Autor: Lusa/AO Online
Situada a 60 quilómetros a norte da capital Cabul, a base de Bragam passou para o controlo dos talibãs quando os Estados Unidos se retiraram do Afeganistão em 2021, após duas décadas de ocupação do país do centro da Ásia.
Trump disse na quinta-feira, em Londres, que os Estados Unidos estavam a tentar recuperar o controlo de Bagram, embora sem dar pormenores, alegando que a base se situa “a uma hora de onde a China fabrica as armas nucleares”.
“Os afegãos não aceitaram uma presença militar [estrangeira] ao longo da história”, respondeu hoje o diretor do Departamento Político do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Zakir Jalali.
“Essa possibilidade foi totalmente rejeitada durante as conversações em Doha e o subsequente acordo”, declarou, citado pela agência de notícias espanhola Europa Press.
Jalali referia-se ao acordo de paz assinado pelos talibãs e pela primeira Administração Trump em fevereiro de 2020, que viria a condicionar a retirada norte-americana em agosto de 2021, segundo alegou o então Presidente Joe Biden.
O dirigente talibã não rejeitou, contudo, a cooperação com os Estados Unidos e afirmou que “as portas estão abertas a outras formas de interação”.
“Afeganistão e Estados Unidos devem interagir e podem ter relações económicas e políticas baseadas no respeito mútuo e em interesses partilhados, independentemente de uma presença militar norte-americana no Afeganistão”, escreveu nas redes sociais.
Também a China reagiu hoje às declarações de Trump, com o porta-voz da diplomacia chinesa Guo Jiakun a afirmar que “o futuro do Afeganistão deve estar nas mãos do povo afegão”.
Guo criticou qualquer propósito de “exagerar tensões e gerar confrontação na região”, e disse que a China deseja que “todas as partes desempenhem um papel construtivo na promoção da paz e da estabilidade regionais”.
A base de Bagram foi construída pela União Soviética na década de 1950, tornando-se a principal base nos anos de 1980 durante a ocupação do Afeganistão (1979-1989).
Os Estados Unidos assumiram o controlo da base em 2001, quando invadiram o país por o regime do grupo fundamentalista islâmico ter acolhido o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, na sequência dos atentados do 11 de Setembro.
Bagram encontrava-se em ruínas depois de ter sido abandonada, mas os norte-americanos reconstruíram-na e acabou por crescer até cerca de 77 quilómetros quadrados.
Com a retirada das tropas norte-americanas e de aliados ocidentais, os talibãs, que voltaram ao poder em Cabul, tomaram a base, dotada de duas pistas, e o vasto equipamento militar que ali foi deixado.
Trump criticou na quinta-feira o que descreveu como “desastre total” da retirada apressada das tropas norte-americanas e internacionais perante o avanço dos talibãs e depois do acordo de Doha.
Nesse contexto, lamentou que a base de Bagram, “uma das maiores do mundo” e símbolo da presença internacional no Afeganistão, tivesse sido cedida “a troco de nada”.
“Vamos tentar recuperá-la. Isso poderia ser uma pequena exclusividade [para os Estados Unidos]”, disse, sugerindo de seguida um possível acordo com os talibãs.
“Eles precisam de coisas de nós”, afirmou durante uma conferência de imprensa em Londres.
Trump já tinha afirmado em fevereiro que a base estaria nas mãos da China, o que foi negado pelos talibãs, que também descartaram na altura a possibilidade de Bagram voltar a ser controlada pelos Estados Unidos.
“Não colocaremos o nosso território nas mãos de nenhum país. Bagram está nas mãos das nossas forças, não da China”, respondeu então o porta-voz talibã e vice-ministro da Informação, Zabihullah Mujahid.
“Controlar Bagram é um sonho. Os Estados Unidos devem esquecer esta ideia”, acrescentou na altura Mujahid.