Autor: Lusa/AOonline
O coordenador do Departamento de Saúde Ambiental do Instituto de Saúde Pública Ricardo Jorge, António Tavares, indicou que doenças como constipações, gripes, problemas cardiovasculares e respiratórios tendem a diminuir com o aquecimento global e a surgir em períodos de tempo muito limitados, durante as ondas de frio.
Em vésperas do Dia Mundial da Saúde, este ano subordinado ao debate das alterações climáticas e dos seus efeitos na Saúde, o especialista defendeu que as alergias características das alterações de estações do ano também tendem a esbater-se com o "alargamento do período do Verão".
"A Primavera e o Outono vão passar a ser mais curtos, mas ainda não há estudos sobre os seus efeitos", acrescentou à Lusa.
É conhecida, porém, a evidência de que se "morre mais de frio", uma vez que o organismo humano tem mais dificuldades em lidar com temperaturas baixas por ter 10 vezes mais receptores orgânicos a esse nível.
"Durante uma onda de calor, se um indivíduo passar duas horas num espaço fresco, como uma igreja ou centro comercial, suportará bem as altas temperaturas ao longo do resto do dia, mas o mesmo não é verdade para o frio", salientou.
Para manter a temperatura média de 37 graus quando está calor a defesa do corpo passa pelo suor. Em situações de frio, de forma reflexa e autónoma, registam-se calafrios, que podem aumentar até 500 vezes a velocidade do metabolismo, contracção dos vasos sanguíneos e 'pele de galinha'.
A elevação dos pelos permite que o ar exterior aquecido pela proximidade da pele humana aí permaneça por mais tempo. "Por isso é que o corpo se ressente mais quando há frio e vento porque o vento 'varre' essa camada de ar mais quente", explicou.
O lema "a protecção da Saúde dos efeitos das alterações climáticas" foi escolhido pela Organização Mundial da Saúde para o Dia Mundial da Saúde para "alertar os poderes políticos", considerou António Tavares, referindo ainda a importância das atitudes individuais na diminuição da redução de emissões do dióxido de carbono.
"As autoridades têm de intervir para proteger os cidadãos. Para além dos planos de contingência para responder a fenómenos meteorológicos extremos, a nível local terá de haver uma articulação com autarquias e serviços sociais para proteger as pessoas mais vulneráveis", argumentou o especialista, recordando a necessidade de acompanhar os mais idosos, que muitas vezes estão sozinhos em casa.
"Tem de existir um sistema montado para identificar as pessoas mais vulneráveis e equipas para lhes dar apoio, porque um copo de água pode ser a diferença entre a vida e a morte numa onda de calor", disse.
Em 2003 registaram-se mais duas mil mortes do que o esperado devido às ondas de calor, enquanto há dois anos esse número foi de 1.400.
A subida de temperatura também terá efeitos ao nível do aparecimento de doenças fora dos seus locais habituais, como o dengue e a febre amarela.
Esperam-se ainda efeitos indirectos na Saúde, já que agricultura e pecuária ficarão afectadas. "Nos países nórdicos haverá mais culturas agrícolas devido ao clima que se tornará mais ameno, mas em Portugal irá agravar-se o problema da seca", observou.
Actualmente, o impacto de mais um grau na temperatura da água do rio Tejo nota-se ao nível da alteração das espécies, nomeadamente com o aparecimento mais habitual do sargo do Senegal.