Autor: José Meirelles, da Agência Lusa
Esta tese é sustentada pela investigadora Manuela Franco, do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), para enquadrar a primeira visita oficial - já no domingo - de um chefe de Estado iraniano ao Iraque.
Em declarações à Agência Lusa, a académica acentua a “busca crescente de prestígio” de Ahmadinejad decorrente da “vontade hegemónica do Irão, através da afirmação do poder e da causa islâmica” especialmente na Síria, Líbano (Hezbollah) e Faixa de Gaza (Hamas).
“Os aspectos político-religiosos enformam o irredentismo iraniano, que vai buscar a sua força ao facto de não ter capacidade de recuo”, assinala.
Manuela Franco não hesita em afirmar que “Ahmadinejad, tendo o tempo a correr do seu lado, anda à procura de munição política, enquanto avança no grande jogo para a consolidação do papel do Irão como actor decisivo na sucessão à histórica liderança da Turquia”.
“A ascendência regional turca foi ofuscada com a revolução islâmica iraniana (1979), que alterou os dados no tabuleiro geopolítico, exigindo clarificação no realinhamento de interesses”, explica.
Para a académica, a “credibilidade” iraniana está na berlinda e a afirmação do país como potência “depende do programa nuclear, que é fundamental e não tem carácter pacífico”, ao contrário das justificações dadas pelo regime dos ayatollahs.
Um terceiro “pacote” de sanções contra o Irão, que se recusa a acatar a suspensão do programa nuclear, está neste momento pendente de pronunciamento do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU).
Carlos Gaspar, director do IPRI, vai mais longe ao considerar a visita de Ahmadinejad ao Iraque o “contraponto à pressão militar turca” no norte deste país, desde o dia 21, para desmantelar as bases de retaguarda da guerrilha separatista do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Neste contexto - adianta -, “o Irão surge como um vizinho pacífico” que, em palavras de Manuela Franco, “está empenhado em ir mais longe na estabilização do Iraque”.
A investigadora até valoriza como positivo para todos os actores em cena “ver Ahmadinejad a passear em Bagdad”, quando o Iraque está em contagem decrescente para assumir em pleno a independência nacional.
Porém, Carlos Gaspar não esconde que, tendo como pano de fundo a guerra Irão-Iraque (1980-88) e porque os dois países “são no essencial rivais estratégicos e adversários políticos”, a recepção a Ahmadinejad em Bagdad - para retribuir uma anterior visita do presidente iraquiano Jalal Talabani a Teerão, no quadro na normalização das relações bilaterais - deverá estar “carregada de tensão”.
O director do IPRI coloca “fora de causa uma estratégia iraniana para a fragmentação do Iraque, cuja unidade é a essência da aliança norte-americana com as elites locais”.
O catedrático e autor Hélder Santos Costa, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), vinca ao falar à Lusa que “o Irão não está interessado num Iraque dilacerado”, mas antes em passar uma mensagem “pacificadora”, na tentativa de “aglutinar a frente xiita” maioritária (60 por cento da população).
Hélder Costa lembra que na guerra Irão-Iraque a “solidariedade religiosa” com que Teerão pensava contar no país vizinho, junto dos xiitas, “foi substituída pela patriótica”, com os piores resultados.
O professor José Manuel Félix Ribeiro, do Grupo de Estudos do Médio Oriente, do Instituto de Defesa Nacional (IDN), precisa à Lusa que “o clero xiita iraquiano fiel a Ali al-Sistani detestava e sempre se opôs ao ayatollah Ruhollah Khomeini, representando um risco enorme para Ahmadinejad”.
“O conjunto do xiismo iraquiano não é controlado pelo regime iraniano”, sublinha Félix Ribeiro, na mesma linha de Manuela Franco, para quem, sendo sabido que esta comunidade árabe e nacionalista “não se quer submeter aos persas”, Ahmadinejad procurará aparecer como um Messias.
Acresce que Al-Sistani tem pautado por uma “abertura silenciosa aos Estados Unidos - em rota de colisão com o Irão -, porque não quer uma república islâmica no Iraque” e o clérigo radical Moqtada al-Sadr, cabecilha do Exército do Mahdi, retirado para um seminário, até renovou em mais um semestre a trégua com Washington, aponta Félix Ribeiro.
A investida diplomática de Ahmadinejad - alerta Manuela Franco, do IPRI - contrasta com a “fragilíssima e dramática” situação interna iraniana, marcada pela “desvalorização da moeda em cem por cento num ano, por milhares de desempregados e drogados, e por problemas religiosos muito complexos”.
Félix Ribeiro, do IDN, corrobora que “o presidente iraniano, confrontado com as fragilidades internas - precisa de ganhar influência e credibilidade para condicionar a vida política”.
Por último, além das metas político-religiosas e passando sobre os interesses económicos decorrentes da extensa fronteira comum entre os dois países, para circulação de pessoas, bens e mercadorias, está o petróleo, que falta aos iranianos, enquanto lhes sobra o gás natural.
Com as maiores reservas iraquianas identificadas no sul do país, Bagdad, que as considera o recurso nacional por excelência, dará acesso às jazidas “a quem pagar mais”, como diz Manuela Franco, sem excluir Teerão.
Contudo, Félix Ribeiro revela que “o Iraque está a desmantelar o cartel dos monopólios estatais para garantir a produção e já iniciou negociações para concessões às multinacionais petrolíferas, o que o Irão não pode permitir”.
O investigador do IDN não tem dúvidas de que “os Estados Unidos estão no Iraque para rebentar com a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) e, daí, concluir que “o Irão poderá usar a Arábia Saudita para travar Washington”.
A chegada de Ahmadinejad ao Iraque, para uma visita oficial de dois dias, é o culminar de três rondas diplomáticas preparatórias e o programa compreende designadamente encontros com o Presidente Talabani e com o primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki.
Em declarações à Agência Lusa, a académica acentua a “busca crescente de prestígio” de Ahmadinejad decorrente da “vontade hegemónica do Irão, através da afirmação do poder e da causa islâmica” especialmente na Síria, Líbano (Hezbollah) e Faixa de Gaza (Hamas).
“Os aspectos político-religiosos enformam o irredentismo iraniano, que vai buscar a sua força ao facto de não ter capacidade de recuo”, assinala.
Manuela Franco não hesita em afirmar que “Ahmadinejad, tendo o tempo a correr do seu lado, anda à procura de munição política, enquanto avança no grande jogo para a consolidação do papel do Irão como actor decisivo na sucessão à histórica liderança da Turquia”.
“A ascendência regional turca foi ofuscada com a revolução islâmica iraniana (1979), que alterou os dados no tabuleiro geopolítico, exigindo clarificação no realinhamento de interesses”, explica.
Para a académica, a “credibilidade” iraniana está na berlinda e a afirmação do país como potência “depende do programa nuclear, que é fundamental e não tem carácter pacífico”, ao contrário das justificações dadas pelo regime dos ayatollahs.
Um terceiro “pacote” de sanções contra o Irão, que se recusa a acatar a suspensão do programa nuclear, está neste momento pendente de pronunciamento do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU).
Carlos Gaspar, director do IPRI, vai mais longe ao considerar a visita de Ahmadinejad ao Iraque o “contraponto à pressão militar turca” no norte deste país, desde o dia 21, para desmantelar as bases de retaguarda da guerrilha separatista do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Neste contexto - adianta -, “o Irão surge como um vizinho pacífico” que, em palavras de Manuela Franco, “está empenhado em ir mais longe na estabilização do Iraque”.
A investigadora até valoriza como positivo para todos os actores em cena “ver Ahmadinejad a passear em Bagdad”, quando o Iraque está em contagem decrescente para assumir em pleno a independência nacional.
Porém, Carlos Gaspar não esconde que, tendo como pano de fundo a guerra Irão-Iraque (1980-88) e porque os dois países “são no essencial rivais estratégicos e adversários políticos”, a recepção a Ahmadinejad em Bagdad - para retribuir uma anterior visita do presidente iraquiano Jalal Talabani a Teerão, no quadro na normalização das relações bilaterais - deverá estar “carregada de tensão”.
O director do IPRI coloca “fora de causa uma estratégia iraniana para a fragmentação do Iraque, cuja unidade é a essência da aliança norte-americana com as elites locais”.
O catedrático e autor Hélder Santos Costa, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), vinca ao falar à Lusa que “o Irão não está interessado num Iraque dilacerado”, mas antes em passar uma mensagem “pacificadora”, na tentativa de “aglutinar a frente xiita” maioritária (60 por cento da população).
Hélder Costa lembra que na guerra Irão-Iraque a “solidariedade religiosa” com que Teerão pensava contar no país vizinho, junto dos xiitas, “foi substituída pela patriótica”, com os piores resultados.
O professor José Manuel Félix Ribeiro, do Grupo de Estudos do Médio Oriente, do Instituto de Defesa Nacional (IDN), precisa à Lusa que “o clero xiita iraquiano fiel a Ali al-Sistani detestava e sempre se opôs ao ayatollah Ruhollah Khomeini, representando um risco enorme para Ahmadinejad”.
“O conjunto do xiismo iraquiano não é controlado pelo regime iraniano”, sublinha Félix Ribeiro, na mesma linha de Manuela Franco, para quem, sendo sabido que esta comunidade árabe e nacionalista “não se quer submeter aos persas”, Ahmadinejad procurará aparecer como um Messias.
Acresce que Al-Sistani tem pautado por uma “abertura silenciosa aos Estados Unidos - em rota de colisão com o Irão -, porque não quer uma república islâmica no Iraque” e o clérigo radical Moqtada al-Sadr, cabecilha do Exército do Mahdi, retirado para um seminário, até renovou em mais um semestre a trégua com Washington, aponta Félix Ribeiro.
A investida diplomática de Ahmadinejad - alerta Manuela Franco, do IPRI - contrasta com a “fragilíssima e dramática” situação interna iraniana, marcada pela “desvalorização da moeda em cem por cento num ano, por milhares de desempregados e drogados, e por problemas religiosos muito complexos”.
Félix Ribeiro, do IDN, corrobora que “o presidente iraniano, confrontado com as fragilidades internas - precisa de ganhar influência e credibilidade para condicionar a vida política”.
Por último, além das metas político-religiosas e passando sobre os interesses económicos decorrentes da extensa fronteira comum entre os dois países, para circulação de pessoas, bens e mercadorias, está o petróleo, que falta aos iranianos, enquanto lhes sobra o gás natural.
Com as maiores reservas iraquianas identificadas no sul do país, Bagdad, que as considera o recurso nacional por excelência, dará acesso às jazidas “a quem pagar mais”, como diz Manuela Franco, sem excluir Teerão.
Contudo, Félix Ribeiro revela que “o Iraque está a desmantelar o cartel dos monopólios estatais para garantir a produção e já iniciou negociações para concessões às multinacionais petrolíferas, o que o Irão não pode permitir”.
O investigador do IDN não tem dúvidas de que “os Estados Unidos estão no Iraque para rebentar com a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) e, daí, concluir que “o Irão poderá usar a Arábia Saudita para travar Washington”.
A chegada de Ahmadinejad ao Iraque, para uma visita oficial de dois dias, é o culminar de três rondas diplomáticas preparatórias e o programa compreende designadamente encontros com o Presidente Talabani e com o primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki.