Autor: Nuno Martins Neves
O que nos traz a quinta edição da Global Exploration Summit, a GLEX, que se realizará pelo terceiro ano consecutivo nos Açores, o segundo na ilha Terceira?
Traz-nos muito os oceanos, a temática noutra componentes que incluem, também, aquilo que podemos chamar de economia do mar. Um dos projetos mais interessantes vai ser a abertura com o Fabian Costeau [neto de Jacques Costeau], com o Proteus, que é quase uma lógica invertida do Espaço: se há um estação espacial há mais de 20 anos, porque é que não há uma estação debaixo de água? É um projeto sério, com um teste real de 31 dias, que o Fabian fez para provar que é possível e ele escolheu os Açores para lançar, publicamente, esse projeto.
Vamos começar com oceanos e vamos terminar com uma lógica de correntes marítimas, com o encerramento a cargo do Almirante Gouveia e Melo, e a história da expedição da Marinha Portuguesa no Ártico, com o submarino Arpão debaixo do gelo durante uma semana.
(...) Outro ponto querido para mim são os 200 anos de Darwin, pois os Açores fazem parte dessa história. As gerações mais novas não sabe, mas na sua famosa viagem, o Darwin passa e para nos Açores, quer na Terceira, quer em São Miguel. A Fundação Darwin vai estar cá, com um membro, a explicar os dias da paragem e qual será o programa nos Açores, no próximo ano.
Teremos
um momento diferente, e tendo em conta os conflitos que atravessamos,
temos um painel extraordinário que será interpretado por uma jornalista
palestiniana, a Aziz Abu Sarah, com a israelita Kim Passy-Yoseph, amiga
de uma refém do 7 de outubro de 2023, e tem a particularidade de serem
os dois grandes amigos e, portanto, vai ser uma conversa de como a paz e
a ciência une as pessoas.
As alterações climáticas também terão um destaque na GLEX, principalmente como é que o Espaço e os Oceanos podem contribuir para mitigá-las
Discute-se sempre o que é que o Espaço está a fazer para ajudar e melhorar a sustentabilidade. E são aspetos muito amplos, que vão desde a parte mais tecnológica, como satélites e a facilidade incrível de monitorização de tudo imaginável - como o trekking do tráfico marítimo, da agricultura, como se melhora e raciona recursos como a água para uma melhor eficiência agrícola. Na lógica dos Oceanos, as alternativas que podem trazer para a questão alimentar, como as algas, e outras questões que estão a ser exploradas.
Que impacto acha que tem um evento como a GLEX, que reúne as mentes mais brilhantes do mundo e que fazem avançam a ciência, numa região como os Açores, que tem algumas fragilidades. São a região com menor número de licenciados do país, por exemplo.
Primeiro, pelo contraste, e isto é muito amplo e holístico: para quem analisa de fora e não de dentro, pergunta porque é que se está a fazer uma cimeira com esta dimensão num local como este? Por alguma coisa deve ser. E esse é o primeiro ponto positivo: no fundo, é a confiança que o território dá, pois quem faz uma cimeira destas, demonstra a capacidade e qualificação. para fazer uma data de outras coisas.
Digo isto de uma forma muito tranquila, porque inicialmente
quando se pensou nos Açores, eram mais os problemas do que as soluções, e
todos os problemas da insularidade. Com planeamento, tudo é possível.
Claro que há toda uma série de desafios, mas estamos a falar de
exploradores, não de pessoas que tenham uma vida fácil por si.
E depois, por tudo aquilo que é a abertura de portas dos Açores ao mundo e de toda a cooperação possível. E tocou num ponto importante, e voltando à pergunta anterior: nós lançamos este ano, e vai ser a primeira de outras edições futuras, um desafio aos alunos açorianos, num concurso chamado Explora Açores, para percebermos junto da geração mais nova, das escolas secundárias, qual é a sua visão, enquanto açoriano, para as questões ambientais e preservação e melhoria da qualidade de vida na sua ilha e arquipélago.
E os trabalhos são qualquer coisa de
extraordinário, que vêm num sentimento de esperança e de motivação do
ano passado. É um pouco como se eu quiser seguir o meu caminho na
ciência, fazendo uma analogia ao desporto, é diferente para um
desportista passar uma semana com o Cristiano Ronaldo, saber a história
dele, motivar-me com ela.
Nós abrimos aqui uma primeira lógica de não só de reconhecimento, mas de abrir o mundo de tecnologia, inovação e futuro aos investigadores da academia açoriana e, um lado muito importante para nós aos professores.
A educação tem sido, indiscutivelmente, a maior arma de desenvolvimento.
E
depois existem muitos outros aspetos: o económico, estamos a falar de
um perfil [de visitante] com altíssimo poder de compra, de pessoas que
trazem outras pessoas, pelo que os Açores têm de ser reconhecidos como
um destino de qualidade e não de massas.
Trazer gente muito qualificada, que traz outra gente muito qualificada a seguir. E nós sentimos isso de ano para ano: quem não veio no ano passado, que se arrependeu e percebeu o feedback genial de toda a gente, e vem.
E
depois, coisas práticas de, no ano passado, em três meses termos
conseguido juntar cientistas portugueses e internacionais para aquilo
que foi a primeira missão análoga nos Açores, é muito importante.
O que é que isto significa? Toda uma nova indústria, que está a surgir, científica e espacial, tem esta necessidade de simular ambientes adversos e análogas ao Espaço, ou em condições semelhantes. E isto vai desde a indústria científica, à alimentar, à farmacêutica e à industrial do Espaço. Portanto, é um tipo de turismo diferente, muito qualificado e em que se provou que existe esse produto novo que os Açores também podem observar.
E para além do económico, acima de tudo deixo o
apelo, pois são as portas que abrimos: a cooperação, possível, rápida e
incrível que todo este ecossistema traz, que vai desde a ciência até
investidores de capital em projetos em ciência. E os Açores também têm
de fazer a parte de responder a este desafio. Temos de ter uma ajuda, um
empurrão no início, mas do momento para o outro sentimos esta diferença
enorme, pois chegam aqui pessoas que perguntam: Onde é que podemos
investir, o que há aqui para comprar, o que faz sentido investir?
Quando
falamos nos Açores, falamos do arquipélago todo e esta componente
Espaço para pensar e que a ilha de Santa Maria ainda está num muito,
muito, muito princípio [do porto espacial] e eu gostaria de voltar a ter
esta conversa daqui a 10 anos e percebermos o antes e o depois.
Há
todo um capital de oportunidades e, na lógica do Fabian Costeau e será
um desafio dele, porque é que os Açores não têm o primeiro laboratório
submarino?
Portanto, o mundo hoje é cada vez mais pequeno e vamos ter muita imprensa internacional. Vamos ter a maior revista de operações turísticas do mundo, a Travel Weekly US que, juntamente com os nossos parceiros, a Câmara de Comércio de Angra e a Câmara Municipal deAngra, vamos trabalhar como vir para aqui. Temos o US Today, o terceiro maior jornal dos Estados Unidos da América, e temos a BBC.
Temos de ver isto não de um jackpot que sai no momento na máquina, mas das relações todas que se podem construir. Esta possibilidade e este acesso não tem preço e do lado dos Açores têm de saber aproveitar isto.
Mais do que a parte económica e turística, há aqui um manancial de informação e conhecimento que pode ser aproveitada por uma região fragmentada em nove ilhas. Muitas vezes há a ideia que estas conferências são algo que não é tangível ou não chega à população comum. Mas há informação que pode ser aproveitada pelas instituições locais?
Completamente. Eu dou-lhe um
número: nós este ano temos 140 participantes, que convidamos
gratuitamente, com protocolos com a Direção Regional de Educação e com a
Universidade dos Açores. Para nós, isso é um ativo extraordinário e
vemos colaborações a acontecer que estão já fora do nosso controlo e é
isso que nós queremos.
Existe um lado muito efetivo de materialização daquilo que se chama o science business. As universidades têm de estar ao serviço da Economia e isto é uma rampa de lançamento.
E tocou num ponto importante, a geração de uma nova economia: qualquer tipo de evento que traga gente nova, essa gente vai ser transformadora, principalmente quando tem uma boa experiência.
A GLEX já tem este selo de referência no mundo, como fórum de cooperação entre todas estas áreas e que pode também exportar o seu conhecimento.
Olhando para o futuro, quais são os caminhos que a GLEX pretende seguir?
A da qualificação, estamos a olhar muito para esta área e esta experiência com professores e investigadores está a ser muito interessante. Este concurso que abrimos com os alunos foi uma experiência muito interessante. E queremos ter os Açores como - e a frase não é minha, é de um político que sonhou sempre com isto e apaixonou-se pelo GLEX - como uma universidade atlântica.
A capacidade de trazer pessoas que jamais pensaria trazer aos Açores, hoje é fácil poder convidá-las a ter projetos mais focados em uma determinada matéria ou qualificação.
Para retermos talento e criarmos uma nova economia, temos de começar por dentro de casa. E a nossa mensagem para os miúdos do Explora Açores foi o orgulho de só tu podes ter esta visão do local onde vives. E portanto, nós temos os “grandes” a vir visitar-nos a casa e é importante que as novas gerações tenham este sinal de que há outras qualidades e pesos na balança que temos de passar a considerar quando decidimos a nossa vida aos 18 anos. Passar a estar numa rota principal, começa a mudar e a motivar-nos para termos outras ambições e perceber que, onde eu vivo, nos Açores, é um laboratório para o mundo.
Não é tanto uma região ultraperiférica, com todo o fatalismo que essa palavra tem?
É uma região ultraperiférica e ainda bem, sem o fatalismo. Nós conseguimos ter um pé fora e a visão é diferente. A verdade é que todas as regiões ultraperiféricas e de baixa densidade - seja nas ilhas seja no continente - há sempre outras prioridades. Mas aqui a questão é, no meu entender, o equilíbrio que tem de se encontrar.
Não se pode descurar uma mensagem de futuro. Premiarmos três alunos dos Açores e levá-los aos Estados Unidos, terem estes mentores ao lado deles...Não há dinheiro que possa comprar isto.
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