Autor: Rafael Dutra
O Governo Regional dos Açores, através da Direção Regional dos Recursos Florestais e do Ordenamento Territorial, tem utilizado drones, desde 2016, para inúmeros usos, como a conservação do ambiente através da monitorização das florestas, mas também da produção de cartografia.
Em entrevista ao Açoriano Oriental, o diretor regional dos Recursos Florestais e do Ordenamento Territorial recorda que as operações com “Sistemas de Aeronaves Não Tripuladas, UAS, vulgarmente denominados drones”, foram iniciadas no início de 2016, com a aquisição de um drone de asa fixa e de um quadricóptero.
“Nessa altura fomos a primeira entidade pública a nível nacional a produzir ortofotomapas em grande escala, com conhecimento adquirido maioritariamente de forma autodidata, embora com algumas formações técnicas”, constatou Nuno Sousa, adiantando que atualmente a direção regional tem em operação uma dezena de drones, dos quais quatro de asa fixa e seis quadricópteros, distribuídos por várias ilhas.
Relativamente ao investimento feito, ao longo dos anos, na aquisição destes equipamentos, o diretor regional indica que estas aquisições, feitas através de candidaturas a apoios comunitários, a nível do valor global de autofinanciamento da região e do IVA, já totalizaram um investimento de 73 mil euros.
“Atendendo a que já voamos mais de 97.000 hectares em várias ilhas, foi um bom investimento, pois permite-nos ser autónomos na produção de cartografia”, sublinhou.
Sobre as diferentes finalidades da utilização dos drones, Nuno Sousa diz que as mesmas englobam a monitorização das florestas, a avaliação, acompanhamento e controlo da execução das medidas de apoio florestal do PRORURAL+, a fiscalização de cortes de arvoredo, a elaboração e acompanhamento de Planos de Gestão Florestal, a gestão da rede viária florestal e rural, e à avaliação das matas públicas que têm sido colocadas em concursos para venda da madeira, em que o número de árvores é sempre aferido previamente com imagens atualizadas produzidas pela Direção Regional dos Recursos Florestais e do Ordenamento Territorial.
Não obstante, existem ainda mais variedade de uso destes equipamentos, uma vez que também servem para “a atualização do Inventário Florestal Regional, o qual consiste numa primeira fase na produção de cartografia com a delimitação dos usos do solo, como por exemplo, agricultura, pastagem, mato, urbano, ou floresta, e das suas ocupações, nomeadamente quais as espécies florestais presentes”, realça o diretor regional dos Recursos Florestais e do Ordenamento Territorial.
E acrescenta: “Como a cartografia disponível para fotointerpretação em ambiente de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) encontrava-se desatualizada, no ano de 2019 através de um projeto adquirimos quatro drones de asa fixa para produção de ortofotomapas”.
Se isso não fosse suficiente, há ainda mais benefícios para o uso desse tipo de drones, sendo que recentemente esta direção regional focou os seus recursos “no aprofundamento do conhecimento técnico para a utilização de um drone com sensor LiDAR (Light Detection And Ranging), que é um sistema de varredura a laser, utilizada globalmente no âmbito da geodesia, arqueologia, geografia, geologia, geomorfologia, sismologia, engenharia florestal, oceanografia costeira, deteção remota e física da atmosfera”, explica Nuno Sousa.
Nesse sentido, a Direção Regional dos Recursos Florestais e do Ordenamento Territorial adquiriu esse drone com sensor LiDAR através do Projeto LIFE19 IPC/PT/000004 – LIFE IP CLIMAZ.
O equipamento inclusivamente foi utilizado na semana passada na ilha Terceira no âmbito desse mesmo projeto para a “realização de levantamentos nas áreas que permitirão calcular os acréscimos de biomassa por forma a quantificar o stock de carbono das diferentes tipologias estruturais da floresta”, prossegue o diretor regional.
Inquirido sobre a eficiência e eficácia destes drones, face a métodos mais tradicionais, o diretor regional dos Recursos Florestais e do Ordenamento Territorial assinala que, no caso concreto da cartografia, uma das mais condicionantes relacionadas prende-se com “a rápida desatualização de elementos de base (fotografia aéreas, ortofotoimagens, etc.), face às dinâmicas que se verificam ao nível das alterações de uso do solo”.
Por este motivo, continua, a produção desta cartografia “pelos métodos tradicionais, como por exemplo, a aquisição de novas coberturas aerofotográficas, revela-se extremamente onerosa na região, por ser necessário deslocar meios (aeronaves, tripulações, etc.)”.
“Obviamente que a produção de cartografia com drones será mais demorada que a cobertura aérea com um avião, mas certamente menos onerosa e versátil”, defende Nuno Sousa.
De acordo com o diretor regional, os levantamentos perimetrais de áreas de grandes dimensões pelos métodos tradicionais, com equipamentos de geolocalização GNSS (GPS), podem ser facilmente substituídos por um drone com sistema RTK, que permite erros de precisão abaixo de dez centímetros.
“Desta forma, um trabalho que demoraria dias pode ser feito em algumas horas e com menor risco para o operador, pois é evitada a caminhada em terrenos acidentados”, frisa.
No que concerne ao papel dos drones para com a conservação ambiental, Nuno Sousa destaca que estes equipamentos “são hoje uma ferramenta indissociável da gestão dos recursos naturais e da floresta”.
“Estamos bastante empenhados em promover esse conhecimento técnico por todos os Serviços Florestais e de Ordenamento Territorial de ilha, pois garantem-nos o acesso a áreas inacessíveis, quer para fiscalização, quer para monitorização dos recursos florestais”, afirmou, referindo que estes equipamentos têm sido “muito utilizados para a deteção de danos causados por agentes abióticos, nomeadamente pelo vento e por deslizamentos de terras”.
O próximo passo, considera o diretor regional, será a utilização dos drones para a promoção do controlo de espécies invasoras nas áreas públicas geridas pelos Serviços Florestais.
Questionado se os drones são usados para plantio, Nuno Sousa revela que não os utilizam para efetuar sementeiras, uma vez que “a competição com espécies invasoras é de tal ordem que não seria viável promover a sementeira com drone na maioria das nossas condições, pois as invasoras ensombrariam rapidamente as jovens plantas”, sustenta.