Açoriano Oriental
Fisioterapia pélvica ainda é tabu nos Açores, mas é essencial para a saúde e bem-estar das mulheres

Joana Baptista alerta para a falta de informação e os tabus que ainda impedem muitas mulheres açorianas de procurar ajuda, sublinhando que a fisioterapia é fundamental para prevenir disfunções e melhorar a qualidade de vida

Fisioterapia pélvica ainda é tabu nos Açores, mas é essencial para a saúde e bem-estar das mulheres

Autor: Maria Andrade

Joana Baptista, fisioterapeuta especializada em reabilitação do pavimento pélvico, alerta para a importância do acompanhamento fisioterapêutico no pós-parto nos Açores. Em análise a 50 pacientes até seis meses após o parto, a especialista constatou que 82% apresentaram diástase abdominal, 80% tinham diminuição de força do pavimento pélvico, 68% alterações no reflexo perineal, 60% alterações na função sexual e 48% incontinência urinária, evidenciando que a maioria das mulheres apresenta múltiplas disfunções que impactam a qualidade de vida.

Segundo a especialista, muitas mulheres desconhecem que estes sintomas pós-parto não são normais. “Existem diversas questões que, infelizmente nós mulheres assumimos como verdade, nomeadamente que é normal ficar a perder urina depois de um parto, que é normal ter dor na relação sexual, que é normal urinar de hora a hora, que é normal perder urina na prática de atividade física, que um parto por cesariana não tem consequências para o pavimento pélvico, que é normal ficar incontinente no pós-menopausa e tantas outras questões que, na realidade não passam de mitos e são de facto, indicadores de uma possível disfunção pélvica”, afirmou, em entrevista ao Açoriano Oriental.

A falta de informação e conhecimento, bem como o tabu e vergonha associados à temática fazem com que muitas mulheres açorianas não procurem ajuda. Joana Baptista relata que estes problemas podem levar a alterações no dia-a-dia, como reduzir a ingestão de líquidos, evitar sair de casa ou desistir da prática de atividades físicas, devido à vergonha ou desconforto.

A fisioterapeuta destaca também o impacto do estilo de vida açoriano. Apesar de o contacto com a natureza permitir caminhadas, trilhos e natação, a população continua em grande parte sedentária.

Já profissões fisicamente exigentes, como a agricultura, contribuem para sobrecarga da coluna e do pavimento pélvico, aumentando a incidência de dores e disfunções. A fisioterapia atua tanto na prevenção como na reabilitação, ensinando técnicas de fortalecimento, mobilidade e proteção do corpo, permitindo às mulheres retomar as atividades diárias de forma funcional e segura.

O que mais motiva a especialista é perceber o impacto do seu trabalho na vida das mulheres. “Conseguir resolver uma disfunção, será sempre sinónimo de que a mulher poderá viver o seu dia-a-dia, sem medos, sem limitações e sem ter de se privar do quer que seja. A sua vida melhora, as relações interpessoais melhoram, a saúde mental melhora e tudo isso contribui para o ganho de qualidade de vida”, afirmou.

Para combater o tabu e informar a população, Joana Baptista recorre às redes sociais, publicando vídeos explicativos com linguagem acessível sobre diferentes disfunções pélvicas.

“Faço os possíveis para que sejam sempre com uma linguagem acessível a todos, para ser o mais percetível possível e tento adotar uma postura de abertura e perfeita normalidade ao abordar cada temática, porque de fato deve existir normalidade e à vontade ao debater estas questões e porque acredito que será assim que, também consigo chegar mais próximo de pessoas com mentalidade mais reservada”, disse.

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