Açoriano Oriental
Mostra "Divino em Festa: o culto do Espírito Santo"
Peças particulares, reproduções de fotografias, livros e exposição fotográfica de José Guedes da Silva, compõem a mostra alusiva ao culto do Espírito Santo, patente até 29 de Setembro na BibliotecaPública e Arquivo Regional de Ponta Delgada
Mostra "Divino em Festa: o culto do Espírito Santo"

Autor: Tânia Silva
Reproduções de fotografias antigas do espólio Coronel Afonso de Chaves, exposição de fotografia sobre o culto do Espírito Santo, de José Guedes da Silva, diversas peças cedidas por particulares e pelo Museu Carlos Machado e livros do fundo bibliográfico da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada (BPARPD), são alguns dos elementos que fazem parte da exposição “O Divino em Festa: o culto do Espírito Santo”.
A mostra, feita em parceira com a Direcção Regional da Cultura, foi inaugurada no passado dia 27 de Junho na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada e estará patente ao público até dia 29 de Setembro.
A sessão de abertura contou com a actuação de foliões, distribuição de massa sovada e um bodo típico das Festas do Espírito Santo.
A exposição alusiva ao culto do Espírito Santo está dividida em dois espaços distintos mas que se complementam: um espaço criado pela BPARPD, onde estão expostos vários elementos relacionados com a temática do Espírito Santo; e outro onde estão expostas as fotografias, a preto-e-branco, do terceirense José Guedes da Silva, captadas na ilha Terceira entre 1995 e 1996.
As técnicas da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, Cristina Macedo, Margarida Oliveira e Catarina Pereira são a responsáveis pela elaboração do evento. Segundo Catarina Pereira, técnica superior de Biblioteca e Documentação, o objectivo desta exposição é “não só promover o livro e a leitura, mas também enriquecer iconograficamente a exposição, através da mostra de fotografias e de outros objectos ligados à temática do Espírito Santo.”
Por seu turno a técnica superior de Biblioteca e Documentação, Margarida Oliveira, explica que o estudo da base bibliográfica existente na BPARPD sobre o culto do Espírito Santo foi o ponto de partida para a concepção da exposição. Alega ainda que, a nível bibliográfico, se pretendeu “abarcar vários aspectos da religiosidade do Espírito Santo nos Açores, mas também aspectos do culto nas comunidades emigrantes, por exemplo nos Estados Unidos da América e no Brasil.”
Depois da pesquisa bibliográfica, a “preocupação da exposição é ser didáctica, explorando um pouco da história e do culto do Espírito Santo”, declara Margarida Oliveira.
Esclarece também que a presença de alguns registos fotográficos, como os de Álvaro Saraiva e de José Guedes da Silva, “são muito importantes para a compreensão e para a aprendizagem dos próprios textos.”
Por outras palavras, a mostra “O Divino em Festa: o culto do Espírito Santo” pretende “fazer com que as pessoas, ao percorrerem a exposição em alguns minutos, possam perceber um pouco desta tradição e ficar por dentro da história do Divino Espírito Santo.
Daí o cuidado na escolha dos textos expostos, de forma a fornecer uma vertente didáctica, informativa e pedagógica da tradição do Espírito Santo”, explica Catarina Pereira.

“O entusiasmo, a alegria e a devoção demonstram a vivacidade desta fé no Espírito Santo”

Porque é que a Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada decidiu fazer uma exposição deste cariz e voltada para a temática do Espírito Santo?
Cristina Macedo:
Desde há muitos anos que o povo açoriano tem uma relação muito forte com a tradição do Divino Espírito Santo. É algo que vem desde muito cedo, uma vez que os Açores, em tempos, eram muito assolados por terramotos e intempéries e por isso o povo açoriano criou uma grande devoção em torno do Espírito Santo.
Por ser uma tradição forte e por ser diferente, variando de ilha para ilha, achámos que era a altura ideal para se darem a conhecer algumas coisas que as pessoas desconhecem.
Portanto, na exposição tentamos esclarecer e explicar às pessoas o porquê dessa religiosidade e dessa fé em torno do Divino Espírito Santo e, dentro desse conceito, decidimos abordar essa temática.
Como tem sido a reacção das pessoas a esta exposição? Nota-se alguma proximidade delas em relação ao tema em questão?
Tem havido uma afluência grande a esta exposição e com um público bastante variado, desde os mais pequenos, que vêm com os pais, até aos mais idosos.
Acho que esta é das exposições que mais moveu as pessoas, porque é algo que aborda as nossas tradições e que está intimamente ligado a todas as pessoas. Quer elas acreditem ou não, as Festas do Divino Espírito Santo são algo que, nem que seja de passagem, está sempre presente na vida de quem aqui reside.
No entanto, é de realçar que é muito gratificante ver que os nossos emigrantes, que estão de momento cá na ilha a passar férias, também visitam a exposição. É gratificante ver este tipo de pessoas, para quem o culto do Espírito Santo significa muito.
Acha que actualmente o culto do Espírito Santo continua vivo como noutros tempos?
Depois da produção desta exposição reparámos que hoje em dia o culto do Espírito Santo está tão vivo como noutro tempos. Isto nota-se pelo envolvimento das pessoas nas actividades, como foi o caso da inauguração.
O entusiasmo, a alegria e a devoção que as pessoas demonstram a tudo o que diz respeito ao Espírito Santo demonstra perfeitamente a vivacidade desta fé.
Por isso, se no início havia alguma dúvida de que o culto estava apagado ou adormecido, essa dúvida tem sido completamente dissipada, principalmente em relação às freguesias fora de Ponta Delgada.
Sendo a Festa do Espírito Santo marcada pela vivacidade e pela cor, porque razão decidiu fotografar a preto-e-branco?
José Guedes da Silva -
Para além de o ter feito por gosto pessoal, a escolha da fotografia a preto-e-branco é uma forma mais objectiva e mais directa de se focar melhor um assunto.
Na minha perspectiva, por vezes a cor desconcentra a atenção das pessoas daquilo que é o essencial.
O objectivo foi, portanto, concentrar-me naquilo que interessava e não nas cores, porque há determinados detalhes nas minhas fotografias que não teriam tido o mesmo efeito nas pessoas se fosse numa fotografia a cores.
Porque decidiu fotografar as Festas do Espírito Santo?
Este trabalho foi feito durante oito anos e debruçou-se sobre as Festas do Divino Espírito Santo, porque esta é uma festividade que tem muito mais do que parece, pois há ali algo que é preciso estar por dentro para conhecer bem a história. Eu vi-me aflito para contar aquela história, porque eu não sou um “actor”, ou seja, eu não conheço a história tão bem como quem conhece aquela manifestação.
É preciso ter em conta que aquele pequeno rectângulo bidimensional não representa tudo, mas apenas um pormenor dessa manifestação, que são as Festas do Espírito Santo.
Tendo em conta que as fotografias não podem representar a totalidade de um acontecimento, quando fotografa o que procura realçar nos seus trabalhos?
Tento aproximar-me muito, não só daquilo que é físico e palpável, como o pão a carne, etc, mas também daquilo que é espiritual.
Há aspectos que me são imediatamente queridos, depois há também uma questão estética.
Isto depende da “leitura” que cada fotógrafo faz e espero que a minha interpretação sobre esta manifestação, tão fundamental, tão importante e única como é o Divino Espírito Santo, tenha sido bem-sucedida.
Para mim, isto acontece quando a exposição se torna interactiva com o público, ou seja, quando há uma espécie de familiarização das pessoas com aquilo que está representado nas fotos.
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