Açoriano Oriental
Brasil
"Vivemos hoje uma nova luta pelo socialismo"
A América Latina está a viver uma luta pela implantação de um novo socialismo, “mais maduro e consistente”, dando os primeiros passos para uma nova ordem política, económica e social após o fracasso das políticas neo-liberais.

Autor: José Sousa Dias, Lusa/AO online
A ideia é defendida pelo presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Renato Rabelo, que, numa entrevista à Agência Lusa, em Lisboa, considerou exemplos dessa nova ordem os casos do Brasil, Venezuela, Bolívia, Equador e até da própria Argentina.

    “A experiência do socialismo no século passado teve os seus erros, os seus reveses, de que procuramos tirar ilações. Actualmente, vivemos uma nova luta pelo socialismo, que dá os primeiros passos”, defendeu o líder dos comunistas brasileiros, cujo partido integra a coligação do Governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

    Renato Rabelo sustentou que, para prevalecer, essa nova ordem política, económica e social “ainda vai demorar”, lembrando que o capitalismo “também levou anos para se impor”.

    “O socialismo do século XX demorou 70 anos. Para a História, isso é um pulozinho. Hoje, vivemos essa nova fase de retoma da luta pelo socialismo, já tendo em conta os erros do passado. Os «ismos», do trotskismo, marxismo ou leninismo, ainda entram nos nossos ideais, mas carimbar dessa forma já não faz sentido”, acrescentou.

    “Dizia-se que o capitalismo seria o fim da História, o sistema último que a humanidade tinha seguido. Não levou muito tempo a ser desmascarado, abrindo assim caminho para essa nova ordem. Por isso, coloca-se hoje a questão de uma alternativa política ao capitalismo”, disse.

    E o fracasso do capitalismo na América Latina é, para Renato Rabelo, “já evidente”, defendendo, a título de exemplo, que o “laboratório do neo-liberalismo” em que aquele sub-continente se transformou nas últimas décadas está já a dar lugar a um outro: “um laboratório para políticas alternativas, tendo o socialismo como pano de fundo”.

    “É nesse sentido que entendo essa tendência de socialização para um sistema económico e social mais avançado, para um melhor progresso social. Isso está a acontecer com muita força no Brasil, Bolívia, Equador, Argentina e, sobretudo, na Venezuela”, disse.

    Sobre o Presidente venezuelano, Hugo Chávez, o líder do PCdoB recusou compará-lo ao líder cubano, Fidel Castro, como “voz da luta pelo socialismo e do combate ao imperialismo” na América Latina.

    “É uma comparação pobre e simplista. As pessoas procuram ter um certo aparato para explicar as coisas e acabam por cair num simplismo muito grande. Chávez, que também compreendeu os anseios do povo, tem o seu lugar no actual momento histórico. Mas não é Fidel, não foi no momento de Fidel”, sustentou.

    “(O antigo Presidente cubano) chegou ao poder através da luta armada e, só depois, organizou o Estado, a grande revolução cubana, um regime progressista, libertário, com grande democracia, com educação e saúde para todos. Num país com poucos recursos é uma grande façanha”, acrescentou.

    Para Renato Rabelo, têm-se agravado nos últimos anos as crises económicas e sociais, fruto da aplicação das políticas neo-liberais, que aprofundaram os impasses das independências e da desigualdade das democracias.

    “A realidade objectiva na América Latina é a de um crescimento de resistência às medidas neo-liberais e a essa política bélica e agressiva dos Estados Unidos. A resistência surge a partir daí. O anseio de liberdade, de democratização e de uma vida melhor é muito forte”, referiu o líder comunista brasileiro.

    “A mudança de políticas e de regimes na América Latina é a expressão disso. É Chavez, é (Evo) Morales (Presidente da Bolívia), e é a família Kirchner, na Argentina, país, aliás, que é emblemático do fracasso do capitalismo, onde se viveu um grande impasse económico”, sustentou.

    “O povo tem de lutar, buscar as suas saídas. A crise leva a isso. A consciência do povo cresce diante das crises. As crises educam, pois põem questões para serem resolvidas. O povo não pode ficar sempre oprimido, dominado. A História sempre evoluiu dessa maneira”, disse.

    Sobre a evolução do seu partido no Brasil, Renato Rabelo afirmou que o PCdoB está em crescendo, sublinhando acreditar que dará saltos nas eleições municipais de Outubro deste ano e, mais significativos, nas gerais de 2010.

    Lembrando que nas últimas eleições para o Senado o PCdoB foi a quinta força política mais votada, com 08 por cento, Renato Rabelo adiantou à Lusa que das 300 candidatos do partido às várias prefeituras (presidências de Câmara), há oito com boas possibilidades de vencer as municipais, casos de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

    “O PCdoB tem oito candidaturas a prefeito de capitais de Estado com possibilidade de vencer e isso é a resposta à dimensão que ganhámos no Brasil. Além disso, temos também cerca de 9.000 candidatos a vereadores. Isso é muito bom”, realçou.
PUB
Regional Ver Mais
Cultura & Social Ver Mais
Açormédia, S.A. | Todos os direitos reservados

Este site utiliza cookies: ao navegar no site está a consentir a sua utilização.
Consulte os termos e condições de utilização e a política de privacidade do site do Açoriano Oriental.