Autor: Ana Carvalho Melo
A apicultura pode ser uma atividade económica rentável e até principal, defende José Pedro Gaspar, presidente da direção da Casermel - Cooperativa de Apicultores e Sericicultores de São Miguel.
Em entrevista ao Açoriano Oriental, o presidente da direção da Casermel, revelou que apesar da sua importância ecológica e do crescente interesse pela prática, a apicultura nos Açores continua, em grande parte, a ser exercida como um complemento à atividade profissional principal, maioritariamente por pessoas entre os 50 e 60 anos, muitas delas em fase de transição para a reforma.
Segundo José Pedro Gaspar, os jovens apicultores ainda são poucos, pelo que defende que é urgente inverter essa tendência.
“São raros os apicultores que fazem da apicultura a sua atividade principal, mas é perfeitamente possível viver exclusivamente desta prática, desde que se dediquem a tempo inteiro. Há espaço para crescer, e ainda estamos muito longe do dinamismo que existe noutros países”, sublinha.
Nesse sentido, José Pedro Gaspar propõe a integração da apicultura nos programas dos cursos relacionados com atividade agrícola das escolas profissionais, não só pela sua rentabilidade económica, mas também pelos seus benefícios ambientais.
“É uma atividade que está em plena harmonia com a natureza. Ao contrário de outras práticas agrícolas que têm impacto ambiental, a apicultura potencia a sustentabilidade”, salienta.
O responsável da Casermel aponta zonas como o Nordeste e a Povoação como territórios com elevado potencial para o desenvolvimento da apicultura, mas atualmente subaproveitadas.
“Se os jovens quiserem apostar na apicultura como atividade principal, têm condições para isso e a Região só tem a ganhar”, defende.
De acordo com José Pedro Gaspar, o interesse pela apicultura tem vindo a crescer na Região, impulsionado por uma maior sensibilização da sociedade para a importância da polinização e para a necessidade de preservar os polinizadores - uma preocupação global, especialmente sentida na Europa. Nesse sentido, alerta para a ameaça crescente à biodiversidade e à segurança alimentar devido à redução acentuada de polinizadores.
“Todos temos de ter consciência de que é preciso proteger os polinizadores”, afirma o responsável, explicando que entre 75 a 80% dos alimentos consumidos diariamente - como frutas, sementes e frutos secos dependem diretamente da polinização. E salienta que o impacto vai além da alimentação: “Os polinizadores sustentam o equilíbrio ecológico, contribuem para a produção de oxigénio e ajudam a reter a água no solo, mitigando os efeitos do aquecimento global e promovendo a existência de água limpa”.
Entre os diversos polinizadores, as abelhas ocupam um
papel de destaque pela sua ação seletiva: “Quando sai da colmeia, a
abelha visita flores da mesma espécie até regressar, garantindo uma
polinização eficaz. Além disso, fazem também polinização cruzada entre
plantas da mesma espécie”.