Autor: Lusa/AO Online
Numa reunião de alto nível em que se assinalou o 30.º aniversário da Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, Guterres avaliou que o progresso idealizado em Pequim há 30 anos tem sido lento e desigual, frisando que "nenhuma nação” alcançou a igualdade plena para as mulheres e raparigas.
O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número cinco, que diz respeito à igualdade de género, "está muito atrasado" e, enquanto isso, "multiplicam-se os conflitos e os desastres climáticos", sendo que os "direitos humanos das mulheres e das meninas são vítimas de ambos", afirmou Guterres.
"Barreiras culturais e estruturais permanecem enraizadas. A tecnologia está a espalhar ódio como um vírus. E uma onda de misoginia está a espalhar-se pelo mundo. Sejamos claros: a igualdade de direitos e de oportunidades não é uma questão partidária. São imperativos globais e a base da paz, da prosperidade e do progresso", defendeu o líder da ONU.
O antigo primeiro-ministro português salientou que em cada região, em cada país e em cada comunidade, mulheres e raparigas lutam pelos seus direitos e exigem liberdades, combatem práticas abusivas, mobilizam-se por proteções legais e organizam-se para ocupar o seu lugar de direito à mesa nas decisões e nos processos de paz.
"As Nações Unidas apoiam estes esforços. Todos os líderes devem fazer o mesmo", instou, deixando claro "que a tradição não pode desculpar a opressão".
O secretário-geral indicou que, no início deste ano, os Estados-membros deram um importante passo em relação a este assunto, com a adoção de uma nova declaração política em que se comprometeram a implementar a Declaração e a Plataforma de Ação de Pequim – "de forma rápida e integral".
"Todos os países devem assumir esta responsabilidade. Precisamos de um apoio forte e visível aos mais altos níveis – e de planos concretos, suportados por investimentos reais", apelou.
No universo das Nações Unidas, Guterres disse que a organização conseguiu alcançar e manter a paridade de género entre altas lideranças.
"Continuaremos a trabalhar para alcançar a paridade de género em toda a organização", assegurou.
Contudo, apesar desses esforços, nunca a ONU foi liderada por uma mulher.
No final do próximo ano, António Guterres terminará o seu segundo mandato e será eleito um novo secretário-geral da ONU, havendo uma forte pressão para que o cargo seja ocupado por uma mulher, o que seria a primeira vez em 80 anos de organização.
Contudo, a possibilidade da substituição de Guterres por uma mulher parece estar a perder força, visto que a América Latina — a região que, segundo um forte consenso, deverá apresentar um candidato à sucessão — não conseguiu chegar a um acordo sobre um nome, sendo que vários estão a ser considerados sem apoio suficiente.
"Há 30 anos, a Declaração de Pequim declarou os direitos das mulheres como direitos humanos. Hoje, nesta sala, precisamos de ouvir como vão tornar estas ambições realidade", disse Guterres, dirigindo-se aos líderes presentes no evento, celebrado durante a Semana de Alto Nível da 80.ª Assembleia-Geral da ONU.
"Deixem-nos ouvir os vossos compromissos. Deixem-nos ver os vossos planos. Deixem-nos alcançar a igualdade para as mulheres e raparigas de que o nosso mundo tanto necessita", concluiu.
A reunião de hoje refletirá sobre o progresso alcançado desde a histórica conferência de 1995 em Pequim e destacará conquistas, melhores práticas, lacunas e desafios contínuos no avanço da igualdade de género em todo o mundo.