por ter evocado um risco de “guerra”.
França lança ofensiva contra Irão em tom marcial

Autor: Lusa / AO online
O chefe da diplomacia francesa, Bernard Kouchner, suscitou a surpresa no domingo à noite com uma declaração sobre o Irão, exortando o mundo a “preparar-se para o pior”, ou seja, para uma possível “guerra” com Teerão, e exigindo sanções europeias contra o Irão fora do quadro da ONU.

Foi apoiado hoje pelo primeiro-ministro François Fillon, que, sem retomar o termo “guerra”, considerou que havia “razões” para considerar que a tensão com o Irão estava “no extremo”, em particular com Israel.

Os dois responsáveis franceses insistiram todavia na necessidade de continuar a negociar.

Kouchner obteve um primeiro apoio europeu ao receber em Paris o seu homólogo holandês, Maxime Verhagen, que se declarou pronto a aplicar sanções europeias contra o Irão se o Conselho de Segurança da ONU não chegar a acordo sobre medidas suplementares.

Contudo, as críticas foram mais numerosas.

O Irão manifestou a sua cólera: a agência Irna acusou o presidente francês, Nicolas Sarkozy, de pretender “copiar a Casa Branca”, acrescentando que “este europeu colocou-se na pele dos norte-americanos e imita os seus uivos”.

Mais contido, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano considerou que a declaração de Kouchner, evocando um risco de guerra, “afecta a credibilidade da França”.

Em Viena, o director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Mohamed ElBaradei, encarregado de controlar o programa nuclear iraniano, recusou firmemente a perspectiva, nesta fase, de uma opção militar contra o Irão.

“Temos um processo muito ligado à paz, à segurança e à estabilidade regional no Médio Oriente e é por isso que peço a todos que não caiam em excessos até chegarmos ao fim do procedimento” de verificação, sublinhou ElBaradei em Viena, no primeiro dia da assembleia geral dos 144 países membros da AIEA.

Presente em Viena, a ministra dos Negócios Estrangeiros austríaca, Ursulo Plassnik, criticou severamente o seu homólogo francês.

“O colega Kouchner é o único a poder explicar o que quis dizer. É-me incompreensível que tenha recorrido a uma retórica marcial nesta altura”.

Também o chefe da diplomacia italiana, Massimo D’Alema, considerou que “novas guerras” no Irão “só poderiam criar tragédias” e que era necessário “dar o tempo necessário à diplomacia”.

“Antes de falar em novas guerras, há que dar o tempo necessário às iniciativas políticas e diplomáticas”, sublinhou.

Em Washington, pelo contrário, a administração de George W. Bush felicitou-se pela posição adoptada por Paris.

“A França tem os mesmos objectivos que nós: que o regime iraniano não possa dotar-se de uma arma nuclear”, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, sublinhando contudo que os Estados Unidos continuam a privilegiar uma opção diplomática.

Em Berlim, um porta-voz da diplomacia alemã, Martin Jager, procurou relativizar o alcance das declarações de Kouchner.

“Seria falso falar em ameaças de guerra. Pelo contrário, tomamos isso como a prova de que os nossos amigos franceses levam a situação a sério e que se esforçam activamente, connosco, para impedir uma tal evolução”, disse.

Em Paris, a oposição socialista francesa pediu hoje um debate no Parlamento sobre as declarações de Kouchner.

“Um debate no Parlamento impõe-se. Tem que ser tudo colocado sobre a mesa”, disse o primeiro secretário do Partido Socialista, François Hollande, considerando também que o presidente Sarkozy deveria “falar sobre esta questão” aos franceses.

Entretanto, o receio de um possível recomeço das tensões com o Irão fez hoje o preço do petróleo atingir os 80,50 dólares por barril no mercado de Nova Iorque, um novo recorde histórico.
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