Açoriano Oriental
Ambiente
Lobo Ibérico é "bode expiatório" para declínio do pastoreio
A população de lobos existente na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês continua a sofrer uma elevada mortalidade provocada pelo homem, surgindo como “bode expiatório” para muitos problemas associados ao declínio do pastoreio de cabras e ovelhas.
Lobo Ibérico é "bode expiatório" para declínio do pastoreio

Autor: Lusa/AO online
A denúncia é feita por Francisco Álvares, um dos maiores especialistas nacionais em lobo ibérico e investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO).

    Francisco Álvares é o coordenador científico do Projecto de Investigação e Conservação do Lobo no Noroeste de Portugal, que, entre outros objectivos, pretende criar condições que permitam melhorar as relações entre os homens e os lobos.

    O projecto, financiado pela empresa de energias renováveis Vento Minho, inclui uma vertente de monitorização do impacto dos parques eólicos na actividade dos lobos e outra de investigação e conservação que recorrer a telemetria GPS para seguir animais, possuindo ainda uma componente muito forte de genética populacional.

    “Os primeiros resultados obtidos neste projecto permitem verificar que poderá vir a ser um sucesso”, afirmou, confiante que o projecto permitirá “a obtenção de informação crucial para reduzir o conflito entre os habitantes locais e o lobo e promover a sua coexistência pacífica”.

    Estes objectivos são cada vez mais urgentes, já que, segundo o biólogo, as alcateias existentes na área do PNPG, apesar de estarem num parque nacional e do lobo se encontrar protegido por lei, continuam a sofrer “uma elevada mortalidade por causas ilegais, como tiro, laços e veneno”.

    Para Francisco Álvares, a melhoria do relacionamento entre os homens e os lobos implica o esclarecimento de algumas ideias, como a que considera os lobos a única ameaça às raças autóctones e lhes atribui a responsabilidade total pelo abandono do modo de vida pastoril.

    “Isto não é verdade. Basta recordar que há décadas atrás não havia subsídios nem indemnizações e, apesar de haver muito mais lobos que atacavam frequentemente o gado, o pastoreio de raças autóctones constituía a principal fonte de sustento das gentes da serra”, frisou.

    Para o investigador, “a realidade é que o pastoreio de ovelhas e cabras é uma tarefa que envolve um grande esforço e dedicação e, consequentemente, uma menor rentabilidade económica, facto que actualmente pouca gente está disposta a suportar”.

    “Por isso se acusa o lobo, como desculpa e bode expiatório”, afirmou Francisco Álvares.

    Como consequência da pressão humana sobre o seu habitat natural, as populações de lobos têm vindo a sofrer uma acentuada regressão nas últimas décadas, encontrando-se esta espécie actualmente limitada às zonas montanhosas mas recônditas do norte e centro do país.

    O último grande predador da fauna portuguesa é uma espécie considerada ‘em perigo’ há mais de uma década, estando protegido por legislação específica.

    O mais recente Censo Nacional do Lobo, realizado em 2002 e 2003, revelou a existência de 65 alcateias no país, num total estimado de cerca de três centenas de lobos.
PUB
Regional Ver Mais
Cultura & Social Ver Mais
Açormédia, S.A. | Todos os direitos reservados

Este site utiliza cookies: ao navegar no site está a consentir a sua utilização.
Consulte os termos e condições de utilização e a política de privacidade do site do Açoriano Oriental.