Açoriano Oriental
Entrevista
Porque é que interessa "O Regresso da América"
Em “vésperas” de eleições presidenciais americanas, Viriato Soromenho-Marques lança o livro onde analisa, entre outras, esta questão. E também a importância dos Açores nas relações transatlânticas, que desvenda numa entrevista em que “abriu” algumas das páginas
Porque é que interessa "O Regresso da América"

Autor: Olímpia Granada
Este é um livro oportuno?
Considero que é oportuno! (...) E quais as perguntas que eu procurei responder neste livro? Primeiro, os Estados Unidos da América (EUA)continuam, ou não, a ser um país decisivo na cena internacional? (a minha resposta é sim) e, segunda pergunta, quais são  as condições e os desafios onde “vamos” testar os EUA? (partindo do princípio   que eu defendo de que o que tivemos durante a administração Bush não foi a afirmação da América mas foi o abandono da América). Isto é, foi uma prática política internacional em que quer a comunidade internacional quer os próprios cidadãos americanos tiveram dificuldade em reconhecer o seu país. (...)
No seu livro estabelece como marcos o período em que  Al Gore perdeu as eleições  presidenciais, o período que explanou e, agora, um outro iniciado com as primárias...
(...) Há um aspecto que a posteriori ainda é mais dramático: a personalidade dos dois candidatos. Ou seja, de um lado tínhamos Al Gore que se tivesse sido eleito seria, sem dúvida, um presidente diferente – isso todos nós o percebemos –, e não apenas nas questões ambientais (teria compreendido a importância decisiva das questões ambientais como a grande política do nosso tempo). (...) Mas eu penso que a vitória de Bush foi uma vitória justa, não é essa a questão. (...) Até agora, as primárias foram uma surpresa para toda a gente; não apenas pelo facto de termos pela primeira vez um afro-americano com enormes possibilidades de ser eleito, Barack Obama, por termos tido uma mulher poderosa (...) mas também pela explosão de participação democrática  que é extraordinária. Dez por cento dos eleitores americanos já participaram.(...)
No livro, faz várias referências aos Açores...
Curiosamente, e eu falo nisso no livro, a primeira pessoa que produziu uma visão estruturada do papel estratégico dos Açores foi Andrade Corvo, um ministro do tempo da Monarquia que em 1870 escreveu uma obra chamada “Perigos” e que em plena Guerra franco-prussiana fez um ensaio (reeditado pela Editora Esfera do Caos com um ensaio do professor Adriano Moreira) dizendo: ‘...  tenho a triste percepção de que os estados europeus vão digladiar-se violentamente e que um dia os EUA vão ser obrigados a intervir na Europa!” Absolutamente profético. Em 1870 os EUA tinham saído de uma Guerra Civil e um político português previu aquilo que iria acontecer em 14-18 e depois em 39-45. E não fica por aqui, ele disse também: “Bom, para intervir na Europa ‘eles’ vão precisar de um ponto de apoio e esse ponto de apoio vão ser os Açores!” 
O papel dos Açores nas relações transatlânticas ainda é importante?
É fundamental. Em Abril deste ano, comprei uma revista chamada “American Interest ” (de estratégia) e a última página tinha um mapa a cores  que se designava “a nossa visão do mundo”, a visão americana e, por incrível que pareça a algumas pessoas, países como a Alemanha não apareciam por si próprios, mas Portugal aparecia (...) com os pontinhos representando (...) os Açores (...). Quer do ponto de vista político, quer do ponto de vista militar, quer do ponto de vista cultural e até, digamos, afectivo, os Açores são uma parte importantíssima daquilo que para os americanos é a realidade portuguesa. Acho muito importante para nós portugueses, como parte da nossa auto-percepção, compreendermos o valor que têm as regiões atlânticas, em particular os Açores. Às vezes, ouvimos pessoas dizer que a regionalização é um processo dispendioso e que manter um sistema político autónomo, manter estruturas diversificadas nas nove ilhas, etc., custa muitos recursos, e a minha pergunta é: que recursos é que teria custado a Portugal se, por exemplo, a realidade dos Açores não fosse a que é? Há um custo político que é preciso não ignorar e  penso que os açorianos devem reivindicar, digamos assim, o papel que os Açores têm historicamente na relação com os EUA, para se afirmarem também.
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