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Romão Braz: “Estamos cá de passagem e a empresa é algo muito maior e mais importante do que qualquer um de nós”


Prestes a completar um quarto de século ao serviço da Finançor, Romão Braz confessa-se orgulhoso das conquistas do grupo ao longo dos anos.

Romão Braz: “Estamos cá de passagem e a empresa é algo muito maior e mais importante do que qualquer um de nós”

Autor: Made in Açores

Como foram os seus primeiros passos como empresário?

Estudei Engenharia e Gestão Industrial no Instituto Superior Técnico e a primeira empresa em que trabalhei foi a Procter & Gamble Portugal, uma multinacional americana da área dos produtos de grande consumo com marcas muito conhecidas como a Pantene, Tide, Ariel e Neoblanc.

Comecei a trabalhar mal terminei o curso, depois de ter feito um estágio e ter sido recrutado ainda no quarto ano. Foi uma experiência ótima. Foram dois anos em que aprendi imenso e que marcaram profundamente o meu percurso profissional.

O que o fez regressar ao Açores?

Quando fui estudar para Lisboa, o meu principal objetivo não era voltar.

Regressei no ano 2000, desafiado pelo meu pai e outro sócio para ajudar a melhorar e modernizar a empresa. Acompanhei-o desde muito miúdo nas suas várias empresas, e o apelo que ele me fez foi o que me motivou a regressar.

No próximo dia 3 de janeiro, irei completar 25 anos a trabalhar neste grupo. Quando comecei, a empresa não tinha a dimensão que tem hoje. Na altura, assumi a posição de diretor comercial, com responsabilidades nas rações, farinhas, bolachas, entre outras e, dada a minha formação, comecei a interessar-me por outras áreas dentro da empresa, como a industrial e a área financeira. Passado um ano e nove meses, passei a ser administrador da Finançor.

Como é que a hotelaria passou a fazer parte da atividade da empresa?

Quando cheguei à Finançor, a empresa tinha uma participação minoritária na Investaçor, que era já detentora de um hotel no Faial e outro na Terceira, mas tinha a ambição de construir um também em São Miguel. 

Foi assim que surgiu o desafio da construção do então Royal Garden Hotel, o meu primeiro grande projeto fora da área industrial. Aliás, esta foi a primeira diversificação que o grupo Finançor fez fora do setor agroalimentar. 

A abertura do hotel, no dia 7 de abril de 2004, foi um momento muito marcante para mim. Começamos, assim, por ter uma posição minoritária no turismo, fizemos um 'rebranding' dos hotéis, em 2016, com a criação da marca Azoris e passamos a deter também maioritariamente esse negócio. 

Nessa altura, o nosso grande foco era consolidar as muitas aquisições que fomos fazendo ao longo do tempo, tanto no sector hoteleiro como no agroalimentar, que são as duas áreas que identificamos como as de maior potencial para os Açores.

Quando é que surgiram os planos de alargar a atividade para a distribuição alimentar?

Foi apenas em 2019, em plena pandemia, quando fomos desafiados a adquirir a Marques Comércio a Retalho - a empresa tinha os hipermercados SolMar e estava praticamente falida. Já a Marques Comércio por Grosso detinha o Recheio Cash & Carry. Foi um processo difícil, diria até o mais difícil até hoje de todas as nossas aquisições. 

Apesar disso, foi muito interessante e permitiu-nos dar um novo salto. Mais importante ainda foi o desafio que se seguiu, do qual muito me orgulho, que foi a recente parceria com o grupo Jerónimo Martins, para poder transformar todos os supermercados em Pingo Doce. 

Iniciamos um grande processo de investimento e foi tudo muito rápido. Em quatro anos, investimos cerca de 45 milhões de euros nas lojas e estamos a prever investir mais 45 milhões nos próximos três anos.


Quais os desafios associados à gestão de uma empresa familiar?

Sempre tivemos sócios e parcerias e a maior parte das pessoas, mesmo em lugar de destaque, não são da família. 

Queremos ter as melhores práticas de gestão possível e, para isso, precisamos dos melhores e dos mais competentes, independentemente de serem da família ou não. Algo de que me orgulho é de termos perto de uma centena de pessoas com formação superior, inclusive dois doutorados. São pessoas com grandes competências, que estão cá por mérito próprio, que cresceram e crescem connosco. 

Damos muita importância aos nossos recursos humanos. Temos uma área dedicada só ao recrutamento liderada por uma uma psicóloga. Queremos ter a melhor relação possível com as nossas pessoas e a capacidade de recrutar os melhores, porque só com eles é que podemos ter o melhor desempenho possível no mercado.

O que é que o move como empresário?

Tenho um enorme orgulho no percurso que temos feito e acordo sempre com muita energia para fazer mais e melhor. Para além da relação próxima da administração com os seus colaboradores, algo que nos distingue é o contínuo investimento. Já o meu pai teve sempre essa visão e eu também a tenho, foi-me passado talvez geneticamente. 

Nunca houve receio de sair da zona de conforto. Isto dito assim parece tudo muito fácil, mas estamos a falar de investimentos de grande risco. Felizmente as coisas têm corrido bem, fruto de muito rigor e dedicação. Tudo o que geramos é para investir no futuro, porque só o investimento garante que as empresas se continuem a modernizar e a ter mais chances de sobreviver a longo prazo e ser melhor que os seus concorrentes. 

Acima de tudo, sinto uma ligação emocional muito forte por esta empresa. É uma paixão. Juntamente com os meus dois filhos, ela está acima de tudo. Isto porque, apesar de ser eu a estar à frente da empresa agora, não sou eu que conto. Ela estava cá antes de mim e vai continuar depois de mim. Temos que ter a humildade de perceber que estamos cá de passagem e a empresa é algo muito maior e mais importante do que qualquer um de nós.

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