Açoriano Oriental
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Leite de Burra açoriano exportado para consumo humano e produtos de cosmética

Asinus Atlânticus: uma empresa que nasce de um acaso e que produz mais de 100 litros de leite de burra por dia para os Estados Unidos, Roménia, República Checa e França.



Autor: Made in Açores

Desengane-se quem acha que pelos pastos verdejantes dos Açores só as vacas são felizes. Os burros também. Especialmente quando se trata de uma rara comunidade de mais de 100 espécimes, como é o caso da família Asinus Atlânticus onde a preservação da raça autóctone dos Açores Asininus (burro anão da Graciosa) é uma prioridade. Os nomes são escolhidos pelos seguidores das redes sociais sempre que nasce mais um membro da família.


A rara comunidade de uma espécie cada vez menos abundante pelos Açores nasceu de um acaso, explica Marcos Couto, CEO da marca já internacionalizada: “Compramos um burro e uma carroça para os meus filhos. Mais tarde a minha mulher viu um programa sobre leite de burra e achou interessante. Fez um comentário comigo sobre o negócio que, confesso, desvalorizei. Na altura treinava o Clube juvenil Boa Viagem, quando voltei de uma deslocação ela já tinha comprado duas burras. Daí para a frente já não parámos”, refere o empresário que recorda as dificuldades de arrancar com um negócio tão desconhecido: “Quando começámos não tínhamos nada. Nem animais nem terra e o nosso conhecimento do processo, quer de extração quer de transformação ou venda, era nulo. Foi fazer tudo do zero tendo por base a melhor, mas mais difícil e mais cara, forma de aprender: tentativa e erro. Aconteceu-nos de tudo, desde animais inférteis, até um incêndio na unidade de secagem. Um processo muito duro e difícil. Hoje posso dizer que somos, se não a melhor, uma das melhores empresas de produção de leite de burra do mundo em que controlamos toda a cadeia de valor, desde a produção até à venda, direcionada ao marcado B2B. Não estamos interessados no B2C -B2B é um modelo de negócio em que o cliente final é uma outra empresa e não uma pessoa física (B2C)”.


Marcos Couto acrescenta que o próprio laboratório de secagem quadruplicou o tamanho e hoje têm mais de uma centena de animais. Um crescimento de mãos dadas com a ciência e “através de parcerias com a Universidade dos Açores e os professores Duarte Toubarro e Graça Silveira, tal como com a Universidade do Minho. Sempre entendemos que sem ciência não é possível consolidar um negócio e muito menos um com estas características, isto é: que depende de animais”, refere.


O produto exportado “é um leite em pó obtido através de Liofilização. A liofilização consiste num processo de secagem a frio. Todos estamos acostumados a ver a grandes torres de secagem de leite que permitem secar através de spray-dry ou seja calor. Na realidade esta tecnologia destrói na totalidade as células “rompendo-as” com o calor para deixar sair a água que se evapora. De uma forma genérica é esse o processo. O que temos no final desse processo é uma matéria totalmente morta. A liofilização é o inverso, um processo de secagem a frio (por sublimação) em que no final obtemos um produto que, uma vez reconstituído, é 100% igual ao que tínhamos na burra. É uma tecnologia de ponta usada na indústria farmacêutica para conservarem, entre outras coisas, bactérias e que usamos na nossa produção de forma a garantir que não exportamos água (um custo desnecessário) e obtemos um leite com a plenitude das suas características únicas”, acrescenta.


A procura pelo produto acontece devido à sua semelhança com o leite materno. “É o mais semelhante que existe em natureza ao leite materno, com um perfil proteico quase 100% idêntico. Isso dá-lhe características únicas, não só ao nível da alimentação, mas também ao nível da cosmética. Da alimentação é um leite hipoalergénico, sendo que os seus benefícios para o sistema respiratório são amplamente conhecidos. As pessoas de mais idade todas se recordam de que era com leite de burra que se tratava a tosse convulsa. Após o Covid o consumo disparou, principalmente nos mercados no norte da Europa. Na idade média, ao lado dos orfanatos, existiam sempre grandes asinerias que permitiam alimentar os recém-nascidos que eram deixados nas rodas. É essa cultura que estamos a recuperar com um grande estudo nacional que iremos começar no próximo ano. Quanto à cosmética, basta falar de Cleópatra e o seu banho de beleza diário no leite resultante da ordenha de 100 burras. De facto, o leite de burra estimula a produção do colagénio da pele e era esse o segredo, empírico de Cleópatra, que atualmente a indústria cosmética recuperou”, diz o empresário que lamenta todas as contingências da insularidade na exportação do produto. “A distância é um fator que tem enormes custos, não só no fazer chegar o produto aos clientes como no contacto com os mesmos. São tudo custos extra que não vão devidamente apoiados. Uma verdadeira política de exportação tem de ter por base esta realidade. Os meus principais concorrentes estão em Itália. 


Para eles, ir a França, à Roménia ou República Checa custa uma viagem de carro ou um bilhete de avião. Eu tenho que ir a Lisboa ou Porto ficar quase sempre uma noite num destes locais e depois apanhar um avião para visitar o meu cliente. Um custo brutal. Se transportar este princípio para a exportação do leite entende a dimensão do problema que os Açores enfrentam”, diz o também presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo garantindo que a melhor forma de vender um produto é “Porta a Porta”: “Entendo a importância das feiras e dos contactos que se estabelecem, mas para a nossa dimensão (Açores) a única forma de exportar e de nos internacionalizarmos é através do modelo mais tradicional que é o “porta a porta”. Assim fiz. Foram muitos dias, muitos milhares de kms, a correr possíveis compradores a apresentar o produto tentando demonstrar a nossa qualidade única, toda assente na demonstração científica, comparando as características do nosso leite com a bibliografia existente”, diz Marcos Couto.


A Asinus Atlanticus exporta para os EUA, Roménia e República Checa com a finalidade de consumo humano. “Nos USA estamos envolvidos em estudos com crianças com doenças auto-imunes e com resultados absolutamente surpreendentes”, diz.

Para a França o leite de burra exportado destina-se sobretudo à indústria da cosmética.

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